24/03/2015
Naquele tempo disse Jesus aos
fariseus: 21“Eu parto, e vós me procurareis, mas morrereis no vosso
pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir”. 22Os judeus comentavam: “Por acaso, vai-se matar? Pois ele diz:
‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’?” 23Jesus continuou: “Vós sois daqui debaixo, eu sou do alto. Vós sois
deste mundo, eu não sou deste mundo. 24Disse-vos que morrereis nos
vossos pecados, porque, se não acreditais que eu sou, morrereis nos vossos
pecados”. 25Perguntaram-lhe pois: “Quem és tu, então?” Jesus respondeu: “O que
vos digo, desde o começo. 26Tenho muitas coisas a dizer a vosso
respeito, e a julgar, também. Mas aquele que me enviou é fidedigno, e o que
ouvi da parte dele é o que falo para o mundo”.27Eles não
compreenderam que lhes estava falando do Pai. 28Por isso, Jesus
continuou: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu
sou, e que nada faço por mim mesmo, mas apenas falo aquilo que o Pai me
ensinou. 29Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou
sozinho, porque sempre faço o que é de seu agrado”. 30Enquanto Jesus
assim falava, muitos acreditaram nele.
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Eu Sou
A controvérsia entre Jesus e seus
adversários que começou em Jo 7 continua. Os adversários continuam a não
aceitar Jesus como o Enviado de Deus para salvar o mundo.
No texto do evangelho de hoje Jesus
usa a expressão “Eu sou”. Para o Povo eleito ou para a tradição judaica a
expressão “Eu sou” evoca o nome divino revelado a Moisés na sarça ardente: “EU
SOU Aquele que é” (Ex 3,14). Para os
fariseus ao usar a expressão “EU SOU” Jesus se iguala a Deus e isso é uma
verdadeira blasfêmia para eles. Eles não aceitam que Jesus se iguale a Deus e
por isso, eles perguntam a Jesus: “Quem és tu?”.
Ao afirmar para si próprio como “EU
SOU” Jesus quer revelar aos seus adversários sua radical e profunda comunhão
com o Pai (cf. Jo 17,21-23). Jesus está tão unido ao Pai a ponto de dizer que
não poderia viver sem fazer a vontade do Pai: “Meu alimento é fazer a
vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra” (Jo 4,34; cf.). Sinal
da profunda comunhão com o Pai é o trabalho de Jesus em salvar ou em fazer o
bem para todos os homens, especialmente para os excluídos e abandonados. Jesus
passou a vida fazendo o bem (cf. At 10,38).
Mundo Com Deus e Mundo
Sem Deus
“Se não
acreditais que eu
sou, morrereis nos vossos
pecados ”, diz nos
Jesus hoje .
Esta afirmação de Jesus se refere à
perda da salvação. O pecado é a incredulidade e o pecado para o evangelista se
identifica com a perda da salvação, igual à própria morte. Assim como a
salvação está na comunhão de vida com Jesus, assim a desgraça ou condenação
está na separação definitiva de Jesus. Por isso, Jesus diz: “Para onde eu vou,
vós não podes ir”. Para a incredulidade não há consumação alguma da comunhão com
Jesus. Esta consumação da comunhão acontecerá somente para os que crêem em
Jesus. Para estes é que Jesus promete: “Vou preparar um lugar para vós e
assim que estiver preparado um lugar para vós voltarei e vos levarei comigo a
fim de que onde estiver estejais vós também” (Jo 14,3). A incredulidade
como atitude básica e permanente exclui o homem da salvação, da vida eterna.
“Vós sois daqui de baixo, eu
sou do alto. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”, diz Jesus aos seus
inimigos. Estas palavras confirmam a diferença essencial que há entre Jesus e o
mundo, precisamente na origem diferente. O mundo ao qual Jesus se opõe é o
mundo sem referência a Deus. Este tipo de mundo pode estar presente tanto no
interior da Igreja como fora dela. Assim como o mundo de Deus pode estar
presente tanto na Igreja como fora dela. A fronteira dos dois mundos não
coincide com as fronteiras do cristianismo, pois um cristão pode ser um pagão a
partir de seu modo de viver e um pagão pode ser um cristão por causa de seu modo
de viver com os demais (cf. Mt 8,5-10).
Jesus, o revelador do Pai, pertence por completo à esfera divina. A
esfera divina pertence também aos que acreditam em Jesus Cristo. Enquanto que
os incrédulos ficam excluídos da mesma. Além disso, por si mesma, a
incredulidade não pode superar sua origem de “baixo”.
“Quando tiverdes elevado o
Filho do Homem, então, sabereis que eu sou”, diz Jesus. Este elevar do Filho do
Homem é a exaltação de Jesus mediante sua morte na cruz. Com esta conexão
estabelecida entre a cruz e a afirmação “Eu Sou” fica definitivamente claro
onde há que buscar e encontrar o lugar da presença salvadora de Deus: em Cristo
crucificado. Atrás da Cruz há vida e salvação. Jesus se torna o novo lugar da
presença de Deus em quem Deus sai ao encontro do homem dando-lhe a salvação e a
vida. Trata-se aqui da fé: do reconhecimento ou do não reconhecimento dessa
presença de Deus em Jesus. Por isso, a pergunta dos judeus da época “quem és
tu?” leva consigo a renunciar a crer. Rejeitar Cristo que é a vida, luz e
salvação, supõe optar pela morte, as trevas e a ruína eterna.
“Vós sois daqui de baixo”.
Os que
daqui de baixo, os do mundo se deixam levar pelas paixões desordenadas e pelo
espírito mesquinho de intolerância, mostrando-se insensíveis em relação aos
mais pequeninos, e não suportando quem lhes aponta os pecados, não se dão conta
do desígnio divino. São Paulo nos relembra muito bem ao dizer aos filipenses: “Já
vos disse muitas vezes, e agora o repito, chorando: há muitos por aí que se
comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus
deles é o ventre, a glória deles está no que é vergonhoso. Apreciam só as
coisas terrenas! Nós, ao contrário, somos cidadãos do céu. De lá aguardamos
como salvador o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso pobre corpo,
tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, graças ao poder que o torna capaz
também de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,18-21). Que não sejamos inimigos da Cruz de Jesus.
P. Vitus Gustama,svd
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