14/03/2015
HUMILDADE NO REZAR E
NO AGIR
Textos: Os 6,1-6; Lc 18, 9-14
Naquele tempo ,
9Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua
própria justiça
e desprezavam os outros : 10“Dois homens subiram
ao Templo para
rezar : um era fariseu , o outro cobrador
de impostos . 11O fariseu , de pé ,
rezava assim em
seu íntimo :
‘Ó Deus , eu
te agradeço porque
eu não
sou como os outros
homens , ladrões ,
desonestos , adúlteros ,
nem como
este cobrador
de impostos . 12Eu jejuo duas vezes
por semana ,
e eu dou o dízimo
de toda a minha
renda ’. 13O cobrador de impostos , porém ,
ficou à distância , e nem se atrevia a levantar
os olhos para
o céu ; mas
batia no peito , dizendo: ‘Meu Deus , tem piedade de mim que sou pecador !’
14Eu vos
digo: este último
voltou para casa
justificado, o outro não . Pois quem se eleva será humilhado, e quem
se humilha será elevado ” (Lc 18,9-14).
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Oração é um dos temas preferidos do
evangelista Lucas. Lucas é o evangelista da oração. Ele é o único evangelista
que inicia (Lc 1,8-10) e termina (Lc 24,53) seu evangelho com o tema da oração.
É ele quem mais nos apresenta Jesus orando, principalmente nos momentos
decisivos de sua vida: no Batismo (Lc 3,21), na escolha dos discípulos (Lc
6,12), na profissão de fé de Pedro (Lc 9,8), na transfiguração (Lc 9,28s), no
Getsêmani (Lc 22,39-46) e na cruz (Lc 23,34.46). Jesus também ensina os
discípulos a orar (Lc 11,1ss). No evangelho de Lucas podemos encontrar as
orações mais conhecidas e citadas pela Igreja: o Magnificat (Lc 1,46-56); o
Benedictus (Lc 1,67-79); o Glória (Lc 2,14); o Nunc Dimittis (Lc 2,29-32). Além
disso, Lucas ainda conta três parábolas sobre a oração (Lc
11,5-13;18,1-8;18,9-13). E na sua segunda obra (nos Atos) Lucas nos fala
novamente deste tema. Ele nos apresenta a Comunidade Primitiva como uma
comunidade orante (At 1,14;2,42). A oração está presente nos momentos mais
importantes da Igreja Primitiva (At 1,24;8,15;11,4;12,5;13,2;14,23).
O texto do evangelho de hoje fala da
oração de um publicano humilde e de um fariseu arrogante. Sobre a oração o Novo
Catecismo da Igreja Católica diz: “A oração é um dom da graça, mas pressupõe sempre uma resposta decidida
da nossa parte, porque o que reza combate contra si mesmo, contra o ambiente e,
sobretudo, contra o Tentador, que faz tudo para retirá-lo da oração. O combate
da oração é inseparável do progresso da vida espiritual. Reza-se como se vive,
porque se vive como se reza” (Compêndio do Novo Catecismo, 572; Novo
Catecismo, no. 2725).
Não nos esqueçamos: o Tentador quer
nos tirar da oração, pois rezar é conversar com Deus. E o Tentador não quer que
conversemos com Deus. quem não reza (conversar com Deus), pode acabar
conversando com o adversário (satanás) ou com o diabo (aquele que cria a
desunião e divisão). Além disso, quem não conversa com Deus, gosta de falar de
si próprio (egolatria). Quem conversa com Deus permanentemente, torna-se mais
humano ou se humaniza. Quem se humaniza, torna-se irmão do outro. A oração nos
serena, pois confiamos totalmente n’Aquele que torna tudo existir e possibilita
o que é impossível (cf. Lc 1,37). Quanto mais crescermos na espiritualidade,
mais rezaremos, pois “O combate da oração é inseparável do progresso da vida
espiritual”. A verdadeira oração nos torna mais humildes ou mais nós mesmos. A
oração potencia nossa humanidade.
Estamos na parte
do evangelho de Lucas na qual se fala do
caminho de Jesus para
Jerusalém onde será morto
e ressuscitado (Lc 9,58-19,28). Jesus está na etapa
final de seu
caminho (Lc 17,11-19,28). Durante esse caminho Jesus dá muitas lições
importantes para
seus discípulos .
Na passagem
do evangelho deste dia
Jesus continua a enfatizar sobre
a importância da oração
perseverante e humilde (Lc 18,1-14) que já se
iniciou na passagem anterior
deste texto . Para
falar da oração
humilde Jesus conta
uma parábola na qual
ele coloca em
confronto dois tipos de atitude diante de Deus
representados por um
fariseu e um
publicano, como protagonistas
da parábola : o fariseu
que se elogia
desprezando o outro e o publicano que simplesmente
pede a misericórdia de Deus sem desprezar ninguém , porque ele tem consciência de seus
pecados .
Na “oração ”
do fariseu , Deus
ficou esquecido e somente o EU
predomina: Eu não sou como os
demais , eu
jejuo, eu pago
o dízimo . A arrogante
consciência de ter
feito alguma coisa ,
o faz acreditar que
Deus se tornou seu
Devedor , mas
é inútil . Ele
abusava da oração para
demonstrar sua
própria grandeza
a fim de se colocar
em destaque
diante dos demais .
É um verdadeiro
exibicionista . O exibicionismo
é a linguagem que
demonstra a ausência de um valor . Quando um valor cresce na experiência
espiritual de uma pessoa ,
ela ama
discrição , que
é a linguagem do tesouro
escondido, e se comunica pelo caminho
da simplicidade e da discrição . Toda
a arrogância é contra
ao amor fraterno
que é essencial
para uma convivência mais humana .
É curioso
comprovar que
os santos , os que
estão de verdade mais
perto de Deus ,
se consideram sempre uns grandes pecadores ,
pois eles
compreendem verdadeiramente o que o pecado significa. Somente à
luz de Deus
é possível reconhecer
a própria miséria .
O aproximar-se de Deus consiste em perder ou em abandonar nosso egoísmo e auto-suficiência para
encontrar a felicidade
de Deus .
Na parábola
o publicano se sente pequeno , não se atreve a levantar
os olhos ao céu ,
e por isso ,
sai do templo engrandecido. Reconhece-se
pobre e por
isso , sai enriquecido. Reconhece-se pecador e por isso , sai justificado. Com
razão o Livro
de Eclesiástico afirma: “Quem serve a Deus
como Ele
o quer , será bem
acolhido e suas súplicas
subirão até as nuvens .
A prece do humilde
atravessa as nuvens ” (Eclo
35,20-21).
Somos fariseus
quando vamos à igreja
não para escutar Deus e suas exigências ,
mas para
convidá-Lo a nos admirar
pelo bom que somos. Somos fariseus
quando esquecemos a grandeza
de Deus e nosso
nada , e cremos que
as virtudes próprias exigem o desprezo dos demais .
Somos fariseus quando
nos separamos dos demais
e nos cremos mais
justos , menos
egoístas e mais puros /limpos que os outros . Somos fariseus
quando entendemos que
nossas relações com
Deus têm de ser
quantitativas e medimos somente nossa
religiosidade pelas missas das quais participamos e não
pelo amor que vivenciamos com
os demais . A vaidade
nos faz perder
tempo em
coisas fúteis e sem
valor .
O evangelho
deste dia nos
chama a nos vestirmos da humildade. E
para que nos mantenhamos humildes jamais podemos nos esquecer que quem
presencia nossa vida e nossas obras é o próprio Senhor a Quem temos que
procurar agradar em cada momento. Se não estivermos vigilantes nisso, a soberba
vai nos dominar. E a soberba tem manifestações em todos os aspectos de nossa
vida: faz-nos susceptíveis, injustos em nossos juízes e em nossas palavras e
ações, faz-nos crer melhores do que os demais e negar as boas qualidades dos
outros e a soberba nos convence ter virtudes que não possuímos.
O Senhor se comove e esbanja suas
graças diante de um coração humilde. A soberba é o maior obstáculo que o homem
põe diante da graça de Deus. A soberba é o vício capital mais perigoso: se
insinua e tende até infiltrar-se até nas boas obras. Por causa da soberba as
boas obras perdem até seu mérito sobrenatural, pois as boas obras praticadas
são uma participação na bondade de Deus.
Nossa oração deve ser como a do
publicano: humilde, atenta, confiada, procurando que não seja monólogo em que
damos voltas a nos mesmos, às virtudes que cremos possuir. A humildade é o
fundamento de toda nossa relação com Deus e com os demais. Por isso, a
humildade atrai a bênção de Deus e a simpatia dos homens.
Sabendo que todos nós somos pecadores
não podemos desprezar aqueles que vivem dominados pela maldade, pelo vício e
assim por diante. Deus ama os pecadores e odeia o pecado. Por isso, o Senhor
tomou nossa natureza humana para nos salvar e nos levar junto de Si como Seus
amados. Por isso, fica a pergunta: temos rezado por as pessoas que vivem
dominadas por algum vício e alguma maldade? Sejamos compassivos nas nossas
orações por essas pessoas, pois quem é compassivo e justo brilhará com a mesma
Luz de Deus para os demais. Sejamos um sinal de Cristo, Luz do mundo,
dando-lhes nosso afeto, carinho e a caridade cristã. Rezemos/oremos uns pelos
outros, principalmente nesta Quaresma, para que o amor de Deus e sua salvação
cheguem a todos. ”Há pensamentos que são orações. Há
momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos”
(Victor Hugo)
Reflita o que
São Paulo escreveu: “Verdade
é que a minha
consciência de nada
me acusa, mas
nem por
isto estou justificado; meu juiz é o Senhor ” (1Cor
4,4). “As
melhores e as mais lindas coisas do mundo não se pode ver nem tocar. Elas devem
ser sentidas com o coração” (Charles Chaplin).
P. Vitus Gustama,svd
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