HUMILDADE E MANSIDÃO EM
CRISTO
Quinta-feira da XV Semana
Comum
18 de Julho de 2013
Texto de Leitura: Mt 11,28-30
Naquele tempo, tomou Jesus a palavra
e disse: 28 “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos
vossos fardos, e eu vos darei descanso. 29 Tomai sobre vós o meu jugo e
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis
descanso. 30 Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
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“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos
fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo... Pois o meu jugo
é suave e o meu fardo é leve”.
De que fardo Jesus fala neste
texto? Quem são os “cansados e fatigados” neste texto? Trata-se aqui da
opressão moral e religiosa, provocada pelo formalismo de uma religião estéril e
de um moralismo legalista. Os “cansados e fatigados sob o peso dos vossos
fardos” aqui são os pobres e famintos, ignorantes e pequeninos, os míseros e os
doentes. O legalismo é sufocante, uma moral sem alegria. Assim, a religião fica
longe de ser motivo de liberdade e alegria, pois ela é reduzida a uma carga
pesada. O ser humano se torna animal, pois a quem se impõe “jugo” e “carga”, se
não aos animais?
Pelo contrário, o cristianismo e a
moral cristã não são uma imposição. A lei de Cristo é amor (Jo
13,34-35;15,12), libertação; é lei de
liberdade, lei do Espírito que dá vida, lei de relação filial com Deus, nosso e
amigo da vida. Ao lado de Cristo, todas as fadigas se tornam amáveis e tudo o
que poderia ser mais custoso no cumprimento da vontade de Deus se suaviza. Quem
se aproxima de Jesus, encontrará repouso para suas aflições. Jesus veio,
certamente, para libertar o ser humano de todo tipo de escravidão, mostrando-se
manso e humilde de coração e recusando-se a multiplicar normas religiosas.
Jesus reduziu tudo ao essencial: amor e misericórdia. A religião torna-se,
assim, prazerosa por respeitar a liberdade e por ser humanizadora. “Onde só
o amor serve e não a necessidade, a escravidão se torna liberdade”, dizia
Santo Agostinho (In ps. 99,8).
Para tudo isso se tornar possível,
há uma chave principal: o amor, tanto como um dom recebido de Deus, pois ele
nos amou primeiro (1Jo 4,19), como uma responsabilidade, como Cristo que se dá
a si mesmo a Deus e aos irmãos. Quem ama não sente a lei de Cristo como uma
obrigação pesada. Pela experiência sabemos que quando se ama de verdade muitas
coisas se tornam fáceis e suportáveis que seriam difíceis e até insuportáveis
sem o amor. Ir para Jesus é descarregar o fardo aos seus pés, olhá-lo nos
olhos, renunciando às nossas pequenas idéias sobre a questão e preferindo seu
pensamento ao nosso.
“... aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração...”(v.29). Quem é humilde? Quem é manso?
Jesus se fez pequeno entre os
pequenos e é afável, pobre, humilde e simples em seu comportamento. Põe-se
junto aos pequenos, aos que ele sente como sua família e assim, quer caminhar
vivendo de toda Palavra que sai da boca de Deus. A simplicidade aproxima as
pessoas e as pessoas se aproximam dos simples e humildes sem dificuldade. "Ser humilde com os superiores é uma obrigação,
com os colegas uma cortesia, com os inferiores é uma nobreza”, dizia Benjamin
Franklin.
Ser humilde não é ser tímido; não é
aquele que fica no cantinho por medo de se comunicar com os outros ou por medo
da multidão e assim por diante. Muito menos é aquele que simula a humildade,
pois “Simular humildade é a maior das soberbas”, dizia Santo Agostinho (De
sanc. virg. 43,44). O orgulho é como o mau hálito, todos percebem, exceto quem
dele padece.
O humilde é aquele que tem noção da própria capacidade e da própria fraqueza e
limitações e está aberto totalmente a Deus e para qualquer crescimento no bem. "Quanto
maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza",
dizia Rabindranath Tagore.
A palavra “humildade” deriva do
latim: “humilis”, que por sua vez, deriva de “humus” que significa “chão”,
“terra”. Humildade é aquele que se acha bem consubstanciado com a terra. É
aquele que tem os pés bem firmes no chão. É aquele que pisa firme, com segurança
e confiança em si mesmo. A partir da humildade não se despreza, nem se teme
ninguém. O “húmus” é a parte nutritiva da terra que possibilita o crescimento
de uma planta. Da mesma maneira, a humildade é refúgio e alimento do ser. A
humildade possibilita crescimento para quem a tem. É na humildade e da
humildade que germinam nossos autênticos valores. Só a partir da humildade é
possível trilhar a infinita e misteriosa caminhada do conhecimento de si mesmo
e de se crescimento. O humilde reverencia o sagrado, pois ele se reconhece
“terra”, “pó”, mas é “pó” vivente por causa do hálito que é soprado nele pelo
Criador (cf. Gn 2,7; Jo 20,22).
“Aprendei de mim por que sou manso de
coração”, convida-nos o Senhor. O manso é a pessoa boa nas relações com os
outros. Jesus se proclama o Mestre “manso e humilde de coração”, pois ele é
totalmente aberto a Deus e bom com os outros a ponto de compartilhar de sua
existência. A “mansidão” é fruto do Espírito (Gl 5,23) e é sinal da presença da
sabedoria do alto (Tg 3,13.17). A mansidão é a virtude a ser invocada e
conquistada por quem pretende seguir fielmente a Jesus manso.
Todos nós sabemos como é fácil combater a ira
com a ira, a cólera com a cólera, a raiva com a raiva. A mansidão, pelo
contrário, rompe esse círculo vicioso, cumprindo aquilo que é justo diante de
Deus. A mansidão é a força que resiste e domina a ira. A mansidão é a virtude
que modera a ira e conserva a caridade. Quem a possui é amável, prestativo e
paciente. Até os pecadores e os ateus mais endurecidos não resistem diante de
quem tem a virtude de mansidão. A um coração manso e humilde como o de Cristo,
os homens se abrem. Por isso, a mansidão não é característica dos fracos; pelo
contrário, ela exige uma grande fortaleza de espírito. Aquele que é dócil a
Deus, é manso para com os outros. A mansidão é a arma dos fortes. A mansidão
sabe esperar o momento oportuno e matiza os juízos e impede que falemos ou
comentemos precipitadamente os acontecimentos e as pessoas e impede que usemos
palavras ferinas. Da falta dessa virtude provêm as explosões de mau humor,
irritação, frieza, impaciência, violência e ódio entre as pessoas que vão
corroendo gradativamente amor. Não há vida que seja tão vazia do que uma vida
sem amor, pois “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16).“Não basta o trabalho sem a
piedade; não basta a ciência sem a caridade; não basta a inteligência sem a
humildade; não basta o estudo sem a graça”, dizia São Boaventura.
O problema grave que temos não é o
cansaço produzido pela fatiga e sim o desgaste ocasionado pela falta de
motivações na vida. A grande enfermidade de nosso tempo é este “cansaço
existencial” que muitas vezes conduz a pessoa à depressão. Mas não podemos nos
esquecer que temos um amigo: Jesus Cristo, que nos convida a irmos ao seu encontro
para que tenhamos novamente uma vida cheia de força, amor e ânimo para seguir
adiante.
Jesus nos convida a assumirmos uma
nova forma de viver a vida, longe de legalismo inútil e sufocante. A ética de
Jesus se resume em um incondicional amor ao próximo como fruto de uma
experiência de Deus como Pai. Quem ama não sente a lei de Cristo como uma
obrigação pesada. Quem ama, a oração se torna prazerosa.
“...
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis
descanso”
(Mt 11,29). O modo de viver de Jesus e o de tratar ao povo com compaixão e
misericórdia nos indica claramente que Jesus é a revelação suprema da mansidão
de Deus (cf. Is 42,1-4). Por isso, Jesus é a fonte da nossa mansidão: “... aprendei
de mim, porque sou manso e humilde de coração...” (v.29).
Imitar Jesus na sua mansidão é o
remédio contra as nossas irritações, impaciências e falta de cordialidade e de
compreensão. Esse espírito sereno e acolhedor somente alcançaremos, se
procurarmos permanecer em Jesus, revelação e fonte da mansidão, como ele sempre
está com o Pai.
P. Vitus Gustama,svd
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