TRANSFORMAR
A FAMILIA HUMANA EM FAMÍLIA DE DEUS
Terça-feira da XVI Semana
Comum
23 de Julho de 2013
Texto de Leitura: Mt 12, 46-50
(Veja a reflexão da festa de Nossa
Senhora do Carmo)
Naquele tempo, 46 enquanto Jesus
estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando
falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí
fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus perguntou àquele que tinha falado: “Quem
é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 49 E, estendendo a mão para os discípulos,
Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois todo aquele que faz a
vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha
mãe”.
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A maior parte das religiões do
mundo se apóia na família, comunidade natural. Jesus edifica sua religião ou
sua comunidade não sobre as relações familiares, e sim sobre uma comunidade de
tipo seletivo em virtude da fé para elevar a família humana para a família de
Deus. Para divinizar a família humana é preciso que Deus seja o centro de cada
família e é preciso que cada membro viva de acordo com a Palavra de Deus.
A evolução do mundo técnico tende a
tirar o homem de suas comunidades naturais para submergi-lo em comunidades mais
“artificiais” ou “mais seletivas”. Por isso, a família vive, muitas vezes, de
maneira dramática o conflito das gerações que caracteriza a nossa época. Os
pais rezam melhor em companhia de seus amigos do que em família, com seus
filhos e familiares. Mas se todos se preocuparem com a vontade de Deus ao
praticar o bem, ao viver o amor fraterno, o único que nos edifica, humaniza e
diviniza, acabarão salvar a comunidade natural que é a família humana. Por
isso, Jesus afirma hoje: “Todo aquele que
faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe” (Mt 12,50). O verbo “fazer” é característico da narração do
evangelista Mateus. Os fariseus dizem e não fazem (Mt 23,3.15). Unir-se a
Cristo não significa outra coisa que fazer a vontade de seu Pai. No evangelho
de São João Jesus fala de outra maneira para a mesma coisa: “Vós sois meus
amigos se praticais o que vos mando” (Jo 15,14). Trata-se de uma família ou uma
comunidade de Deus, e por isso, de uma comunidade de salvação.
Jesus, por sua encarnação, entrou
no mundo e formou parte de nossa humanidade, de uma verdadeira humanidade, com
os laços de sangue e de cultura. Ele se tornou humano para nos divinizar. Ele
nasceu numa família para santificar a família. Ele viveu em um país
determinado, Palestina; tinha uma mãe, Maria. Essas realidades humanas têm
grande importância, constituem realmente o lugar de nossa vida.
“Quem é minha mãe? Quem são meus
irmãos?”, pergunta Jesus. A pergunta não significa um desprezo de Jesus à sua
mãe, Maria. Maria sempre cumpriu a vontade de Deus: “Eu sou a serva do Senhor;
faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Ela foi chamada pelo anjo
Gabriel de “cheia de graça” e que ela “está com o Senhor” (Lc 1,28). Além
disso, ninguém amou Sua mãe melhor que o próprio Jesus. E nenhuma mãe amou
melhor seu Filho, Jesus Cristo, Deus-Conosco do que a própria Maria, a mãe de
Jesus. Ela acompanhava seu filho Jesus até ao pé da cruz, enquanto muitos
discípulos o abandonaram (Jo 19,25-27).
É claro que a resposta de Jesus
para a própria pergunta mostra que Jesus relativiza os vínculos familiares em
função da vontade de Deus. Com esta pergunta Jesus quer nos revelar algo muito
importante: o discípulo, cada cristão, cada cristã que vive os ensinamentos de
Jesus é um parente de Jesus. Jesus oferece aos homens a qualitativa intimidade
de sua família. A família humana de Jesus viveu conforme a vontade de Deus:
José que criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que vive segundo os
mandamentos de Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi chamada pelo anjo
de “cheia de graça” (cf. Lc 1,28).
Por isso, a família humana de Jesus
serve de exemplo para todas as famílias humanas. Que é possível formar uma
família de Deus nesta terra quando Jesus se torna o centro de todos. Quando
Jesus fica no meio, tudo se ordena e tudo se une e todos formarão um círculo de
irmãos ao redor de Jesus Cristo. Quando Cristo se torna o centro, todos ficarão
olhando para Ele para saber o que se deve fazer e como se deve fazer. Se alguém
ocupar o centro, que é o lugar de Cristo, todos terão um olhar sem direção ou
cada um vai criando sua própria direção. “Onde
te envaideceste, ali mesmo caíste” (Santo Agostinho. Serm. 131,5). Jesus Cristo deve ser o fator central para que todos
tenham a mesma direção: formar uma família divina logo nesta terra onde o amor
fraterno é a única identidade para todos: “Nisto
reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros”
(Jo 13,35). “Quando se enfraquece o
amor, também se enfraquece o fervor”, dizia Santo Agostinho (In ps. 85,24).
A única maneira de salvar a família humana ou qualquer comunidade é
transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo com os mandamentos
de Deus.
Entre Deus e os homens já não há
somente relações frias de obediência e de submissão como entre o patrão e o
empregado. Com Jesus entramos na família divina, como seus irmãos e irmãs, como
sua mãe. Se em todos os meus atos e atitudes de cada dia, se em todos os
minutos de minha vida procurar me manter unido a Deus, serei irmão de Jesus,
farei parte da família de Deus desde aqui na terra junto aos outros irmãos e
irmãs no mundo inteiro que fazem a mesma coisa.
“Todo aquele que faz a vontade do
meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”. O Reino de Deus cria uma nova família que ultrapassa todos os laços terrenos sem diminuir o valor da família. A vivência da vontade de Deus eleva a família humana para o nível divino. Por isso, a
frase de Jesus acima citada deve servir de orientação para nossa vida diária. Será que faço parte da
família de Jesus?
P. Vitus Gustama,svd
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