O HOMEM A QUEM DEUS AMA
SEM MEDIDAS
Sexta-feira da XV Semana
Comum
12 de Julho de 2013
Texto
de leitura: Mt 12,1-8
1 Naquele tempo, Jesus passou no
meio de uma plantação num dia de sábado. Seus discípulos tinham fome e
começaram a apanhar espigas para comer. 2 Vendo isso, os fariseus disseram-lhe:
“Olha, os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido fazer em dia de
sábado!” 3 Jesus respondeu-lhes: “Nunca lestes o que fez Davi, quando ele e
seus companheiros sentiram fome? 4 Como entrou na casa de Deus e todos comeram
os pães da oferenda que nem a ele nem aos seus companheiros era permitido
comer, mas unicamente aos sacerdotes? 5 Ou nunca lestes na Lei, que em dia de
sábado, no Templo, os sacerdotes violam o sábado sem contrair culpa alguma? 6
Ora, eu vos digo: aqui está quem é maior do que o Templo. 7 Se tivésseis
compreendido o que significa: ‘Quero a misericórdia e não o sacrifício’, não
teríeis condenado os inocentes. 8 De fato, o Filho do Homem é senhor do
sábado”.
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Com este capitulo (Mt 12) começam
as controvérsias entre Jesus e os fariseus. Desta vez a controvérsia gira em
torno da observância do Sábado.
A observância do Sábado era entre
os principais mandamentos. Era tão importante como todos os mandamentos juntos.
Todo trabalho era proibido (cf. Dt 5,14). Tinha uma lista de 39 trabalhos
proibidos no Sábado. E cada um desses 39 trabalhos proibidos se desdobrava em
mais seis, ao todo 234 atividades proibidas. Transgredir o Sábado podia levar o
acusado à condenação. A punição prevista chegava à pena de morte (cf. Ex
31,12-17; 35,1-3). Durante o exílio na Babilônia observar o Sábado era um sinal
da identidade israelita entre os gentios.
Na verdade inicialmente observar o
Sábado tinha como finalidade o descanso humano, para celebrar a libertação
humana (interpretação da tradição deuteronomista. Cf. Dt 5,12-15). Mais tarde
na tradição sacerdotal (cf. Ex 20,8-11), o descanso sabático tinha como
finalidade imitar o repouso de Deus ao findar-se a obra da Criação. Com essa
interpretação o Sábado passou a ser considerado como dia a ser “santificado”,
dedicado a Deus e ao culto.
Na interpretação dos fariseus sobre
a observância do Sábado o que conta é a Lei. Os fariseus julgam o atuar humano
a partir da lei e o julgam sob o aspecto que afeta a um preceito determinado,
não a lei em seu conjunto. Os fariseus sabem que no Sábado pode-se comer, mas
não se pode “colher”. Para eles cortar as espigas é colher. Logo este ato é
considerado como trabalho e por isso, é proibido. Daí a pergunta deles: “Olha,
os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido fazer em dia de sábado!”.
Ama menos quem se preocupa apenas com a lei e não com a dignidade do ser humano.
Jesus, na sua interpretação sobre a
observância do Sábado, destaca a importância máxima do ser humano. Toda a
atividade de Jesus tem como centro o ser humano e sua salvação. Para Jesus o
que conta é o homem. Em nome da importância máxima do homem Jesus cita o
profeta Oseías: “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Os 6,6). Com
esta citação Jesus destaca a dignidade do homem diante de Deus. Em nome de um
ser humano necessitado de libertação e de salvação Jesus é capaz de
“transgredir” uma lei por mais sagrada que ela pareça ser, como o Sábado. Em
nome do ser humano e sua salvação, Jesus aceita ser perseguido e crucificado. O
preço de nossa salvação é o sangue de Jesus derramado na Cruz. Ao olhar para a
Cruz de Jesus sabemos logo o quanto Jesus nos amou. E o mesmo Jesus continua se
oferecendo como alimento para todos os seus seguidores, pois Ele continua nos
amando. Por isso, ao participar da Eucaristia sabemos o quanto Jesus nos ama,
pois Ele nos alimenta com seu próprio Corpo para podermos fazer nossa caminhada
rumo à comunhão plena com nosso Deus. A Eucaristia é nosso “Viático”, isto é,
nosso alimento para nossa viagem nesse mundo rumo ao encontro derradeiro com
Deus.
Por causa da grandeza do homem e de
sua dignidade entre outras criaturas o Salmista fez a seguinte oração: “Quando
contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá
fixastes: Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos
de Adão, para que vos ocupeis com eles? Entretanto, vós o fizestes quase igual
aos anjos, de glória e honra o coroastes. Destes-lhe poder sobre as obras de
vossas mãos, vós lhe submetestes todo o universo” (Sl 8,4-7).
“Que é o homem de quem cuidas Tu,
Senhor? Um ponto de poeira num cosmos de luz. (...) Sorrio em reconhecimento
quando vejo que fizeste de mim o rei da tua criação, inferior, tão-somente, a
Ti mesmo. Conheço a minha pequenez e a minha grandeza, a minha dignidade e a
minha insignificância... Grande é o Teu Nome, ó Senhor, por toda a terra” (Carlos G. Valles. Busco Tua Face, Senhor: Salmos para contemplação.
Ed.Loyola).
Sao Boaventura colocou na boca de
Deus as seguintes palavras sobre o ser humano: "Quando te criei, pus sobre
tua fronte a imagem da minha divindade, adaptei-me à imagem da tua humanidade
quando te quis redimir; tu, pois, que cancelaste a imagem da minha divindade,
impressa na tua fronte quando foste criado, retém ao menos na mente a imagem da
tua humanidade, impressa em mim quando quis redimir-te; se não soubeste ficar
qual tal te criei, sabe ao menos reter-me como eu fiz quando de novo te
criei".
Na verdade, ao comentar Ex 31,13-14
os rabinos permitiam realizar trabalho em Sábado, se fosse em função de
socorrer alguém em extremo perigo de vida. Eles diziam: “O homem não foi feito
para o mundo, mas o mundo para o homem”. Ou: “O Sábado foi entregue a vós, não
vós ao Sábado” (Simeão ben Menaxa, em 180 a.C, na época dos Macabeus). Na mesma
linha está o Segundo Livro dos Macabeus: “Não foi por causa do Lugar que o
Senhor escolheu o povo e sim por causa do povo, o Lugar” (2Mc 5,19).
“Quero a misericórdia e não o
sacrifício”, diz-nos Jesus hoje. O culto e a vida, a oração e a convivência
fraterna devem andar de mãos dadas. Trazemos nossa vida para nossa oração e
levamos para a vida nossa oração na convivência fraterna.
Toda a atividade na Igreja do
Senhor está em torno das pessoas e não em torno do trabalho. Na Igreja do
Senhor, jamais pode ser colocada a pessoa de lado em função do trabalho. Trabalhamos
na Igreja em função das pessoas e não em função do próprio trabalho. Por isso,
a seguinte pergunta permanece como um alerta: Se Jesus coloca o ser humano como
o centro de sua atividade, qual é o lugar do homem, das pessoas nas nossas
atividades pastorais e profissionais?
P.Vitus Gustama, SVD
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