segunda-feira, 2 de março de 2015

04/03/2015
SERVIR CRISTO NO IRMÃO

Quarta-Feira da II Semana da Quaresma

 

Textos: Jr 18,18-20; Mt 20,17-28


Naquele tempo, 17enquanto Jesus subia para Jerusalém, ele tomou os doze discípulos à parte e, durante a caminhada, disse-lhes: 18Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos sumos sacerdotes e aos mestres da Lei. Eles o condenarão à morte, 19e o entregarão aos pagãos para zombarem dele, para flagelá-lo e crucificá-lo. Mas no terceiro dia ressuscitará”. 20A mãe dos filhos de Zebedeu aproximou-se de Jesus com seus filhos e ajoelhou-se com a intenção de fazer um pedido. 21Jesus perguntou: “Que queres?” Ela respondeu: “Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda”. 22Jesus, então, respondeu-lhes: “Não sabeis o que estais pedindo. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?” Eles responderam: “Podemos”. 23Então Jesus lhes disse: “De fato, vós bebereis do meu cálice, mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. Meu Pai é quem dará esses lugares àqueles para os quais ele os preparou”. 24Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram irritados contra os dois irmãos. 25Jesus, porém, chamou-os, e disse: “Vós sabeis que os chefes das nações têm poder sobre elas e os grandes as oprimem. 26Entre vós não deverá ser assim. Quem quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; 27quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo. 28Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. (Mt 20,17-28)
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O Evangelho deste dia fala do anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo na sua subida para Jerusalém (vv. 17-19) e a reação dos discípulos diante do mesmo, especialmente dos irmãos Tiago e João (vv. 20-28). Em nove lugares diferentes dos evangelhos encontramos esse anúncio: Mt 16,21-23; 17,22-23; 20,17-23; Mc 8,31-33; 9,30-32; 10,32-34; Lc 9,22. 44-45; 18,31-33.


Notamos que Jesus não somente anuncia a sua morte, mas também a sua ressurreição. A vida em sintonia com a vontade de Deus não termina na cruz e sim na ressurreição ou na sua glorificação. Deus aprova com a glorificação todos aqueles que passarem por provações na vivência da vontade de Deus. Encarar as cruzes como conseqüência da vida vivida de acordo com os valores vividos por Cristo é sinal de nosso amor a Deus, e a ressurreição é o amor que Deus nos mostra por tudo isso ou a ressurreição é a resposta de Deus para quem vive de acordo com os ensinamentos de Cristo. Em outras palavras, com a ressurreição Deus quer dizer a cada um de nós, neste contexto: “Você está aprovado!”.


Ao ouvir o anuncio de Jesus sobre sua própria morte, os irmãos João e Tiago logo querem pedir a Jesus postos importantes para poder mandar mais. Mas Jesus nunca deu espaço para o egoísmo e para o poder mundano no seu coração. Sua existência é um serviço generoso para libertar os homens de qualquer tipo de escravidão. Pelo bem do homem e em nome do bem praticado para a salvação do homem Jesus aceitou ser crucificado e morto. Porém, Deus o ressuscitou. O mal não é capaz de enterrar o bem. O ódio é incapaz de eliminar o amor, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Por isso, o bem ou a bondade é o investimento que nunca falha, pois tudo isto tem característica divina. Tudo que é divino não conhece a morte.
  

Contrastando com Jesus é a atitude dos filhos de Zebedeu: João e Tiago. Ambiciosos sem limite querem garantir um lugar de destaque no Reino do Messias para receberem honrarias e serem servidos.


A ambição em si não é negativa. Dentro do seu limite, a ambição pode servir de estímulo para nobres ações e para melhorar uma condição humilde. A ambição se transformará em vício quando a afirmação de si mesmo for exagerada e os meios para atingir a glória forem desonestos. O ambicioso, quando dominado pelo vício, não suporta competidores ou rivais. Ele gosta de humilhar os outros até eliminá-los em nome de sua ambição. Um viciado em ambição dificilmente se preocupa com ser justo. Ele utiliza os outros como escada sobre os quais ele pisa para chegar à própria afirmação ou glória. Uma pessoa de coração nobre não sai à procura das honras e dos aplausos, mas do bem, e ela reconhece o bem onde estiver.


Na cabeça dos dois filhos de Zebedeu têm apenas ideais de grandeza, postos a serviço do próprio egoísmo. Não lhes passa pela cabeça sacrificarem-se pelos outros, mas exigir que os demais se sacrifiquem por eles.


Diante da ambição dos filhos de Zebedeu Jesus dá esta lição para todos os seus discípulos e todos os cristãos de todos os tempos e lugares: “Quem quiser tornar-se grande, seja vosso servidor”. Para os discípulos de Jesus e para qualquer cristão existe uma grandeza reservada: servir com gratidão e gastar tudo que se tem (talentos, riquezas, cargos sociais etc.)  para resgatar a vida do irmão. Servir no sentido cristão é igual a uma vela que se consome iluminando.


Quem quiser tornar-se grande, seja vosso servidor”. Atrás destas palavras Jesus quer nos alertar que existe um grande risco de transformar nossa missão, nossos trabalhos, nossaliderança” na comunidade/Igreja num exercício de poder e de ambição. Daí sairá a frase: “Quem manda aqui sou eu!”. Este tipo de frase na Igreja de Cristo é a expressão de um conceito de uma eclesiologia totalmente fora daquilo que Jesus quer: “Quanto a vós, nunca vos deixeis chamar de Mestre, pois um é vosso Mestre e todos vós sois irmãos”. (Mt 23,8). A comunidade cristã é uma comunidade de irmãos. Como irmãos um deve se preocupar com outro; um deve cuidar do outro e todos se protegem. Trata-se de uma família onde ninguém é superior ao outro. Conseqüentemente, na comunidade cristã, a autoridade e a responsabilidade, inclusive a fraternidade devem ser sinônimos de serviço. Na comunidade dos que seguem os ensinamentos de Cristo não tem cabimento o domínio, o autoritarismo, a ambição sem limite e a vontade de poder e de exibicionismo. Se alguém tiver alguma ambição na comunidade é porque está querendo tirar alguma vantagem pessoal em vez de pensar no bem comum. Aquele que serve aos outros em função do bem dos outros é grande no Reino de Deus. Porque se Deus é o Bem absoluto, logo aquele que pratica o bem é de Deus, tem algo de Deus nele e por isso, está com Deus ou do lado de Deus.


A comunidade de Jesus deve ser constituída pelas pessoas capazes de abandonar definitivamente toda prática egoísta onde tudo se compra e se vende, até a consciência, em nome da vantagem pessoal. A opção pelo Reino equivale a uma opção pela humanização e fraternização. Tudo isto requer o abandono de todo tipo de ambição e de poder para deixar o poder da graça que salva operar na nossa vida e na nossa convivência. Assim, seremos o sacramento de Deus neste mundo.


Enquanto Jesus subia para Jerusalém, ele tomou os doze discípulos à parte...”. A Quaresma é também uma “subida para Jerusalém”. É um caminho para a cruz. Nossa vida deve ser uma subida contínua até Deus. Podemos até fazer algumas paradas, mas jamais uma paralisia.


Em cada Eucaristia comungamos o Corpo de Cristo. Ao comungar o Corpo do Senhor estamos querendo proclamar a todos que queremos servir e praticar o bem, que queremos viver como Cristo viveu, que queremos mergulhar no amor sem limite de Jesus Cristo. Sem a sintonia com a vida de Cristo, a Eucaristia da qual participamos, supostamente, carecerá de sentido.


Vós não sabeis o que estais pedindo”, diz Jesus aos filhos de Zebedeu. Também nós pedimos muitas coisas a Deus, sem que de fato, “saibamos” o significado de nossos pedidos.


Para ser relembrado e refletido permanentemente:


·        Quem quiser tornar-se grande, torne-se vosso servidor; quem quiser ser o primeiro, seja vosso servo. Pois, o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate em favor de muitos”. A vida é dada a nós e nós a merecemos dando-a (Rabindranath Tagore).

P. Vitus Gustama,svd

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