SABER RENUNCIAR A TUDO PELO
BEM MAIOR QUE DÁ SENTIDO AO RESTO
Quarta-feira da XVII
Semana Comum
31 de Julho de 2013
Texto de leitura: Mt
13,44-46
Naquele tempo, disse Jesus à
multidão: 44 “O Reino do Céus é como um tesouro escondido no campo. Um
homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos
os seus bens e compra aquele campo. 45 O Reino dos Céus também
é como um comprador que procura pérolas preciosas. 46 Quando encontra uma
pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela
pérola”.
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“O Reino de Deus é como um
tesouro escondido, como uma pérola de incalculável valor”, assim Jesus diz
no discurso sobre o Reino de Deus em parábolas no texto do evangelho deste dia.
As inúmeras guerras, que aconteceram em
Palestina, levavam muitas pessoas a enterrar seus tesouros valiosos por motivo
de segurança contra os ladrões. E o homem assalariado que trabalha no campo
alheio, ao encontrar o tesouro, o enterrou novamente e guardou o segredo. E
vende tudo para comprar o campo por esse tesouro valioso. A mesma reação
aconteceu com o comprador da pérola: vende tudo para possuí-la. Mas acentua-se
a alegria dos dois em fazer isso.
Lemos no dicionário que tesouro é o
conjunto de riquezas de qualquer tipo (p.ex., dinheiro, jóias, pedras e metais
preciosos, bens valiosos) guardadas ou escondidas. E pérola é a concreção densa
e de coloração levemente prateada, que se forma nas conchas de diversos
moluscos, a partir da deposição de material nacarado sobre uma partícula
qualquer, como um grão de areia ou um parasita. As pérolas cultivadas são
produzidas por ostras. Pérola é um material valioso. Também nós chamamos uma
pessoa de sólidas qualidades morais e éticas de pérola ou de tesouro. “Você é
minha pérola. Você é meu tesouro”, assim ouvimos alguém falar para o outro.
“Venderam tudo que possuíam para
comprar o campo onde o tesouro está escondido e para comprar a pérola preciosa”, assim relatou Mateus
no evangelho de hoje.
Aqueles homens venderam tudo tão
espontaneamente só para ficar com o tesouro ou a pérola preciosa sem sentir
nenhum sacrifício, mas com uma decisão alegre por causa de uma coisa valiosa.
Tudo o que é bom, belo, digno, ético, puro sempre nos atrai e pára nossos
passos para contemplá-lo. Uma pessoa com sólidas qualidades éticas e morais
atrai a simpatia de qualquer pessoa e atrai a bênção de Deus, pois Deus é o
supremo Bem. Ninguém resiste diante da bondade, diante de uma boa educação,
diante de uma gentileza e assim por diante. Tudo o que é ruim nos afasta e
afasta até a bênção do Senhor toda vez que essa bênção se aproximar da pessoa.
É assim também a fé. A fé é um
enamoramento de Deus, é uma sedução: “Você me seduziu, Senhor; e eu me
deixei seduzir” (Jr 20,7). Tudo o que é divino e que nos salva sempre nos
atrai e nos convida a nos aproximarmos dele. O Reino arrebata quem o encontrou,
gera a grande alegria e orienta toda a vida da pessoa até a comunhão plena com
Deus. A partir deste tesouro que é O Reino de Deus, todo o resto se ordena e
adquire o seu valor próprio. O Reino de Deus começa, então, a orientar a vida
de quem o descobriu. A verdadeira fé orienta nossa maneira de viver.
“Venderam tudo que possuíam….”
Tanto o tesouro escondido como a
pérola preciosa expressam o que o Reino de Deus deve ser para o discípulo/cristão:
algo absoluto. A exigência é radical, tudo o mais deve ser colocado em relação
com o Reino. Em outras palavras, pode-se dizer que a experiência do amor de
Deus relativizam todo valor até então conhecido. A partir de então, o valor do
Reino serve de ponto de referência e de avaliação para resto. Uma vez que tiver
sido descoberto o Reino de Deus em todo o seu valor, o resto se torna relativo
no seu valor.
Nesta parábola, nem o homem que
encontrou o tesouro nem aquele que descobriu a pérola sentem falta do que antes
possuíam e que venderam. A riqueza do que acharam é de tal ordem que compensa
tudo o que tinham. A mesma coisa acontece com os que descobrem ou encontram o
seu caminho pessoal para Deus: abandonam tudo e encontram tudo, porque Deus é
tudo. Quem, pela mensagem de Cristo, encontra Deus renuncia jubilosamente a
tudo. Tal verdade somente pode ser experimentada pela própria vida. Por isso, eles
podem renovar tudo, acabar com a rotina de sua vida e começam a olhar mais
longe e mais alto. E quem encontra Cristo expande a alegria e o otimismo para todos.
A vida cristã se apresenta muitas
vezes como um constante exercício de renúncia: renunciar aos bens materiais
para não ser possuídos por eles a fim de manter-se livre como seguidor de
Cristo; renunciar aos prazeres desenfreados da vida, pois quem vive somente em
função do prazer é porque não tem prazer de viver, e quem só sabe se satisfazer
é incapaz de satisfazer os outros; renunciar às comodidades, pois a vida
continua nos empurrando por dentro; renunciar à ambição. Renunciar, renunciar,
renunciar...
Não se deve confundir com o que se
chama um caminho de perfeição, um método para chegar a ser santo. O projeto de
Jesus não é um projeto dirigido unicamente ao individuo e sim orientado para a
transformação da maneira de viver de toda a humanidade.
Por isso, quando Jesus apresenta as
bem-aventuranças que constituem o núcleo de seu programa não diz àqueles que o
escutam que serão mais santos se fizerem tudo que ele fala, e sim que serão
felizes. É a felicidade dos homens, de todos os homens e de cada um deles em
particular o que preocupa Jesus, porque essa é a principal preocupação do Pai. O
projeto de Jesus é a felicidade. A santidade é o projeto pessoal. Por isso, o
ideal cristão é a felicidade. Conseqüentemente, a felicidade é a razão pela
qual um cristão atua: um cristão se comporta como cristão porque tal
comportamento é causa de alegria para ele e para seus próximos. Em outras
palavras, uma ação é boa se produz felicidade em quem a realiza e contribui à
felicidade dos demais.
P.Vitus Gustama, SVD
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