05/03/2015
SOLIDARIEDADE NOS LIBERTA DA GANÂNCIA QUE
MATA A FRATERNIDADE
Naquele tempo ,
disse Jesus aos fariseus : 19“Havia
um homem
rico , que se
vestia com roupas
finas e elegantes e fazia festas esplêndidas todos
os dias . 20Um pobre ,
chamado Lázaro , cheio
de feridas , estava no chão , à porta
do rico . 21Ele
queria matar a fome
com as sobras
que caíam da mesa
do rico . E, além
disso, vinham os cachorros lamber suas feridas . 22Quando o pobre morreu, os anjos
levaram-no para junto
de Abraão. Morreu também o rico e foi enterrado. 23Na região
dos mortos , no meio
dos tormentos , o rico
levantou os olhos e viu de longe a Abraão, com
Lázaro ao seu
lado . 24Então
gritou: ‘Pai Abraão, tem piedade de mim !
Manda Lázaro
molhar a ponta
do dedo para me refrescar a língua , porque
sofro muito nestas chamas ’.
25Mas Abraão respondeu: ‘Filho , lembra-te de que
recebeste teus bens
durante a vida
e Lázaro , por
sua vez ,
os males . Agora ,
porém , ele
encontra aqui
consolo e tu
és atormentado. 26E, além
disso, há grande abismo
entre nós :
por mais
que alguém
desejasse, não poderia
passar daqui para junto de vós , e
nem os daí poderiam atravessar
até nós ’. 27O rico insistiu: ‘Pai ,
eu te
suplico, manda Lázaro
à casa de meu
pai , 28porque
eu tenho cinco
irmãos . Manda
preveni-los, para que
não venham também
eles para este lugar de tormento ’. 29Mas
Abraão respondeu: ‘Eles têm Moisés e os profetas , que
os escutem!’ 30O rico insistiu: ‘Não , Pai
Abraão, mas se um
dos mortos for até
eles , certamente
vão se converter ’.
31Mas Abraão lhe disse: ‘Se não
escutam a Moisés, nem aos Profetas , eles não acreditarão, mesmo
que alguém
ressuscite dos mortos ”’. (Lc 16,19-31)
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Estamos acompanhando Jesus no seu
Caminho (êxodo) para Jerusalém onde ele será crucificado, morto e ressuscitado
(Lc 9,51-19,28). Na passagem do evangelho deste dia Jesus fala sobre o perigo
da riqueza/bens materiais ou de dinheiro. Este tema é repetido no evangelho de
Lucas para enfatizar o peso do conteúdo que quer se passar para os ouvintes
para que tenham consciência disso.
O dinheiro
e todos os demais
bens deste mundo
são bons ,
pois sua matéria prima
foi criada por
Deus . Mas
a grande questão
é de que maneira
conseguimos tê -los (dinheiro
justo ou
injusto ), como
usamos os bens (esbanjar
no ritmo de consumismo sem freio?) e qual
é o objetivo ao usá-los? (para
ajudar ou para dominar os outros ?). Os bens
materiais podem nos
ajudar a conseguirmos nossas metas
fundamentais , mas
também podem nos
desviar do bem que devemos praticar .
Para falar
deste tema Jesus conta
uma parábola na qual
o rico e o pobre
Lázaro são
seus protagonistas .
Sabemos que ,
neste mundo , com
o dinheiro se possui tudo :
poder , honra ,
influência , etc.. O dinheiro
é a medida das coisas
materiais e nos
afeta pessoalmente .
Quem põe a mão
sobre o dinheiro ,
põe sua mão
sobre as pessoas
e consequentemente sobre sua própria salvação. O poder
e a riqueza têm capacidade de transtornar
a vista . Mas
a Palavra de Deus
nos faz encontrarmos o irmão .
O Papa
Francisco nos alerta: “O
grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo,
é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da
busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a
vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os
outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza
da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é
um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele,
transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a
escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós,
esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado”
(Evangelii Gaudium no.2).
A parábola
sobre Lázaro e o rico quer nos alertar que o mau uso do dinheiro , usando-o e
abusando-o egoisticamente e individualisiticamente aliena o homem , rompe toda
possibilidade de comunicação com Deus e de toda comunicação
mais humana
com os demais .
O egoísmo obscurece o coração a ponto de não poder ler
os sinais que
Deus oferece ao homem ,
inclusive os milagres
diários . O egoísmo
fecha todas as antecipações
de Deus sobre
o homem .
Na parábola ,
os cachorros conseguem enxergar
o pobre Lázaro
do que o rico .
O animal consegue ver
o homem , mas
o homem não
consegue ver o próprio homem . O homem olha para as coisas e não para os homens . O dinheiro é temível, não
pelo que
conseguimos com ele
e sim porque
chega a possuir
o homem de tal
maneira que
é o único que
marca a pauta
de sua vida .
O apego aos bens
materiais faz esquecer
o sentido de Deus ,
o sentido do homem
e o próprio sentido
da liberdade : se cai na escravidão.
“Quando muitos morrem por falta de pão, não é porque Deus deixa faltar trigo,
mas porque nós homens deixamos que falte o amor” (René Juan Trossero).
O texto
do evangelho de hoje
quer nos
recordar também
que não
temos a ultima palavra . É Deus Quem tem
esta palavra . Deus
tem a ultima palavra sobre a história
particular de cada
ser humano e
a história de todos
os homens , em
geral .
A advertência
de Jesus no evangelho de hoje é um convite para a solidariedade . E o pecado
que podemos cometer
contra a solidariedade
é a apatia social
e política. Isto acontece quando um se encerra na própria vida e fica cego e
insensível diante da frustração, da humilhação, da fome e do desespero dos
demais seres humanos que são filhos e filhas de Deus e, portanto, nossos
irmãos. Quem não vê o pobre, não será visto por Deus. Quem não estende a mão
para o pobre a fim de ajudá-lo, para ele não será estendida a mão de Deus para
abençoá-lo. “O inferno é o sofrimento de não poder mais amar” (Dostoievski).
“Os famintos, os maltrapilhos, os mendigos, os peregrinos, os prisioneiros, os
doentes... são teus “batedores” no Reino do céu” (Santo Agostinho: Serm. 11,6;
cf. Mt 25,40.45).
Em vez da ganância e do consumismo
egoísta das coisas deste mundo somos chamados a nos vestir de despojamento e de
solidariedade. Saber ajudar os outros com o que temos e somos é a expressão de
nossa riqueza interior. “Posso dizer que as alegrias mais belas e
espontâneas, que vi ao longo da minha vida, são as alegrias de pessoas muito
pobres que têm pouco a que se agarrar. Recordo também a alegria genuína
daqueles que, mesmo no meio de grandes compromissos profissionais, souberam
conservar um coração crente, generoso e simples. De várias maneiras, estas
alegrias bebem na fonte do amor maior, que é o de Deus, a nós manifestado em
Jesus Cristo” (Papa Francisco: Evangelii Gaudium no.7). Uma das piedades
cristãs que devemos praticar principalmente durante a Quaresma é a caridade
fraterna: solidarizar-se com os necessitados.
P. Vitus Gustama,svd
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