segunda-feira, 23 de março de 2015

25 de Março
 
ANUNCIAÇÃO DO SENHOR A MARIA

25 de Março

Evangelho: Lc 1,26-38

Naquele tempo, 26 o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 28 O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” 29 Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30 O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32 Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33 Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”.  34 Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” 35 O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37 porque para Deus nada é impossível”. 38 Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.
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Através da cena da anunciação do Senhor a Maria o evangelista Lucas nos mostra um Deus revolucionário e libertador. A sua manifestação, nesta cena, não acontece no Templo, lugar considerado sagrado, como aconteceu com o anúncio do nascimento de João Batista (cf. Lc 1,5-25), e sim num lugar desconhecido: Nazaré. Deus é que faz um lugar importante e sagrado. Nazaré é um lugar jamais mencionado no AT. Esse Deus não se manifestou a um sacerdote no templo durante o culto, como aconteceu com Zacarias, e sim no cotidiano, a uma pessoa simples, pequena, a uma mulher: Maria. Na opção de Deus Maria se torna uma privilegiada. Deus quer encontrar seus filhos e filhas nos seus lares, nas suas casas, nos seu trabalhos, nas suas orações e assim por diante.


A Virgem Maria, da perspectiva do evangelista Lucas é uma mulher que aceita a proposta revolucionária de que Deus possa nascer de seu ventre virgem, de seu corpo jovem, de seu coração feminino. A mulher, naqueles tempos, não tinha acesso à Palavra escrita da Torá ou dos profetas. Na época tinha um dito: “É melhor queimar a Bíblia do que entregá-la nas mãos de uma mulher”. Agora Maria, uma mulher, tem em seu ventre materno a mesma Palavra de Deus feita carne: o Emanuel, Deus-Conosco (Mt 1,23; 18,20; 28,20).


A mulher, que não podia conversar com outro homem que não fosse seu marido, agora dialoga com sua consciência e toma decisão de ser a Mãe do Senhor. A mulher que vivia dependente de uma estrutura familiar rígida, agora escolhe, opta por ficar embaraçada ou grávida milagrosamente. A mulher que tinha um acesso restringido ao culto, agora dialoga diretamente, cara a cara, com Deus. A mulher que devia cuidar de sua imagem de moralidade, sua virgindade até o matrimonio, agora decide enfrentar a sociedade de seu tempo e o mais importante: quem decide é ela: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim, segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38).


Por isso, não podemos imaginar que Maria seja uma mulher passiva, imóvel e submissa. Ela é corajosa, valente e revolucionária. E sua força vem de Deus. Ela se compromete a partir de sua própria liberdade e libertação com a libertação de Deus. Ela é revolucionária com o Deus revolucionário. Quem tem sua força em Deus, quem acredita incondicionalmente em Deus tem força suficiente até mais do que suficiente para encarar tudo na vida porque ele sabe que a palavra final é a Palavra de Deus e não a do homem. Quem é devoto de Maria deve ser uma pessoa valente, corajosa e revolucionária como Maria. “Para Deus e com Deus nada é impossível” (Lc 1,37).


A partir da cena da anunciação nãoque buscar Deus no ar, nas idéias, nos sonhos. Maria O encontra no seu ventre, no seu coração, pois ela está totalmente aberta ao impulso do Espírito de Deus. O Deus que está no coração de Maria transforma seu corpo em instrumento para fazer Deus visível aos homens, para fazer nascer para o mundo o Salvador. Sua maternidade aproxima Deus ao ser humano para compartilhar a experiência de salvação. Para cada um de nós Maria quer mostrar que é possível ser instrumento para fazer visível Deus aos outros através de cada um de nós. Para cada cristão trata-se de uma missão a ser cumprida neste mundo: fazer Deus visível através de nossa vida e de nosso modo de viver. “Vós sois a carta de Cristo”, relembra-nos São Paulo (2Cor 3,3).


Lucas apresenta Maria como a primeira a ouvir e a aceitar a mensagem, para depois proclamá-la (Lc 1, 39-45). Sua condição de discípula realiza-se quando ela diz “sim” à vontade de Deus a respeito de Jesus. Mas tal prontidão lhe é possível porque Maria dispõe da graça de Deus pelo seu modo de vida. Desta maneira nãoexagero ao dizer-se que Maria ouviu o Evangelho de Jesus Cristo e de fato, foi a primeira a fazê-lo. Assim Lucas eleva Maria à condição de primeira discípula-modelo e Lucas fornece aqui a mais forte evidência para o fato importantíssimo de que ela é discípula de Jesus.


Quantas vezes Deus se comunica conosco, mas a Sua Palavra não penetra em nós. Por que isso acontece? Com toda a agitação e barulho ao nosso redor ou dentro de nosso coração temos muita dificuldade em parar para escutar a voz interior, a voz de Deus. Perdemos o sabor da escuta atenta.  Certamente a vida equilibrada e com sentido começa com a criação de um espaço interior, no qual a pessoa vai juntando os acontecimentos e procura seu sentido e com certeza pode perceber os sinais de Deus na vida.


Para que possamos dizersim” à vontade de Deus, devemos viver na graça e com a graça de Deus, como Maria, pois a pessoa que Deus escolhe para exercer a sua vontade é alguém que dispõe de sua graça pelo seu modo de vida. Sem a graça de Deus a nossa própria vontade se tornará mais importante do que a de Deus. Não é por acaso que São Paulo afirma: “Pela graça de Deus eu sou o que sou e a graça que ele me deu não tem sido inútil” (1Cor 15,10).


Maria vem nos ensinar a cultivar a interioridade. Guardar as coisas no coração, meditar e buscar sentido nos acontecimentos e preparar-se para o que vai acontecer. Três palavras-chaves resumem o ser-cristão a partir de Maria como o exemplo: ouvir, acolher/meditar, proclamar/frutificar. Maria, por sua palavra e por suas atitudes faz-se modelo para todos os que crêem. Ao olhar para ela, nos sentimos mais animados, pois compreendemos que não nascemos prontos, que a vida é uma travessia. Descobrimos também que até as crises de são ocasiões de crescimento.

P. Vitus Gustama, SVD

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