PALAVRA DE DEUS NOS TORNA
COMPASSIVOS
Terça-feira da XIV Semana
Comum
09 de Julho de 2013
Texto de Leitura: Mt
9,32-38
Naquele tempo, 32
apresentaram a Jesus um homem mudo, que estava possuído pelo demônio. 33 Quando
o demônio foi expulso, o mudo começou a falar. As multidões ficaram admiradas e
diziam: “Nunca se viu coisa igual em Israel”. 34 Os fariseus, porém, diziam: “É
pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios”. 35 Jesus percorria todas
as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do
Reino, e curando todo o tipo de doença e enfermidade. 36 Vendo Jesus as
multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como
ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: 37 “A messe é grande,
mas os trabalhadores são poucos. 38 Pedi pois ao dono da messe que envie
trabalhadores para a sua colheita!”
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Palavra Na Nossa Vida Cotidiana
A primeira parte do evangelho de hoje fala
da cura de um mudo que logo em seguida ele começou a falar.
Deus criou o homem dotado de fala. A
palavra é um dos grandes meios de comunicar-se com os irmãos (através da
própria palavra pronunciada ou através de algum gesto para transmitir alguma
mensagem). A palavra é que nos vincula aos outros. A palavra pontua nossa vida
cotidiana. A palavra é também algo que nos liga a nós mesmos. Quantas vezes, ao
acordar de manhã ou em determinadas situações na nossa vida cotidiana, nós
falamos a nós mesmos. A palavra nos acompanha quase o tempo todo, até mesmo,
paradoxalmente, o silêncio, que se tornou tão raro no mundo moderno, tem
significado por causa dela. Há profissões que usam menos palavra. Mas há também
profissões que trabalham com palavra e dependem da palavra para transmitir sua
mensagem ou seu ponto de vista sobre algo na vida ou na sociedade. A palavra
está no âmago de nossa vida pessoal, familiar, social e profissional. Já
imaginou se você pudesse contar quantas palavras ditas diariamente por você? Creio
que você mesmo ficaria assustado ou admirado por tantas palavras ditas em vão,
ao mesmo tempo por tantas palavras que saíram de sua boca que ajudaram tantas
pessoas por terem sido boas! Milhares e milhares de pessoas mudaram de
qualidade de vida por causa da palavra ouvida de outras pessoas ou lida em um
bom livro. Cada palavra representa uma realidade ou um mundo contido nela. Você
já pensou quantos mundos contidos numa frase que pronunciamos ou escrevemos?
Mas será que cada frase pronunciada ou escrita representa mesmo a realidade ou
inventamos frases e frases para enganar os outros? Será que em cada frase
contém a verdade? Será que levamos em conta a caridade e a fraternidade ao
soltar/pronunciar ou ao escrever alguma frase?
Deus quer que o homem se comunique.
Se alguém não se comunicar, se está sempre quieto ou mudo, é sinal de que
alguma coisa está errada nele fisicamente, ou psiquicamente ou espiritualmente.
A fala é dom de Deus, tanto que São João, no Prólogo de seu evangelho dá um
titulo muito significativo a Jesus: Palavra ou Verbo (Jo 1,1-14). Jesus é a
Palavra de Deus para nós; é a comunicação de Deus para nós. Através de Jesus é
que Deus fala conosco: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo
1,14). O próprio Pedro, no seu discurso
no livro dos Atos dos Apóstolos, nos disse: “Deus enviou a sua palavra aos
filhos de Israel, anunciando-lhes a boa nova da paz, por meio de Jesus Cristo.
Este é o Senhor de todos” (At 10,36). Como é que opera a Palavra de Deus na
vida do homem? O autor da Carta aos Hebreus responde: “A palavra de Deus é
viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a
divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e
intenções do coração. Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto
aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas” (Hb 4,12-13). Mas nem a boca santa de Jesus que emite a
Palavra de Deus terá qualquer efeito na nossa vida, se nós estivermos surdos a
ela.
É bom notar que seremos também
julgados pelas palavras que dizemos ou pronunciamos sobre os outros, além dos
atos que praticamos. O livro de Provérbio nos alerta: “Nas muitas palavras
não falta ofensas; quem retém os lábios é prudente” (Pr 10,19). “A boca
dos justos é fonte de vida, mas a boca dos ímpios encobre violência” (Pr
10,11). Da mesma forma são Tiago nos diz: “Aquele que não peca no falar é
realmente um homem perfeito, capaz de frear todo o seu corpo” (Tg 3,2b).
Que nossas palavras não ultrapassem nossos atos para não sermos chamados de mentirosos
ou falsos. Por isso, São Tiago nos alerta: “Tornai-vos praticantes da
Palavra(de Deus) e não simples ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg
1,22).
A cura do mudo no texto do evangelho
de hoje se refere àquele que não quer escutar a voz de Deus, que não quer
seguir Seu projeto porque há outras coisas que o ensurdecem. Biblicamente o
surdo-mudo (o termo grego “kôphos” significa surdo, mudo e
surdo-mudo) é aquele que perde o contato com sua própria realidade de filho de
Deus. Ele vive paralisado porque está privado da comunicação com o único que o
faz livre: Deus (através de Sua Palavra).
Jesus veio ao mundo unicamente para
fazer o bem, como pregou o Apóstolo Pedro: “Vós sabeis como Deus ungiu a
Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o
bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele”
(At 10,38). Mas sabemos muito bem que até para fazer o bem encontramos
dificuldades e críticas como aconteceu com Jesus no texto do evangelho de hoje.
Jesus libertou um surdo de sua mudez e começou a falar. Jesus foi criticado por
causa disso: “Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que
ele expulsa os demônios” (Mt 9,34). Mas “a acusação teológica (dos
fariseus) não é mais que um pretexto que apenas dissimula sua sede de
autoridade sobre o povo”, comentou P. Bonnard. Atrás de uma acusação ou crítica
há interesse. Mas a questão é esta: que tipo de interesse?
Ser Compassivo Como Cristo
A segunda parte do texto do evangelho de
hoje (Mt 9,35-38), na verdade, é uma introdução para o discurso de Jesus sobre
a missão (Mt 9,35-10,16).
Esta segunda parte fala da compaixão
de Jesus pela multidão: “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas...”.
Jesus sempre se compadece pelos que sofrem como o mudo no evangelho de hoje. A
compaixão é uma das características de Deus.
Uma verdadeira compaixão não olha o
necessitado de cima para baixo (sentimento de superioridade), mas é capaz de padecer-com,
sentir-com para daí atuar. Cada compaixão sempre tem a ver com o deixar
aproximar-se, prestar atenção, sentar-se à mesma mesa, chamar pelo nome, perceber
a necessidade, oferecer a ajuda. A compaixão é comover-se até as entranhas,
solidarizar-se profundamente, sentir-se a partir de outrem; é sofrer com (Latim: pati + cum, compaixão = sofrer com). A compaixão requer que estejamos
com as pessoas que sofrem e dispostos a partilhar nosso tempo com elas. É estar
no lugar do outro para sentirmos o que ele sente e ajudar no que puder dentro
do limite da capacidade. Por isso, pode-se dizer que a verdadeira compaixão é
muito humana e divina simultaneamente. Quando compartilhamos nosso coração e
tempo com uma pessoa que sofre, uma parte do sofrimento dela será aliviada. Vamos
deixar o resto com Deus desde que façamos nossa parte até o limite de nossa
capacidade. Somos seguidores do Deus da Compaixão que se tornou carne em Jesus
Cristo. A compaixão deve se tornar carne também em nós.
P. Vitus Gustama,svd
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