quinta-feira, 30 de junho de 2011

SER INSTRUMENTO DA MISERICÓRDIA DIVINA

Texto de leitura: Mt 9,1-8

Não é a carne corruptível que torna o homem pecador. É a alma pecadora que o torna corruptível (Santo Agostinho. De civ. Dei, 14,3)

Depois da tempestade acalmada e a libertação dos dois possuídos que lemos nos textos do evangelho nos dias anteriores (Mt 8,5-34), hoje Jesus nos mostra seu poder sobre o mal mais profundo: o pecado. A salvação que Jesus Cristo quer para a humanidade é integral, do homem todo: seu corpo e espírito. O sinal externo- a cura da paralisia- é o símbolo da cura interior, a libertação do pecado, como tantas outras vezes em seus milagres.

Tem ânimo, meu filho; os teus pecados te são perdoados!”, diz Jesus ao paralítico. É a primeira vez que o evangelista Mateus menciona este tipo de poder que Jesus tem: o poder de perdão. O poder que Jesus tem em relação ao pecado é o poder de reconciliação dos homens com Deus. Da parte de Jesus nãopecado que não possa ser perdoado. Basta o homem se arrepender e voltar para Deus, o Deus da misericórdia não quer saber mais do passado do homem. Mas através do profeta Isaias Deus nos dá o seguinte recado: “Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem”.

Mas o evangelista Mateus não somente se concentra no poder de Jesus de perdoar pecados. Mais adiante, no seu evangelho, ele vai nos dizer que a comunidade cristã é o lugar de reconciliação. Jesus Cristo vai dar o dom do poder de perdoar à comunidade cristã: “Em verdade vos digo: tudo o que ligardes sobre a terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes sobre a terra será também desligado no céu” (Mt 18,18). Assim a comunidade cristã ou a Igreja se transforma em lugar de libertação dos pecados e de liberdade dos reconciliados. Como é bom viver com uma consciência limpa. Como é leve uma vida sem mancha moral ou ética. É uma liberdade que faz qualquer um viver a vida na alegria. Quando o coração estiver limpo podemos aplicar para nós as palavras de São Paulo aos filipenses: “Alegrai-vos no Senhor. Repito: alegrai-vos” (Fl 4,4). Há alegria disfarçada para calar ou abafar os gritos de um coração sujo, como escreveu um psicólogo argentino: “Há gargalhadas que se parecem mais com um soluço do que com uma risada” (René Juan Trassero). Mas a alegria no Senhor é uma alegria que liberta e salva: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus”, prometeu-nos Jesus no Sermão da Montanha (Mt 5,8).

 Ao dizerTem ânimo, meu filho; os teus pecados  são perdoados!”, Jesus usa aqui a visibilidade da cura corporal, perfeitamente controlável, para provar outra cura espiritual, a cura da alma em estado de pecado. Jesus pronunciou formulas de absolvição: “teus pecados são perdoados”, e depois, fez gestos exteriores de cura: “levanta-te e vai para tua casa”. Muitas doenças acontecem conosco por causa dos problemas não solucionados. Trata-se de doenças psicossomáticas. É preciso que reorganizemos nossa vida no Senhor para que nossa alegria seja plena.

A Igreja é o prolongamento real da Encarnação de Jesus, como Ele próprio é o grande Sacramento, a presença visível de Deus. Assim a Igreja é o grande Sacramento visível de Cristo. Jesus comunicou seu poder de perdoar a seus apóstolos, isto é, para aqueles que, durante todo o tempo da Igreja, têm missão de fazê-la existir como Igreja exercendo o ministério que lhes foi confiado. Quando os apóstolos ou seus sucessores perdoam em nome de Cristo é todo o povo de Deus que se encontra comprometido no mistério da cruz e no ato divino-humano de perdão que ali tomou corpo. Os sacramentos são sinais visíveis que manifestam a graça invisível. A Igreja inteira, pelo ministério apostólico, está constituída no ato de misericórdia em proveito de toda a humanidade. Neste sentido pode se dizer que o cristão é ministro da misericórdia divina no sentido de que ele é chamado para perdoar sempre porque Deus o perdoa sempre e por isso, ele vive por causa da misericórdia divina. Todos são chamados a participar da obra de misericórdia. A Igreja é a misericórdia de Deus para os homens.

Vendo a que eles tinham, Jesus disse ao paralítico:Tem ânimo, meu filho; os teus pecados te são perdoados! ’”. A , que é o dom de Deus ao homem, se for autêntica é capaz de levar o homem à conversão, à orientação de sua vida e de sua caminhada para a felicidade e para a salvação. Deus valoriza o futuro do homem e perdoa seu passado desde que o homem se converta. Mas será que nossa é autêntica? 

A verdadeira em Deus mantém nossa vida em ordem que traz a paz. “A paz é a tranqüilidade da ordem”, dizia Santo Agostinho. A é capaz de ordenar tudo na simplicidade na nossa vida, pois para Deus tudo é simples e para o simples tudo é divino.

Masalguns Mestres da Lei pensaram: ‘Esse homem (Jesus) está blasfemando’”. Com esta expressão se põe em evidência de que o Deus de Jesus não era o deus dos dirigentes de seu povo. Mais uma oposição contra o plano de Deus que o evangelista Mateus tem nos mostrado até agora.

Também nós corremos o perigo de fazermos um Deus à medida de um sistema ou de uma instituição que pode nos levar para um fanatismo fundamentalista que leva à autodestruição ou ao cataclismo de matar o outro por amor a Deus ou em nome de Deus e para servi-lo. Seria um Deus muito cruel e não um Deus misericordioso revelado por Jesus. Temos que tomar cuidado para que nenhum sistema possa pensar por nós. Deste jeito criaremos ídolos e seremos idólatras, não mais filhos e filhas de Deus que precisam viver a fraternidade universal como conseqüência lógica e essencial da consciência de que Deus é o Pai de todos.

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2011
Vitus Gustama, SVD


·        Busca o que é meramente humano no homem e encontrarás o pecado e a mentira. Se eliminas o pecado, eliminas a mentira e tudo mais não é próprio do homem, mas de Deus. Não ames, portanto, o que é teu, ama o que é de Deus em ti” (Santo Agostinho. Serm. 32,10,10)

·        “No interior do homem há uma disputa contínua (Santo Agostinho. Serm. 11,12).

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