quarta-feira, 25 de março de 2015

28/03/2015
 
 

COMUNHÃO COM DEUS PRODUZ COMUNHÃO ENTRE AS PESSOAS
 

Sábado da V Semana da Quaresma

Textos de Leitura: Ez 37, 21-28 ; Jo 11,45-56

Naquele tempo, 45muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele. 46Alguns, porém, foram ter com os fariseus e contaram o que Jesus tinha feito. 47Então os sumos sacerdotes e os fariseus reuniram o Conselho e disseram: “Que faremos? Este homem realiza muitos sinais. 48Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele, e virão os romanos e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação”. 49Um deles, chamado Caifás, sumo sacerdote em função naquele ano, disse: “Vós não entendeis nada. 50Não percebeis que é melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?” 51Caifás não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote em função naquele ano, profetizou que Jesus iria morrer pela nação. 52E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos. 53A partir desse dia, as autoridades judaicas tomaram a decisão de matar Jesus. 54Por isso, Jesus não andava mais em público no meio dos judeus. Retirou-se para uma região perto do deserto, para a cidade chamada Efraim. Ali permaneceu com os seus discípulos. 55A Páscoa dos judeus estava próxima. Muita gente do campo tinha subido a Jerusalém para se purificar antes da Páscoa. 56Procuravam Jesus e, ao reunirem-se no Templo, comentavam entre si: “Que vos parece? Será que ele não vem para a festa?” (Jo 11,45-56)

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Dentro de uma semana estaremos no coração da páscoa: estaremos meditando sobre a Paixão e morte de Jesus. Mas o sepulcro não é a ultima palavra para o homem. Hoje através do profeta Ezequiel Deus nos apresenta seu projeto de reunir numa nação toda a humanidade através de Jesus Cristo que veio para unir e reunir todos como uma comunidade de irmãos. “Uniroureunir” é um termo teológico que tem como sinônimo salvação. A fraternidade é uma conseqüência da no Deus como Pai-Nosso. Mas o poder é sempre o verdadeiro câncer para a fraternidade e sem querer querendo apaga da vida Deus como Pai de todos.


O texto do evangelho deste dia é uma continuação da cena sobre a “ressurreição” de Lázaro. No texto de hoje narra-se a reação dos judeus perante a ressurreição de Lazaro. Quem fez Lázaro voltar a viver foi Jesus. Muitos começaram a acreditar em Jesus por causa disso. Mas outros decretam a morte de Jesus. Jesus é perseguido pelo bem que pratica. Aqui Jesus representa todos os justos que são perseguidos permanentemente por aqueles que vivem na injustiça e na desonestidade por medo de suas más obras serem reveladas.


Por que essa perseguição da parte dos judeus, principalmente dos fariseus e dos sumos sacerdotes? A razão é tão simples: porque Jesus faz o bem através de tantos sinais (= “milagres”) que ele opera em favor do homem: “Este homem realiza muitos sinais. Se deixamos que ele continue assim, todos vão acreditar nele, e virão os romanos e destruirão o nosso Lugar Santo e a nossa nação”. Para os dirigentes do povo os “muitos milagres” (sinais) operados por Jesus representam uma grande ameaça contra o poder instituído. Eles se sentem ameaçados, enquanto que Jesus não ameaça ninguém. Ele simplesmente pratica o bem. Nunca podemos entender que os chefes religiosos, que deveriam proteger o ser humano, querem matar Jesus. Que tipo de Deus em quem acreditam? Pode matar os outros em nome da religião? Que religião é esta? “Provocar a violência em nome de Deus e do Evangelho é um sacrilégio. Não acabará a violência quando houver menos armas, e sim quando houver mais amor... Atente para que a sua prática religiosa não seja mais importante do que seu Deus e seu próximo. A recitação de um credo e a prática do culto, sem o compromisso de uma conduta coerente é uma paródia que engana os outros e um ópio que adormece a própria consciência” (René Juan Trossero).


Os dirigentes estão com uma inveja mortal de Jesus. A inveja é a filha de uma soberba machucada. O invejoso não tolera os sucessos dos outros e não admite que os outros possuam qualidades iguais ou superiores às suas ou gozem de sorte melhor. O medo de que os outros tenham êxito em suas atividades é maior nele do que os esforços que emprega para ser mais bem-sucedido. O invejoso ficará alegre quando a boa sorte de seus rivais se transformar em azar. Os invejosos serão sempre pessoas próximas de nós, familiares, colegas de trabalho ou de profissão com os quais eles são obrigados a conviver conosco. Eles são tão maldosos que freqüentemente se mostram desconfiados, melindrosos e equivocados. O invejoso só conseguirá eliminar este vicio quando não mais se preocupar com o poder e o valor dos outros, cuidando unicamente de melhorar a si mesmo para melhorar a convivência.


A origem da inveja é a soberba ou a arrogância. O orgulhoso/arrogante não se preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele possa ser o centro e a norma. Ele pretende que tudo esteja sujeito a si próprio. A arrogância não encontra abrigo em uma pessoa de inteligência equilibrada. A realidade de nossas próprias limitações é o mais eficaz dos convites à humildade. Essa humildade é que não tem no arrogante. A arrogância é uma maneira de não admitir as próprias fraquezas e limitações. Ele quer aparecer forte para esconder suas fraquezas.


Sendo sumo sacerdote em função naquele ano, Caifás profetizou que Jesus iria morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir os filhos de Deus dispersos”, assim relatou o evangelista João.


O Sumo sacerdote Caifás pensava que com seu conselho salvaria a existência de seu povo, quando, na verdade, ao proclamar que “É melhor um só morrer pelo povo do que perecer a nação inteira?”, estava anunciando profeticamente, sem sabê-lo nem querê-lo, o sentido e o fim da morte de Jesus: salvar o povo da perdição eterna e reunir os filhos de Deus dispersos pelo mundo para formar uma família de Deus cujo pai comum é Deus: uma só Igreja, um só rebanho sob um só Pastor.


Jesus veio, então, para reunir na unidade todos os filhos de Deus como profetizava o profeta Ezequiel (Ez 37,21-28). Deus se apresenta como Aquele que procura a união: “Farei deles uma única nação...” (Ez 37,22). O próprio Deus é, em si mesmo, um mistério de unidade: Três constituídos em um: Santíssima Trindade. E o homem foi criado à imagem de Deus, e por isso ele deve viver essa imagem na convivência com os demais: união e unidade a exemplo da Santíssima Trindade. Essa imagem deve fazer os homens viverem mais solidários com os demais, ajudarem-se mutuamente, protegem-se, tratam os outros como irmãos. Como imagem de Deus, o homem jamais pode ser causador do racismo, da discriminação, do separatismo ou de qualquer espécie de divisão, pois filhos do mesmo Pai celeste são amados pelo mesmo Pai incondicionalmente.


Qualquer homem que acredita em Deus deve aspirar à unidade: estar juntos, estar de acordo, estar no mesmo coração, estar em concórdia, amar e ser amado. Qualquer pai ou mãe quer ver seus filhos unidos. Qualquer filho ou filha quer ver seus pais unidos até a morte. No entanto, a humanidade se desgarrou e os conflitos de hoje são cada vez mais profundos. Mas a aspiração pela unidade subsiste como um anseio de felicidade.


Vivemos numa época do paradoxo. Construímos mais computadores para armazenar mais informações, mas nos comunicamos cada vez menos e nos relacionamos friamente e vivemos anestesiados da sensibilidade humana. Estamos na era do homem grande, mas de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias. Estamos na era de casas chiques, mas de lares despedaçados acompanhados de solidão mortal. Precisamos passar mais tempo com as pessoas que amamos, pois elas não estarão aqui para sempre, assim como não estaremos aqui para sempre com elas. Precisamos dar mais abraço carinhoso em nossos pais, irmãos, amigos, pois não nos custa um centavo sequer. Um beijo e um abraço curam a dor, quando vêm de de dentro de nosso coração.


Geralmente toda ruptura entre irmãos começa por desgarrar o coração de Deus. A humanidade desgarrada tem sempre a mesma necessidade de sacrifício: racismo, oposições, lutas de interesse pessoal e violência. Toda divisão entre os homens começa por serem contrários ao projeto de Deus. E para a Igreja toda divisão é um escândalo, pois ela é contrária ao que Jesus pede ao Pai: “Que todos sejam um para que o mundo creia” (cf. Jo 17) e ao mandamento do Senhor: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). Por isso, a desunião entre os próprios cristãos, a recusa do diálogo e do bem comum impedem o mundo de reconhecer Deus através dos cristãos.


Cristo deu sua vida para que n’Ele a humanidade chegue a ser um Corpo único cuja cabeça é o próprio Cristo. “Deste modo, o único salvador de seu corpo, nosso Senhor Jesus Cristo, é o mesmo que ora por nós, ora em nós e recebe a nossa oração. Ele ora por nós como nosso sacerdote; ora em nós como nossa cabeça e recebe a nossa oração como nosso Deus” (Santo Agostinho: Sl 85,1: CCL 39,1176-1177). Quando não houver mais lugar para Jesus no seu coração, o cristão se tornará um escândalo para os demais e haverá espaço maior para todos os tipos de disputa de poder para saber quem manda mais, em vez de quem ama e serve mais. Um coração não unido a Cristo causa a divisão entre as pessoas. “Que todos sejam um” é a oração que deve ser feita por todos os seguidores de Cristo.

P. Vitus Gustama,svd

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