SER DESPOJADO, SIMPLES, PACÍFICO, PRUDENTE
E DESARMADO
Quinta-feira da XIV Semana Comum
11 de Julho de 2013
Texto de
leitura: Mt 10,7-15
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 7 “Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. 8
Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os
demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar! 9 Não leveis ouro nem prata
nem dinheiro nos vossos cintos; 10 nem sacola para o caminho, nem duas túnicas
nem sandálias nem bastão, porque o operário tem direito a seu sustento. 11 Em
qualquer cidade ou povoado onde entrardes, informai-vos para saber quem ali
seja digno. Hospedai-vos com ele até a vossa partida. 12 Ao entrardes numa
casa, saudai-a. 13 Se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; se ela não
for digna, volte para vós a vossa paz. 14 Se alguém não vos receber, nem
escutar vossa palavra, saí daquela casa ou daquela cidade, e sacudi a poeira
dos vossos pés. 15 Em verdade vos digo, as cidades de Sodoma e Gomorra serão
tratadas com menos dureza do que aquela cidade, no dia do juízo.
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Continuamos a estar ainda no
discurso de Jesus sobre a missão (Mt 9,36-11,1). Na passagem do evangelho de hoje Jesus dá
algumas instruções para seus discípulos na tarefa de proclamar a Boa Nova.
Primeiramente, Jesus disse aos
discípulos: “Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos céus está próximo’”.
Jesus coloca em primeiro lugar o anúncio da Boa Nova. Onde quer que ande um
seguidor de Jesus deve falar somente coisas boas. O evangelizador é aquele que
sempre leva adiante o que é bom e o que é certo e o que edifica. Um seguidor
não pode perder tempo em falar ou em discutir coisas que não edificam a
humanidade. Qualquer cristão não pode desperdiçar o tempo com coisas fúteis,
pois para ele cada minuto é o minuto da graça de Deus (Kairós). A vida vivida apenas para satisfazer a própria
vida nunca satisfaz a vida de ninguém. Não há melhor exercício para fortalecer
o coração do que estender o braço para baixo e erguer pessoas esmagadas pelo
peso da vida vivida. O propósito verdadeiro de nossa existência é fazer uma
vida válida, bem feita e útil. Praticar e pregar o bem! Esta é a tarefa
principal de qualquer cristão. Tudo o mais virá depois: “Buscai, em primeiro
lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas outras coisas vos serão
acrescentadas” (Mt 6,33).
“Proclamai que o reino de Deus
está próximo”. Muitas vezes se busca Deus demasiadamente longe. De fato ele
está próximo de nós. O Deus que Jesus revela é um Deus próximo, um Deus
amoroso. Por isso, jamais eu estou sozinho, inclusive quando me sinto
abandonado ou solitário, nem na minha doença e morte, pois Deus está comigo.
Para poder proclamar aos demais sobre a bondade, a proximidade da presença de
Deus, o cristão-missionário há que ter feito a experiência do Deus próximo em
si mesmo pessoalmente.
“Curai os doentes, ressuscitai os mortos,
purificai os leprosos, expulsai os demônios”. Jesus já tinha feito tudo isso: Ele curou os
enfermos (Mt 8,5-15); purificou os leprosos (Mt 8,2-4); ressuscitou os mortos
(Mt 9,23-25); expulsou os demônios (Mt 8,28-34). O cristão-missionário é aquele
que distribui benefícios, aquele que faz o irmão crescer e viver a vida
dignamente, aquele que leva a paz. A exemplo de Cristo, o cristão é aquele que
vive fazendo o bem para onde for, onde estiver e com quem estiver. O cristão é
aquele que pratica o bem nos momentos oportunos e inoportunos.
“Não leveis ouro nem prata nem
dinheiro nos vossos cintos; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas nem
sandálias nem bastão, porque o operário tem direito a seu sustento”. O ouro e a prata (os bens materiais) nunca vão
ser nossos amigos. Eles são apenas meios para facilitar nosso trabalho, mas
continuam sendo alheios a nós. O ser humano tem gostar do ser humano. O cristão
tem que gostar de gente.
Na sua instrução, Jesus pede aos
discípulos para que vivam despojados: não levar nem ouro, nem prata, nem
sandálias, nem bastão. Estas exigências parecem estar tomadas das normas
estabelecidas para participar do culto a Deus no templo: “que ninguém entre no
templo com bastão, sapatos nem com a bolsa de dinheiro”. Partindo desta norma
judaica se diria simplesmente que os discípulos, na realização de sua tarefa
evangelizadora devem fazer a mesma coisa diante de Deus e devem viver como
estando na presença de Deus, sabendo que o êxito da missão depende de Deus.
A expressão “Estar desarmados e
despojados” é usada para enfatizar que a obra é de Deus e não de um ser humano.
Este estilo é chamado de “pobreza evangélica” que não se apóia unicamente nos
meios materiais e nas técnicas, e sim na ajuda de Deus e na força de Sua
palavra. Nós devemos confiar mais na força de Deus do que em nossas qualidades
ou meios técnicos. O homem que se deixa conquistar pelo despojamento, deixa de
estar alienado ou agarrado a qualquer coisa. O despojamento se torna um
encontro libertador consigo próprio. ”Não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és”,
dizia Santo Agostinho (Serm. 23,3).
“Recebestes de graça, de graça
dai!”. Além de ter uma vida despojada, o cristão deve ser generoso e viver
na gratuidade. O cristão-missionário deve atuar com desinteresse econômico, não
buscando seu próprio proveito. Todos sabem que quanto mais se tem, mais se
quer. A felicidade ficará cada vez mais distante quando o ser humano começar a
criar mais necessidades. O espírito materialista é como beber a água salgada:
quanto mais você beber, mais sede você terá. Aquele que sabe reduzir ao mínimo
suas necessidades encontra uma alegria e uma liberdade maior. Possuído ou
dominado pelas coisas o homem perde sua liberdade. “Onde só o amor serve e não a necessidade, a
escravidão se torna liberdade” (Santo Agostinho. In ps. 99,8).
“Entrando numa casa, saudai-a:
Paz a esta casa. Se aquela casa for digna, descerá sobre ela vossa paz; se,
porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós”. O cristão jamais pode ser uma pessoa
agressiva verbal e fisicamente. A serenidade produz outra serenidade. Cada sorriso
gera outro sorriso. O cristão deve propor a Boa Nova e não se pode impor: os
homens ficam livres. A tarefa do cristão-missionário é oferecer a paz e a
alegria. Dar alento. O cristão deve saber que o trabalho não é forçar de
qualquer maneira, nem Jesus fez isso. A tarefa do cristão-missionário é
formular a proposta clara e convincente e logo deixa para a liberdade do homem.
A missão está marcada pela
constante ameaça dos anti-valores da sociedade e pela oposição dos filhos das
trevas. Estes são verdadeiros lobos que sacrificam seus irmãos para obter
benefícios pessoais. Os evangelizadores não podem ser ingênuos diante deles. Os
cristãos devem manter sua simplicidade, mas acompanhada pela prudência para
agir sabiamente e eficazmente: “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos.
Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas”.
Em resumo: o cristão deve ser
despojado, simples, pacífico, prudente e desarmado. Só com estas qualidades ele
convence qualquer um para ser parceiro do bem e para ganhar novos evangelizadores.
P. Vitus Gustama, SVD
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