20/03/2015
O JUSTO ESTÁ AMPARADO NAS MÃOS
DE DEUS
Sexta-Feira da IV
Semana da Quaresma
Textos: Sb 2,1. 12-22;
Jo 7,1-2.10.25-30
Naquele tempo, 1Jesus
andava percorrendo a Galileia. Evitava andar pela Judeia, porque os judeus
procuravam matá-lo. 2Entretanto, aproximava-se a festa judaica das
Tendas. 10Quando seus irmãos já tinham subido, então também ele
subiu para a festa, não publicamente mas sim como que às escondidas. 25Alguns habitantes de Jerusalém disseram então: “Não é este a quem
procuram matar? 26Eis que fala em público e nada lhe dizem. Será
que, na verdade, as autoridades reconheceram que ele é o Messias? 27Mas
este, nós sabemos donde é. O Cristo, quando vier, ninguém saberá donde ele é”. 28Em alta voz, Jesus ensinava no Templo, dizendo: “Vós
me conheceis e sabeis de onde sou; eu não vim por mim mesmo, mas o que me
enviou é fidedigno. A esse, não o conheceis, 29mas eu o conheço,
porque venho da parte dele, e ele foi quem me enviou”. 30Então, queriam prendê-lo, mas ninguém pôs a mão nele, porque ainda
não tinha chegado a sua hora. (Jo 7,1-2.10.25-30).
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Jesus subiu a Jerusalém para a festa dos Tabernáculos . É a festa
judaica de maior
concorrência , que
celebrava o final da colheita
e preparava a próxima sementeira . As solenidades
no templo se prolongavam durante oito dias : “Quando
seus irmãos
já tinham subido, então
também ele
subiu para a festa ,
não publicamente, mas
sim como
que às escondidas ”
(Jo 7,10). Por si
mesmo , Jesus não
busca conflitos .
Mas o conflito
sempre vem porque
Jesus permanece fiel à missão recebida do Pai
para devolver a dignidade do homem
e para salvá-lo. Mesmo
assim , Ele
é cercado de ódio
dos adversários . É o ódio mortal . ”Quanto menor
é o coração , mais
ódio carrega”, dizia o pensador Victor Hugo. ”Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra
o ódio e o terror ”
(Charles Chaplin). Será que contém verdade no seguinte pensamento ?:
“Se você
odeia alguém , é porque
odeia alguma coisa nele que
faz parte de você .
O que não
faz parte de nós
não nos
perturba” (Hermann Hesse).
O texto
do Livro de Sabedoria
lido neste dia nos
apresenta como as forças
do mal , encarnadas nos
ímpios , querem e tentam sufocar
a força de Deus
que se manifesta
ou que
se encarna na vida dos justos . “Ímpio ”
é aquele que
não respeita
os valores comumente admitidos, ou , é aquele que revela impiedade ,
ou aquele
que tem desprezo
pela religião .
Impiedade é a ausência
de compaixão . É a crueldade ,
a barbaridade . Os ímpios ,
com seus
atos , geram a morte .
Sua visão
materialista da vida os incapacita a
valorizarem o que ultrapassa a razão : “... a malícia
os torna cegos ,
não conhecem segredos
de Deus , não
esperam recompensa para a
santidade e não
dão valor ao prêmio
reservado às vidas
puras” (Sb 2,21-22).
“Malícia ”
é aptidão ou inclinação para fazer o mal ; má índole ; malignidade , maldade ; ou habilidade para enganar , despistar . Todo ímpio tem
malicia. Os ímpios se deixam levar por uma existência sem sentido . Eles
vivem somente em
função dos prazeres ,
pois para eles não há outra vida além desta vida .
Eles detestam a censura
permanente que
a vida do justo
constitui para sua
vida depravada :
“Quem pratica o mal odeia a luz
e não se aproxima da luz , para que suas ações não sejam
denunciadas. Mas , quem
age conforme a verdade ,
aproxima-se da luz , para
que se manifeste que
suas ações
são realizadas em
Deus ” Jo 3,20-21). Quem vive somente em função dos prazeres é porque
não tem prazer
de viver . A vaidade ,
a prepotência , o egoísmo
tornam qualquer um
cego e incapacitam o homem de ver no outro seu irmão .
O justo, ao contrário, se gloria de
ter Deus como Pai e Deus como Pai não faz mal a ninguém, somente faz o bem. O
justo tem uma escala de valores e por isso, constitui uma acusação contra as
convicções mundanas dos ímpios. Por ser uma censura viva para seu modo de
viver, o justo é eliminado pelos ímpios. Mas “a vida dos justos está nas
mãos de Deus e nenhum tormento os atingirá” (Sb 3,1).
Para que o mundo não se torne surdo
Deus precisa permanentemente dos justos, dos honestos, dos verdadeiros, dos
coerentes e assim por diante. Jesus Cristo é o Justo por excelência e é o
protótipo do justo, pois seu alimento é fazer a vontade de Deus: “Meu
alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra” (Jo
4,34). Por Jesus ser justo em tudo, os seus adversários querem silenciá-lo para
sempre. Todas as acusações dos adversários contra Jesus nascem do ódio e de
raiva mórbida. Sb 2,1. 12-22
O texto da Primeira Leitura (Sb 2,1.
12-22) aparece como uma análise do que passará durante a Paixão de Jesus. No
evangelho de João a ameaça sobre a morte de Jesus é constante. À medida que
ficamos próximos da Semana santa será importante que dediquemos mais tempo para
contemplar o Cristo sofredor: Ele está cercado de morte, fruto de um ódio fatal
de seus adversários. Trata-se de uma experiência de estar rodeado e encurralado
de ódio. É sempre ter gente que está contra e busca nos prejudicar ou acabar
com nossa vida por vivermos uma vida digna, honesta e justa, como acabaram com
a vida terrestre de Jesus. Ao pé da cruz alguém vai fazer a gozação contra
Jesus: “Se tu és Filho de Deus...!”. Estas palavras continuam
ressonando: “Se tu és justo, bom, religioso, freqüentador da Igreja e tens
vida honesta e correta, por que Deus permite as coisas ruins na tua vida?”.
Jesus enfrenta tudo na serenidade porque Ele se sabe amado por Deus apesar do
sofrimento. No mesmo momento em que é odiado, acusado, isolado, Jesus se sabe
amado. Jesus é um homem cheio de paz ainda que esteja rodeado de homens
rancorosos, porque vive sua relação profunda com o Pai.
A Palavra de Deus foi e é proclamada
sobre nós para que ela se converta em nossa salvação. E ao entrar em comunhão
de vida com Jesus na Eucaristia é porque queremos entregar todo nosso ser para
o bem, para a salvação de todos. O mal não tem futuro algum. Acaba
destruindo-se a si mesmo. É essa a profunda convicção de Jesus. Por isso, ele
não pede ao Pai nenhum poder destruidor; não pede legiões de anjos que o
protejam. Tampouco o crucificado devolve o mal pelo mal, nem insulto por
insulto, nem profere ameaças (1Pd 2,23). Um poder desarmado e vulnerável pode
ser também um poder que desarma. O poder de Deus é o poder do amor que se
encarna na vida de Jesus. É esse poder do amor o que lhe permite exclamar: “Pai,
perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34), pois ele sabe que o
mal não tem futuro, somente o bem.
Jesus nos
ensina que
temos que nos
apegar a Deus
para manter nossa paz e serenidade apesar
da realidade dura
que nos
cerca , e não
ao caminho que
temos para ir até Ele , pois há vários caminhos para chegar até Deus . Não
podemos nos escravizar
a uma maneira como
a única maneira
para chegar até Deus , pois nos colocaremos como superiores
e fiscalizadores dos outros . Temos que estar abertos para qualquer forma que Deus queira
para se apresentar ou para se revelar .
Deus sempre
quer nos
surpreender em
todos os momentos .
“Se dizes
‘já basta ’,
estás perdido. Aumenta sempre , progride sempre ,
avança sempre ,
não pares
no caminho , não
voltas atrás ,
não te
desvies... Ninguém vence sem
lutar . Por isso , não
pedimos a Deus que
nos livre
das tentações , mas
que nos
preserve do mal ”,
dizia Santo Agostinho (De Serm. Dom . in mon. 2,9,31). “O mundo combate contra os soldados de Cristo
com duas armas
e táticas diferentes .
Uma arma é a sedução ;
sua tática ,
criar angústia . A outra é o medo ; sua tática , semear desanimo”, acrescentou Santo Agostinho (Serm. 276,2,2).
P. Vitus Gustama,svd
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