TODOS OS CRISTÃOS SÃO
MISSIONÁRIOS DO BEM
Quarta-feira da XIV
Semana Comum
10 de Julho de 2013
Texto de Leitura: Mt 10,1-7
Naquele tempo, 1 Jesus
chamou os doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos maus e de
curar todo tipo de doença e enfermidade. 2 Estes são os nomes dos doze
apóstolos: primeiro, Simão chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de
Zebedeu, e seu irmão João; 3 Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o
cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 4 Simão, o Zelota,
e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus. 5 Jesus enviou estes
Doze, com as seguintes recomendações: “Não deveis ir aonde moram os pagãos, nem
entrar nas cidades dos samaritanos! 6 Ide, antes, às ovelhas perdidas da
casa de Israel! 7 Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está
próximo’”.
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Terminada a serie de milagres
narrados depois do Sermão da Montanha, entramos agora no segundo dos cinco
grandes discursos de Jesus no evangelho de Mateus. Este segundo discurso é
conhecido como o Discurso missionário que abrange Mt 9,36-11,1 (Os cinco
grandes discursos: Mt 5,1-7,28: Sermão
da Montanha; Mt 9,36-11,1: Discurso
missionário; Mt 13,1-52: Discurso
sobre o Reino em parábolas; Mt 18,1-35: Discurso sobre a vida comunitária/Igreja; Mt 23/24,1-25,46: Discurso sobre o Julgamento final/ a Vinda
do Filho do Homem).
Notemos que a missão em Mt não se
limita apenas aos doze, mas para todos aqueles que queriam seguir a Jesus. Por
isso, neste discurso sobre a missão não se fala nem da partida dos doze (cf. Mc
6,12-13; Lc 9,6) nem do seu regresso (cf. Mc 6,30; Lc 9,10). O discurso sobre a
missão não é endereçado para a multidão e sim para os discípulos que serão
enviados. Podemos dizer que este discurso serve como um tipo de “manual” para
os seguidores de Jesus na tarefa de exercer a missão.
Os Doze são enviados com algumas
instruções básicas. A primeira instrução de Jesus é “Não tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos”
(v.5). Podemos ter duas interpretações deste versículo. Primeiro, ele reflete
uma tensão viva na comunidade de Mt onde certos grupos de origem judia não
compreendiam nem aceitavam a missão aos pagãos. Segundo, na cultura de Jesus, a
palavra “estrada/caminho” significa caminho ou modo de viver. Jesus pode ter
querido dizer que não sigam o modo de viver dos pagãos que são idólatras.
A segunda instrução, “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de
Israel” (v.6). Em Mt encontramos duas etapas da missão. Na primeira etapa
(Mt 10), a missão de Jesus e de seus discípulos é limitada para as “ovelhas
perdidas de Israel”. Aqui não se fala da seleção entre os melhores, mas
trata-se de gente necessitada. Foi para as pessoas necessitadas de Israel que
foram enviados os Doze. Na segunda etapa (Mt 28,19), o mandato missionário será
para espalhar a Boa Nova a todos os povos.
Estas duas etapas da missão nos
trazem uma lição muito importante para nossa comunidade: somos chamados a
cuidar tanto dos de dentro da comunidade (missão ad intra), como dos de fora (missão ad extra). A Igreja ou comunidade sem caridade interna, não tem
força para dar testemunho crível para os de fora da comunidade. O testemunho
interno de comunhão é o primeiro passo para um anúncio mais eloqüente. Mas o
cuidado com os de dentro não pode ser uma desculpa para ignorar os de fora. Ou,
o cuidado com os de fora não justifica a falta de tempo ou atenção para com os
de dentro. Temos, muitas vezes, mais facilidade de sorrir para os de fora do
que para os de dentro. “É mais fácil simular virtudes que possuí-las. Por
isso, o mundo está cheio de farsantes” (Santo Agostinho).
Pela profissão de cada escolhido no
Evangelho de hoje percebemos que Jesus não buscou primeiro reunir pessoas
ilustres, e sim pessoas disponíveis, capazes de segui-Lo até o fim. São aqueles
que darão sua vida por Ele (pelo Reino de Deus e sua justiça). Ouvimos muitas
vezes a seguinte frase: Deus não escolhe os capacitados, mas Ele capacita os
escolhidos. A vocação divina é sempre um mistério no sentido de que não temos
capacidade para entender tudo, pois está fora de nosso alcance humano.
Jesus é um grande organizador de
comunidades de homens e mulheres. Havia
muitas pessoas inquietas, mas necessitavam de um fator de coesão, de um líder
que os vinculava e os ajudava a crescerem como pessoas. Esta faceta de
organizador e de promotor de organizações comunitárias está condensada nos
relatos de eleição dos doze missionários ou apóstolos para continuar a missão.
E aqui está condensado um dos seus ensinamentos fundamentais: a comunidade
cristã (pastorais, movimentos, grupos eclesiais ect.) existe para evangelizar.
Não há outro motivo maior do que este. A comunidade cristã existe porque há um
“povo cansado e abatido” diante do qual cada membro da comunidade cristã é
chamado a ser solidário capaz de aliviar a dor alheia e de dar resposta a partir
de sua própria insignificância e debilidade. Cada um de nós, apesar das
fraquezas, tem algo de bom para ser partilhado para os outros. Se cada um tirar
um pouco de bom de dentro de seu coração o cristianismo vai fazer diferença na Igreja
e na sociedade.
Segundo o texto do evangelho deste
dia, o papel essencial dos escolhidos é expulsar os “espíritos imundos” e
“curar os homens” de seus males. Em outras palavras são enviados para fazer o
bem e destruir o mal. São chamados para ser parceiros do bem e enviados em
busca de outros parceiros do bem.
Judas Iscariotes faz parte de seu
grupo. É aquele que vai trair o próprio Mestre em nome de dinheiro (cf. Mt
26,14.47; Mc 3,19;14,10; Lc 22,47; Jo 13,21-30;18,2). Ele também foi enviado
para a missão, uma grande missão. Jesus tomou esse risco ao confiar a
responsabilidade de sua obra para pobres humanos. Por isso, há que rezar sempre
por aqueles que têm responsabilidade na Igreja. Cada um de nós também tem uma
missão, cada um é responsável, em uma parte da obra de salvação de Jesus.
Jesus é muito consciente da
amplitude de sua obra. É necessário ter muito tempo. Sem pressa Jesus limita a
missão no momento só dentro do território de Israel. Ele mesmo, durante sua
vida terrena, se limitou ao que podia fazer: dirigir-se às ovelhas agarradas da
casa de Israel. Mais tarde ele enviará os discípulos pelo mundo inteiro (Mt
28,18-20). Em outras palavras, é preciso arrumar primeiro a casa. É preciso
evangelizar os que estão dentro de casa para depois evangelizar os que estão
fora dela que nem sempre é fácil. É o desafio de cada
missionário-evangelizador.
Ao enviá-los Jesus dá-lhes o poder.
Mas este poder deve ser entendido como um dom de autoridade. A palavra
autoridade provém do latim augere que significa crescer. Somente tem
autoridade aquele que é capaz de fazer o outro crescer. A autoridade dada por Jesus tem as
seguintes características: (1).
Está orientado por inteiro ao ministério apostólico, ou para o serviço (do bem)
e não para dominar ou mandar e desmandar: expulsar o mal, fazer o bem, pregar o
Reino. É um dom completamente missionário. Por isso, não se trata de nenhum
poder de direção ou de governo. (2). É
uma autoridade conferida, mas não abandonada por Jesus a seus discípulos. (3). Jesus reconhece que haverá oposição por causa
do jogo de interesses mesquinhos.
Nem todos são sucessores dos
apóstolos, mas todos são seguidores de Jesus e por isso, devem continuar, cada
um em seu ambiente, a missão que cada um recebeu no batismo. Todos nós formamos
a Igreja “apostólica” e “missionária”. Por isso, não vamos à missa para ir à
missa. Que a missa é, de uma parte, a expressão de nossa fé, de nossa esperança
e de nossa caridade. Mas de outra parte, a missa é sempre um imperativo, uma
exigência para fazer operativa nossa fé, nossa esperança e nossa caridade. Por
isso, quando finaliza a missa, começa a realidade na vida; quando termina a
celebração eucarística ou qualquer reunião eclesial, deve começar nosso
compromisso cristão; quando termina a missa, deve começar a missão. Se não a
missa careceria de sentido.
Somos chamados por Jesus Cristo
para estar com ele a fim de aprendermos a ser parceiros do bem. Somos enviados
depois do encontro com ele para fazer o bem e em busca dos novos parceiros do
bem. A alma da missão é caridade. A única coisa que nos faz bem é fazer o bem. A
vida não é uma luta para superar os outros, mas uma missão a ser exercida para
dar o melhor de nós para a humanidade conforme os talentos recebidos de Deus.
Estamos aqui neste mundo com um objetivo único, com um objetivo nobre que nos
permitirá manifestar nosso mais alto potencial enquanto, ao mesmo tempo,
acrescentamos valor às vidas das pessoas que estão a nossa volta. Descobrir a
própria missão significa trazer mais de você mesmo para o trabalho, para a
convivência e concentrar-se nas coisas que você sabe fazer melhor e dar sempre
o melhor de você para os outros sem esperar nada em troca.
O que você tem feito e
pode ainda fazer pelo Senhor e pela sua Igreja? “Faze o que
podes. Deus não te pede mais” (Santo Agostinho. Serm.
128,10,12). “Deus não condena quem não pode fazer o que quer, e sim quem
não quer fazer o que pode” (Santo Agostinho. Serm. 54,2).
P. Vitus Gustama, SVD
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