SER CRISTÃO É SER SEMEADOR DO BEM
Quarta-feira da XVI Semana Comum
24 de Julho de 2013
Texto
de Leitura: Mt 13,1-9
1 Naquele dia, Jesus saiu de casa e
foi sentar-se às margens do mar da Galileia. 2 Uma grande multidão reuniu-se em
volta dele. Por isso Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão
ficava de pé, na praia. 3 E disse-lhes muitas coisas em parábolas: “O semeador
saiu para semear. 4 Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do
caminho, e os pássaros vieram e as comeram. 5 Outras sementes caíram em terreno
pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a
terra não era profunda. 6 Mas, quando o sol apareceu, as plantas ficaram
queimadas e secaram, porque não tinham raiz. 7 Outras sementes caíram no meio
dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. 8 Outras sementes, porém,
caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos
por semente. 9 Quem tem ouvidos, ouça!”
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Mt 13 é o terceiro dos cinco
grandes discursos do Evangelho de Mt. Mt
13 é o discurso sobre o mistério ou a natureza do Reino dos Céus em parábolas
(sete parábolas). A maior parte das parábolas Jesus tira da vida, do trabalho
das pessoas humildes do campo ou da vida doméstica. Jesus é um bom observador e
olha com amor às pessoas que ele encontra no caminho.
As parábolas são relatos concretos
e cheios de imagens destinados para a melhor compreensão de uma idéia. As
parábolas têm uma função didática. No evangelho elas são comparações que
ensinam ou transmitem uma verdade sobre o Reino de Deus. Para captar seu
sentido, é preciso estar em sintonia com Jesus, pois o Reino se faz presente
nele (Mt 13,10). E o Reino que se faz presente nas palavras e sinais de Jesus
(Mt 4,17-11,1), segue adiante apesar da recusa dos fariseus (Mt 11,2-12,50),
convocando o novo povo de Deus (Mt 13,53-16,20). E aparece claramente neste
discurso a atitude dos discípulos e a da multidão (fariseus): os discípulos
entendem as parábolas porque Deus tem lhes revelado os mistérios do Reino,
enquanto que a multidão não entende porque seu coração está fechado (Mt
13,10-17).
1. Somos Chamados a Ser Semeadores do Bem
Jesus começa a contar a parábola do
semeador dizendo: “O semeador saiu para semear” (Mt 13,3).
A semente da qual fala o evangelho
deste dia é a Palavra de Deus. A palavra é o principal meio de comunicação,
fonte de aproximação entre as pessoas, o meio de denegação do isolamento, a
possibilidade de amor e de ânimo e é a expressão de nós mesmos. A palavra é
fonte de vida e não apenas um simples som para comunicar “idéias” e transmitir
“informações”. Há palavras que transtornaram vida inteiras com sua mensagem. Um
bom livro pode abrir horizonte novo e possibilita novos caminhos. Dirigir-se a
palavra é abrir-se à comunicação com o tu humano, constituir-se o nós e
comparecer diante de Deus, o Tu dos homens. Dirigir a palavra é tudo quando a
palavra é o que deve ser: uma palavra de amor, expressão da própria intimidade,
revelação do mais profundo que cada um de nós é. Quando pronunciarmos uma
palavra sem amor, degradaremos este dom maravilhoso da comunicação.
Deus expressa seu amor através da
Palavra. Sua Palavra é como a nossa, porém é muito mais. A Palavra de Deus é
viva, dotada de poder e é fecunda. A Palavra de Deus é vida pela qual foi
criado o universo do nada. Através da Palavra de Deus recebemos a salvação que
é a nova criação. Quem a escuta e a acolhe em seu coração começa uma nova vida.
Nele germina a Palavra de Deus e este homem se faz expressivo para os homens no
amor e responde com amor ao amor de Deus. De outra forma podemos dizer que a
Palavra de Deus tem força: possui uma potência total para transformar os
corações. Por isso, é preciso ler, meditar e deixar esta Palavra modelar nossa
vida. Por isso, Santo Agostinho dizia: “Escutando
a Palavra de Deus, deixa-a aninhar-se em tua alma. Não a expulsa de ti. Não te
contentes em tê-la contigo. Ajuda-a a crescer e a dar fruto em ti” (Serm. 343,1)
“O semeador saiu para semear”. Sair é interromper o silêncio,
quebrar o isolamento, tomar passos para começar a caminhar, abrir o coração
para deixar a palavra de amor sair ao encontro do outro. É sair para semear o
bem para todos. Fomos criados para nos comunicar e comunicar o bem. Somos seres
comunicados e comunicáveis. Não se comunicar e não comunicar o bem seria uma
negação à nossa própria natureza humana e divina.
2. O Fracasso não Significa o Fim de Tudo, Mas É Um Chamado à
Esperança
Aparentemente o pobre “semeador”
não tem boa sorte. A parábola começa nos contando três fracassos: em primeiro
lugar, os pássaros comem as sementes antes de germinarem; em segundo lugar, as
plantinhas são queimadas pelo calor do sol antes de poderem crescer; e por fim,
a planta que cresceu é sufocada pelas más plantas. Até neste ponto, o trabalho
do semeador parece inútil completamente. Tudo isto é a imagem do Reino de Deus.
Mas no fim da história o semeador não ficará decepcionado, pois “outras sementes caíram em
terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por
semente”.
A Palavra de Deus não pode falhar
porque Deus é Deus: “... a palavra que
sair da minha boca não voltará para mim vazia; antes realizará tudo que for de
minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la”, diz o
Senhor através do Livro do profeta Isaias Is 55,11. Deus não fala por falar,
Deus fala para salvar os homens. Por esta razão a parábola de hoje é uma
chamada à esperança e à confiança em Deus. Mas a Palavra de Deus não é um fato
consumado no sentido de que uma vez conhecida o homem não precisa mais fazer
nada. A Palavra de Deus é uma promessa que avança para seu cumprimento. A
Palavra de Deus está carregada de tensão escatológica.
A parábola do Semeador é uma
mensagem de otimismo e de esperança, como o cristianismo é uma religião de
otimismo. As palavras humanas são apenas palavras e que muitas vezes estão
longe de nossos atos (separação entre o que se fala e se faz). Não é assim com
Deus. O termo “dabar” em hebraico significa simultaneamente palavra e ato (veja
Gn 24,66; Jz 6,29; Am 3,7). Através do relato da criação em Gênesis sabemos
como é poderosa a Palavra de Deus. Para ela, não há obstáculo que não possa ser
atravessado. O que Deus diz, acontece instantaneamente (Gn 1,6.9.11.14). A
Palavra de Deus, o poder de Deus superará frustrações na nossa vida.
O perigo que podemos ter é a nossa
surdez ou a nossa cegueira diante da Palavra de Deus. Se formos surdos e o
nosso coração estiver fechado, então, não saberemos perceber suficientemente os
sinais do Reino de Deus na nossa vida ou na história e Consequentemente
ficaremos perdidos nesta vida.
3. Deus Pede a Colaboração de Cada um de nós de Acordo com as
Possibilidades Existentes
A parábola nos mostra que cada tipo
de terra recebe a semente para dizer que como é generoso nosso Deus. E cada
tipo de terra acolhe a semente em seu seio e a faz crescer segundo suas
próprias possibilidades. Há terras melhores e há terras piores. Mas não se pede
à terra infértil uma boa colheita. Disto o semeador já sabe.
O mesmo acontece com a Palavra de
Deus. A Palavra de Deus é lançada em todas as direções, a todas as classes de
pessoas, pois Deus ama a todos e cada um em particular. A Palavra de Deus não é
um alimento reservado a uns poucos privilegiados. Ela chega ao nosso coração.
E nós seres humanos não somos todos
iguais na nossa capacidade. Entre nós há muitas diferenças: cultura, educação,
inteligência e assim por diante. Podemos dizer que nós somos a terra. Em todos,
de uma forma ou de outra, o Semeador-Deus deixa cair a semente da Palavra. E
Deus pede a cada um de nós frutos conforme suas possibilidades. Deus não
condena ninguém nem pede a todos que dêem 100%. Simplesmente Deus pede a cada
um de nós o que pode dar. Não é tanto o resultado, mas o amor no empenho. No
Reino de Deus, se você se der muito no bem que faz, não importa o resultado.
Vale pelo amor no seu empenho e pela sua dedicação. Quem pode avaliar ou
valorizar aquilo que produzimos é o próprio Deus, pois Ele é o supremo Bem. No
Reino de Deus não existe trabalho inútil; nada se esbanja. “Ainda que aos olhos
dos homens grande parte de seu trabalho pareça inútil e vão, ainda que os
fracassos pareçam somar-se aos fracassos, Jesus está transbordando de alegria e
de certeza; a hora de Deus chega, e com ela, uma colheita abundante superior a
toda súplica e imaginação” (Joaquim Jeremias).
Vale a pena cada um perguntar-se:
Que tipo de coração você tem? Um coração pedregoso, coração duro como pedra sem
nenhuma sensibilidade humana até não sente a força da Palavra de Deus? Um coração
endurecido pelas decepções na sua vida? Quem tem coração endurecido, não tem
capacidade de ouvir e ver. Ele somente é capaz de ver o que lhe interessa. Ou
você tem um coração cheio de espinhos pronto para criticar e machucar quem
tenta aproximá-lo? Quem machuca ou critica constantemente é porque tem muitos
espinhos no coração. Quem fere é porque tem muitas feridas. Ou você tem um
coração bom, cheio de amor para dar? A Palavra de Deus quando for meditada
seriamente, ela vai suavizando nosso coração como foi prometido ao profeta Ezequiel:
“Eu lhes darei um só coração e os
animarei com um espírito novo: extrairei do seu corpo o coração de pedra, para
substituí-lo por um coração de carne a fim de que observem as minhas leis,
guardem e pratiquem os meus mandamentos, sejam o meu povo e eu o seu Deus”
(Ez 11,19s). A Palavra que Deus nos dirige é sempre eficaz, salvadora e cheia
de vida. Mas se não encontrar coração bom não serão produzidos seus frutos. A
eficácia da Palavra de Deus é também condicionada pelo tipo de acolhimento e o
tipo de coração que temos. Recordemos que podemos ser pedregosos (insensíveis),
árvore sem raízes, pessoas seduzidas unicamente pelas coisas materiais. Desta
maneira se afoga o projeto que o Senhor tem sobre nós: a salvação. O projeto
não se realiza quando não aprendermos a ser bons ouvintes e praticantes da
Palavra de Deus.
P. Vitus Gustama,svd
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