segunda-feira, 15 de julho de 2013

 
SIMPLICIDADE E SUA BELEZA


Quarta-feira da XV Semana Comum
17 de julho de 2013
 
Texto de leitura: Mt 11,25-27

25 Naquele tempo, Jesus pôs-se a dizer: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. 26 Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 27 Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”

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Para entender o sentido do texto lido neste dia é preciso ler o texto precedente no qual Jesus condena as cidades da Galiléia (cf. Mt 11,20-24). Por esta razão, para manter a continuação do narrativo Mateus usa a expressão “Por esse tempo” (Mt 11,20). Mateus emprega neste texto o termo “kairós” que aqui significa mais do que simplesmente “tempo”. É um tempo determinado, oportuno e decisivo. É o tempo de Deus. É o tempo da graça. É o tempo da salvação. Por isso, a conotação escatológica é bem clara neste texto.


No texto precedente Jesus dirige sua condenação às três cidades: Corazim, Betsaida e Cafarnaum, que são sede de escolas rabínicas e, por conseguinte, centros de cultura religiosa. Por ser centros de cultura religiosa, seus membros se enchem de auto-suficiência e orgulho que lhes impedem de descobrir as ações divinas que se realizam por meio das obras de Jesus. Santo Agostinho perguntava retoricamente: “Se tu estás preocupado com tua própria glória, como poderás interessar-te seriamente pelo bem dos demais?” (In ps. 37,8). Os sábios e os entendidos são, neste contexto, todos aqueles que com sua atitude irresponsável não são capazes de aceitar as intervenções de Deus na história. Sua soberba lhes impede de aceitar e de perceber a manifestação divina. “A alma do soberbo está cheia, mas de ar” (In ps. 39,28). Por isso, o mesmo Santo Agostinho deu o seguinte conselho: “Para tu alcançares as alturas necessitas de uma escada. Para alcançares a altura da grandeza, usa a escada da humildade” (Serm. 96,3). E  "Quanto mais humildes, maiores" (In ps. 146,16)


Mesmo assim, Deus, apresentado como “Senhor do céu e da terra” continua sua obra criadora na história. Se Deus é apresentado como “Senhor do céu e da terra”, isto significa que não há outro “senhor” que seja maior do que Deus. Todos os demais são criaturas, simplesmente. O poder humano é temporário. A sabedoria humana é limitada. Quem estiver em sintonia com o Espírito de Deus, captará a presença de Deus nesta vida ou na história. O desígnio de Deus (do Pai) encontra sua realização em outros sujeitos que são classificados como “gente simples”.
     

No texto do evangelho de hoje Jesus louva a Deus em uma oração de ação de graças: “Eu Te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra...”. É uma oração de ação de graças. É um louvor. O coração de Jesus transborda de agradecimento ao Pai.


O louvor se refere principalmente a Deus. Um cristão é vivo quando ergue o olhar para algo maior do que qualquer criatura, e o louva. Ao louvar a Deus, o homem olha tudo além de si mesmo. O homem louva porque percebe sua vida e seu sentido e a beleza do mundo a partir de Deus, e louva a Deus por tudo de bom que existe. O louvor é sinal de uma alma saudável e sempre faz bem para a alma. O louvor relativiza os problemas cotidianos. O homem que louva sempre ganha nova força para superar os problemas diários. O louvor é uma maneira de ver o mundo sob a nova luz que é a luz de Deus. quem vive louvando a Deus vive feliz e sereno.        
    

Somente quando estivermos serenos é que percebemos a beleza da vida. A serenidade é a expressão da tranqüilidade vivida com gratidão por nos sentirmos amparados por Deus e em Deus. A serenidade oferece e garante a justa perspectiva das coisas. Diante da glória e da bondade do Deus misericordioso qualquer sofrimento ou dificuldade perde o seu caráter ameaçador.


Jesus louva a Deus com o seguinte motivo: “... porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos” (Mt 11,25). “Estas coisas” das quais o texto fala se referem às obras messiânicas de Jesus das quais o capítulo inteiro fala por ocasião da pergunta dos enviados de João Batista (cf. Mt 11,2-6).


Os pequeninos dos quais Jesus fala são os que se sabem necessitados e limitados. Esta é a razão pela qual eles abrem seu coração à misericórdia divina. Sempre necessitamos ser amados por Deus e pelos homens, pois somente o amor é que nos faz crescer e chegar à maturidade como pessoa. A simplicidade e a humildade são a porta de entrada ao conhecimento de Deus. Se não fizermos este primeiro passo, avançaremos na direção da falsidade e ficaremos cheios de vangloria. As pessoas simples, as de coração humilde, são as que sabem entender os sinais da proximidade de Deus. Elas têm um coração sem demasiadas complicações. Os humildes têm um coração limpo e simples que lhes permite ver tudo com os olhos de Deus. É a pureza de coração, a ausência de todo interesse distorcido que nos permite discernirmos as coisas de Deus na nossa vida e na história. Jesus chama bem-aventurados os que têm o coração puro: “Bem-aventurados os puros do coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8).
    

O simples não se louva nem se despreza. Ele é o que é, sem desvios, sem afetação, faz o que faz, mas não vê nisso matéria para discursos ou para comentários. É a vida sem mentiras, sem exagero, sem grandiloqüência. Ele acolhe o que vem, sem nada guardar como coisa sua. Ele ocupa-se do real, não de si. Por isso, a vida de um simples é leve.
  

Deus quer que os homens não se ocupem de si mesmos para que ele possa ter espaço neles para Sua graça, pois aquele que se enche de si não sobra espaço nem para Deus nem para os outros. Em outras palavras, que os homens voltem a ser simples.
   

Deus se revela certamente àquele que se despoja de si mesmo e de tudo, ao simples, àquele que vive segundo o Espírito, àquele que tem um olhar e o coração limpos. O coração limpo e a ausência de todo interesse torcido permitem o simples discernir a ação de Deus na história. Os simples são os que, ao se esvaziarem de si mesmos, se abrem a Cristo e aos irmãos. Por isso, eles são preferidos de Deus. A atitude dos simples é, portanto, a alternativa diante da obstinada petulância dos soberbos.  Não é por acaso que Mahatma Gandhi dizia: “Como Deus se encontra mais freqüentemente entre suas criaturas mais humildes do que entre os poderosos, esforço-me por me colocar no nível das primeiras- o que só se pode fazer colocando-se a seu serviço. Daí minha paixão pelo serviço das classes oprimidas. Servir é a minha religião. Não me inquieto com o futuro”.


Eu Te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos”. Que esta oração de Jesus seja um grande motivo para voltarmos a viver  na beleza da simplicidade, pois uma vida de louvor a Deus e uma vida vivida na simplicidade é uma vida leve, alegre, animada e cheia de esperança.

P.Vitus Gustama, SVD

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