FÉ QUE NOS CURA E SALVA
Segunda-feira da XIV
Semana Comum
08 de Julho de 2013
Texto de leitura: Mt 9, 18-26
18 Enquanto Jesus estava falando, um chefe aproximou-se, inclinou-se profundamente diante dele, e disse: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”. 19 Jesus levantou-se e o seguiu, junto com os seus discípulos. 20 Nisto, uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos veio por trás dele e tocou a barra do seu manto. 21 Ela pensava consigo: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”. 22 Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse: “Coragem, filha! A tua fé te salvou”. E a mulher ficou curada a partir daquele instante. 23 Chegando à casa do chefe, Jesus viu os tocadores de flauta e a multidão alvoroçada, 24 e disse: “Retirai-vos, porque a menina não morreu, mas está dormindo”. E começaram a caçoar dele. 25 Quando a multidão foi afastada, Jesus entrou, tomou a menina pela mão, e ela se levantou. 26 Essa notícia espalhou-se por toda aquela região.
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1. Um Chefe Que
Suplica a Jesus Pela Filha Morta
Os dois episódios no evangelho de
hoje (uma menina morta que voltou a viver e uma mulher curada de sua
hemorragia) se encontram também em Marcos (Mc 5,21-43) e em Lucas (Lc 8,40-56).
Em Mateus, no primeiro episódio,
aquele que se aproxima de Jesus que suplica pela filha morta não tem nome.
Simplesmente ele é “um chefe”. Não se diz que é um chefe da sinagoga como em
Marcos e Lucas nos quais se fala de Jairo.
Quem é este “chefe”? Pode ser
qualquer um de nós, pois, de alguma forma, cada um é chefe seja dentro da
família, seja fora dela (na sociedade). Uma pessoa pode ser muito importante
(“chefe”) entre os homens ou muito poderosa do ponto de vista humano, mas ela
precisa também de salvação. O poder humano não salva, pois diante da morte tudo
que é humano cai no chão. O brilho falso tem seu fim. Somente Deus salva e nos
garante a vida eterna. Do ponto de vista humano, paradoxalmente, o aparente
superpotente ou super-poderoso é, na verdade, impotente. Mas “quando me
sinto fraco, então é que sou forte”, escreveu São Paulo à comunidade de
Corinto (2Cor 12,10).
Um ser humano precisa de outro ser
humano para possibilitar seu crescimento como ser humano. Podemos possuir tudo
que o mundo tem a oferecer em termos de status, realizações e bens, no entanto,
sem nos sentirmos integrados, tudo isso parece vazio e inútil. A integração
(viver em comunidade como irmãos/família) sugere calor, compreensão e abraço.
Quando ficamos isolados, estamos propensos a ser prejudicados. Sentir-se
integrada mantém a pessoa em equilíbrio. Sempre que há distância, há também
anseio.
E o ser humano, enquanto criatura,
precisa do Salvador que dá sentido para tudo na sua vida. Por isso, Santo
Agostinho dizia: “Ninguém está tão só do que aquele que vive sem Deus. E,
o homem, para onde se dirija, sem se apoiar em Deus só encontrará a dor”.
Nas suas Confissões, Santo Agostinho rezou: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e
inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti. Dá-me, Senhor, saber
e compreender qual seja o primeiro: invocar-Te ou louvar-Te; conhecer-Te ou
invocar-Te. Mas quem Te invocará sem Te conhecer? (...) Que eu Te busque,
Senhor, invocando-Te; e que eu Te invoque, crendo em Ti: Tu nos foste anunciado”
(Conf. 1,1).
No primeiro episódio do evangelho
deste dia Jesus se encontra diante da morte de uma menina e o pai desta pede a
Jesus para impor sua mão sobre ela a fim de ela voltar a viver: “Minha filha
acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”. Trata-se
de um pobre chefe esmagado pela dor: a morte de sua filha. Há situações diante
das quais a força humana fica impotente, como diante da morte. Nessas situações
só a fé é que pode nos ajudar, como fez o pai da menina falecida. É algo
surpreendente a confiança posta por esse homem em Jesus. É uma verdadeira fé no
impossível: fé no poder de Jesus de fazer sua filha voltar a viver. Lá onde a
força humana terminar, a fé a continuará. Jesus não se resiste a este tipo de
oração. “Jesus se levantou e o seguiu junto com seus discípulos”, assim relatou
Mateus.
Quando chegou à casa da menina
morta, Jesus disse à multidão: “Retirai-vos porque a menina não morreu e sim
está dormindo”. Jesus quer dizer que
para ele e para o poder de Deus a morte não significa mais que um sono ligeiro.
Da mesma maneira Jesus também falou de Lázaro morto: “Nosso amigo Lázaro está
dormindo e vou despertá-lo” (Jo 11,11). A morte para Deus não é um poder
insuperável. As coisas têm um aspecto muito distinto diante do olhar de Deus e
diante da experiência do homem. Mas se aprendermos a olhar tudo a partir de
Deus, então a morte perderá seu caráter arrepiante. Para Jesus, a morte não tem
o caráter temível e definitivo. Para ele, a morte é uma espécie de “sono” do
qual Deus tem o poder de despertar. Se para Jesus a morte não tem nenhum
caráter temível, pois é apenas uma passagem para uma vida eterna, deve ser
também para quem quiser segui-lo. O cristão é chamado a proteger a vida no seu
inicio, na sua duração e no seu término na história, pois Deus é a Vida por
excelência e por isso, chama todos à vida, especialmente para aqueles que vivem
no desespero e na falta de esperança. A menina morta voltou a viver por causa
do poder de Jesus.
2. Mulher Curada da
hemorragia
Dentro do primeiro episódio Mateus
insere outro episodia: uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos. Doze
anos de sofrimento! Essa mulher não pede nada e não diz nada a Jesus. Ela
somente pensa e silenciosamente se aproxima de Jesus para tocar a barra do seu
manto: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”, pensou
essa mulher.
A mulher que sofre de hemorragia se
aproxima e toca a orla do manto de Jesus. Este gesto era proibido na cultura
judaica. Uma mulher não podia olhar para um homem em publico, muito menos
tocá-lo. A situação fica pior ainda porque a mulher está com a hemorragia que
pode causar a impureza legal para a pessoa tocada. Por ser mulher e pela sua
enfermidade essa mulher estava duplamente excluída. Mas ela não quer saber das
proibições. Ela quer encontrar-se com Jesus e tocar seu manto. Ela não quer ser
escrava das regras e dos costumes desumanos. Pois de fato, as regras culturais
e de culto a afasta da convivência e da salvação. Quantas pessoas são escravas
das regras. A graça produz as regras, mas as regras não produzem a salvação,
pois elas são apenas meios e não o fim. Os costumes que não salvam, não podem
ser mantidos. Jesus não a recusa. Jesus reconhece nela a fé que transforma sua
situação triste em alegria por encontrar o Salvador, Jesus: “Coragem, filha! A
tua fé te salvou”. A partir de então, a mulher voltou a viver sua vida
saudavelmente.
Os dois (chefe cuja filha estava
morta e a mulher que sofria de hemorragia há doze anos) se aproximam de Jesus
com muita fé e obtêm o que pedem. Eles confiam, se apóiam e se abandonam
totalmente em Jesus. E receberam uma
resposta adequada da parte de Jesus: a volta da filha para a vida e a cura da
mulher sofrida de hemorragia de longos anos. Por causa da fé eu preparo o
espaço necessário para que Deus possa atuar. A fé é sempre e continua sendo a
condição e o fundamento da ação salvadora de Deus no homem. A novidade do Reino
trazido por Jesus não é somente a cura, mas principalmente a ressurreição ou a
salvação.
A dor daquele pai e o sofrimento
daquela mulher podem ser um bom símbolo de todos os nossos males, pessoais e
comunitários. Também agora, como em sua
vida terrena, Jesus nos quer atender e nos encher de sua força e de sua
esperança. Na Eucaristia ele mesmo se dá como alimento, para que, quando nos
aproximamos dele e o recebemos com fé, possa curar também nossos males. Mas a
cura-salvação não é um toque mágico e sim um encontro de pessoas com Jesus. É o
encontro com Jesus na fé que cura e salva e somente depois do encontro é que
Jesus diz as seguintes palavras: “A tua fé te salvou!”.
Reflitamos as seguintes palavras de
Santo Agostinho:
· “Fé é
crer no que não vemos. O prêmio da fé é ver o que cremos” (Serm.
43,1,1).
· “A fé é
um grau de conhecimento. O conhecimento é o auge da fé” (Serm.
126,1,1).
· “A fé
abre a porta ao conhecimento. A incredulidade a fecha” (Epist. 136,4).
· “Tua fé
é uma justiça, porque, se crês, evitas os pecados; se os evitas, praticas boas
obras” (In os. 32,2,1,4).
P. Vitus Gustama,svd
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