Terça-feira da XIII Semana
Comum
02 de Julho de 2013
Texto de leitura: Mt
8, 23-27
Naquele tempo, 23 Jesus entrou na barca,
e seus discípulos o acompanharam. 24 E eis que houve uma
grande tempestade no mar, de modo que a barca estava sendo coberta pelas ondas.
Jesus, porém, dormia. 25 Os discípulos aproximaram-se e o acordaram, dizendo:
“Senhor, salva-nos, pois estamos perecendo!” 26 Jesus respondeu: “Por
que tendes tanto medo, homens fracos na fé?” Então, levantando-se, ameaçou os
ventos e o mar, e fez-se uma grande calmaria. 27 Os homens ficaram
admirados e diziam: “Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe
obedecem?”
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Para entender o relato do evangelho
de hoje com seus detalhes nós precisamos ter na mente alguns textos do AT que
servem como o pano de fundo. Controle sobre o mar e o ato de acalmar tempestade
são sinais característicos do poder divino (Jô 7,12; Salmo 73(74),13;
88(89),8-10; 92(93),3-4; Is 51,9-10). Acalmar uma tempestade no mar é a maior
prova da atenção ou do cuidado amoroso de Deus (Salmo 106(107),23-32). É digno
de notar também que dormir em paz e sem preocupar-se com nenhum problema é um
sinal da perfeita confiança em Deus (cf. Pr 3,23-24;Sl 3,6;4,9; Jô 11,18-19).
Na literatura antiga a barca é
imagem da comunidade. Jesus convida os discípulos a irem a “outro lado do mar”.
“Do outro lado” estão os pagãos, ou o território não- judeu. Jesus convida os
discípulos para esse território para que lá possam semear também entre os pagãos
a Boa Notícia do Reino. Atravessar, ou “ir para outro lado”, então, significa
sair de si mesmo, pensar nos outros e não ficar apenas no nosso lado.
Precisamos ir a “outro lado”. Precisamos estar no lugar do outro para saber e
compreender a vida do outro. Quem sabe no “outro lado” em vez de evangelizarmos
os outros, seremos muita mais evangelizados do que eles. Travessia é muitas
vezes sinônimo de abertura ao novo e diferente.
Mas para que possamos atravessar
para “outro lado”, precisamos vencer o “mar” de nossa vida. Andar seria
impossível. Afundaríamos. Precisamos de algum meio. E o meio para chegar no
“outro lado” para superar o “mar” é “barco”. Quem sabe um dos barcos
mencionados neste texto que sumiram do relato é o nosso barco que ainda não foi
usado para levar Jesus.
Fala-se de uma violenta tempestade
que agita o mar, a ponto de as ondas caírem dentro do barco. Para o povo da
Bíblia, o mar agitado é a imagem da revolta dos povos inimigos que gera caos
primitivo (cf. Sl 46,3-4.7; 65,8; 93,3-4). Além disto, tempestade é imagem de
incerteza e de sentimento de derrota, daí se eleva a Deus o grito do povo (cf.
Sl 18,16-20;69,2-5.15-16). E somente Deus pode dominar o mar e seu tumulto (Jô
38,7.11). Enquanto isso, Jesus parece estar ausente, dorme e parece estar
completamente alheio à tragédia. O sono tranqüilo de Jesus simboliza uma
confiança total em Deus como foi explicado nos textos do AT acima mencionados.
“Jesus entrou na barca e os
discípulos O seguiram”. Assim Mateus relatou o episodio do evangelho
deste dia. A palavra “seguir” aqui é um termo chave que tem função de ligar
este episódio com o episódio anterior sobre o seguimento radical (cf. Mt 8,
18-22). Seguir Jesus supõe riscos e renúncias. É por isso que Mt, logo depois
da exortação sobre o seguimento radical (episódio anterior), fala da tempestade
no meio do lago balançando o barco onde se encontram Jesus e seus discípulos.
As tempestades do Lago de Galiléia
têm fama por ser súbitas e muito violentas. E Jesus dormia no meio dessa
perigosa tempestade (em grego se usa a palavra “sismo” semelhante ao terremoto,
movimento interno violento). Deus dorme! Deus parece ficar calado! Por que não
se manifesta? Por que o Senhor não intervém na minha vida?
“Por que tendes tanto medo, homens
fracos na fé?”, responde Jesus diante de nossos gritos. É o núcleo deste
relato: “Homens de pouca fé”. Jesus apela para a fé. Jesus se estranha. E Jesus
dá confiança: “Não tenhais medo!”. Para seguir Jesus a fé é condição essencial.
As exigências, as renuncias fazem parte da perspectiva de fé. Quanto mais
humanamente desesperadora e sem saída for a situação, mais a fé será
necessária.
Jesus nos chama a termos fé. Há
situações extremas para as quais todo apoio humano perde sua força. Nessas
situações somente a fé em Deus é capaz de manter alguém em pé diante dessas
situações. Para ficarmos em pé diante das situações extremas, é preciso
mantermo-nos de joelhos diante de Deus. Quando a morte se aproximar, por exemplo,
não há outra solução melhor do que a própria fé em Deus cujos braços permanecem
abertos para nos acolher em sua casa (cf. Jo 14,1-2). No curso da vida de todo
homem ou mulher há muitas situações nas quais a fé é o único recurso, o único
meio de evitar o pânico: abandonar-se em Deus, confiar nele. Nessa situação
precisamos ouvir profundamente o que Jesus nos diz hoje: “Por que vós tendes
tanto medo, homens fracos na fé?”.
Ao relatar a tempestade acalmada
por Jesus o evangelista Mateus quer nos mostrar que Jesus tem em suas mãos o
poder criador de Deus. Por isso, com sua palavra apenas, tudo lhe obedece. O
evangelista quer nos chamar a termos fé neste Jesus em qualquer situação onde
nos encontramos.
Se encontrarmos alguma dificuldade,
precisamos manter a cena do evangelho deste dia diante de nossos olhos: a tempestade
violenta, o sono de Jesus, o grito de seus amigos, a chamada a uma fé mais
forte e a paz que procede desta fé. Quando tudo parece contrario ou
contraditório, Jesus está ali, na minha barca, na barca da Igreja. Precisamos
rezar em silêncio: “Senhor, suprima meu medo, pois somente o Senhor tem
palavras da vida eterna”.
A Palavra de Deus de hoje quer que
tenhamos mais fé em Deus em qualquer situação, pois Ele é o nosso Pai e só quer
nosso bem. Precisamos estar conscientes de que Cristo, Deus-Conosco está na
barca da Igreja e na barca de nossa vida. É verdade que Jesus parece estar
dormindo. Mas, na verdade, a nossa fé é que está adormecida. E o Deus-Conosco,
Jesus Cristo, promete sua presença permanente na nossa vida: “Eis que estou
convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). “Coragem! Eu venci o
mundo!” (Jo 16,33c). Temos que ter consciência dessa promessa e colocá-la em
prática.
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