domingo, 21 de julho de 2013

 
SABER RENUNCIAR A TUDO PELO BEM MAIOR QUE DÁ SENTIDO AO RESTO

 
Quarta-feira da XVII Semana Comum
31 de Julho de 2013
 
Texto de leitura: Mt 13,44-46

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44 “O Reino do Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo. 45 O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas. 46 Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola”.

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O Reino de Deus é como um tesouro escondido, como uma pérola de incalculável valor”, assim Jesus diz no discurso sobre o Reino de Deus em parábolas no texto do evangelho deste dia. 


 As inúmeras guerras, que aconteceram em Palestina, levavam muitas pessoas a enterrar seus tesouros valiosos por motivo de segurança contra os ladrões. E o homem assalariado que trabalha no campo alheio, ao encontrar o tesouro, o enterrou novamente e guardou o segredo. E vende tudo para comprar o campo por esse tesouro valioso. A mesma reação aconteceu com o comprador da pérola: vende tudo para possuí-la. Mas acentua-se a alegria dos dois em fazer isso.


Lemos no dicionário que tesouro é o conjunto de riquezas de qualquer tipo (p.ex., dinheiro, jóias, pedras e metais preciosos, bens valiosos) guardadas ou escondidas. E pérola é a concreção densa e de coloração levemente prateada, que se forma nas conchas de diversos moluscos, a partir da deposição de material nacarado sobre uma partícula qualquer, como um grão de areia ou um parasita. As pérolas cultivadas são produzidas por ostras. Pérola é um material valioso. Também nós chamamos uma pessoa de sólidas qualidades morais e éticas de pérola ou de tesouro. “Você é minha pérola. Você é meu tesouro”, assim ouvimos alguém falar para o outro.

 
“Venderam tudo que possuíam para comprar o campo onde o tesouro está escondido e para comprar a pérola preciosa”, assim relatou Mateus no evangelho de hoje.


Aqueles homens venderam tudo tão espontaneamente só para ficar com o tesouro ou a pérola preciosa sem sentir nenhum sacrifício, mas com uma decisão alegre por causa de uma coisa valiosa. Tudo o que é bom, belo, digno, ético, puro sempre nos atrai e pára nossos passos para contemplá-lo. Uma pessoa com sólidas qualidades éticas e morais atrai a simpatia de qualquer pessoa e atrai a bênção de Deus, pois Deus é o supremo Bem. Ninguém resiste diante da bondade, diante de uma boa educação, diante de uma gentileza e assim por diante. Tudo o que é ruim nos afasta e afasta até a bênção do Senhor toda vez que essa bênção se aproximar da pessoa.


É assim também a fé. A fé é um enamoramento de Deus, é uma sedução: “Você me seduziu, Senhor; e eu me deixei seduzir” (Jr 20,7). Tudo o que é divino e que nos salva sempre nos atrai e nos convida a nos aproximarmos dele. O Reino arrebata quem o encontrou, gera a grande alegria e orienta toda a vida da pessoa até a comunhão plena com Deus. A partir deste tesouro que é O Reino de Deus, todo o resto se ordena e adquire o seu valor próprio. O Reino de Deus começa, então, a orientar a vida de quem o descobriu. A verdadeira fé orienta nossa maneira de viver.


Venderam tudo que possuíam….”

 
Tanto o tesouro escondido como a pérola preciosa expressam o que o Reino de Deus deve ser para o discípulo/cristão: algo absoluto. A exigência é radical, tudo o mais deve ser colocado em relação com o Reino. Em outras palavras, pode-se dizer que a experiência do amor de Deus relativizam todo valor até então conhecido. A partir de então, o valor do Reino serve de ponto de referência e de avaliação para resto. Uma vez que tiver sido descoberto o Reino de Deus em todo o seu valor, o resto se torna relativo no seu valor.


Nesta parábola, nem o homem que encontrou o tesouro nem aquele que descobriu a pérola sentem falta do que antes possuíam e que venderam. A riqueza do que acharam é de tal ordem que compensa tudo o que tinham. A mesma coisa acontece com os que descobrem ou encontram o seu caminho pessoal para Deus: abandonam tudo e encontram tudo, porque Deus é tudo. Quem, pela mensagem de Cristo, encontra Deus renuncia jubilosamente a tudo. Tal verdade somente pode ser experimentada pela própria vida. Por isso, eles podem renovar tudo, acabar com a rotina de sua vida e começam a olhar mais longe e mais alto. E quem encontra Cristo expande a alegria  e o otimismo para todos.


A vida cristã se apresenta muitas vezes como um constante exercício de renúncia: renunciar aos bens materiais para não ser possuídos por eles a fim de manter-se livre como seguidor de Cristo; renunciar aos prazeres desenfreados da vida, pois quem vive somente em função do prazer é porque não tem prazer de viver, e quem só sabe se satisfazer é incapaz de satisfazer os outros; renunciar às comodidades, pois a vida continua nos empurrando por dentro; renunciar à ambição. Renunciar, renunciar, renunciar...


Não se deve confundir com o que se chama um caminho de perfeição, um método para chegar a ser santo. O projeto de Jesus não é um projeto dirigido unicamente ao individuo e sim orientado para a transformação da maneira de viver de toda a humanidade.


Por isso, quando Jesus apresenta as bem-aventuranças que constituem o núcleo de seu programa não diz àqueles que o escutam que serão mais santos se fizerem tudo que ele fala, e sim que serão felizes. É a felicidade dos homens, de todos os homens e de cada um deles em particular o que preocupa Jesus, porque essa é a principal preocupação do Pai. O projeto de Jesus é a felicidade. A santidade é o projeto pessoal. Por isso, o ideal cristão é a felicidade. Conseqüentemente, a felicidade é a razão pela qual um cristão atua: um cristão se comporta como cristão porque tal comportamento é causa de alegria para ele e para seus próximos. Em outras palavras, uma ação é boa se produz felicidade em quem a realiza e contribui à felicidade dos demais.


P.Vitus Gustama, SVD

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