quarta-feira, 8 de junho de 2011

VIVER NO MUNDO NA VERDADE E NA UNIDADE

Leitura: Jo 17,11-19

O longo discurso de despedida de Jesus (Jo 13-17) termina com uma oração. A oração é a expressão mais viva da . Quem tem precisa orar e quem ora precisa ter . Através da oração Deus se revela a quem reza ou a quem medita sua Palavra. Por isso, a oração é também o momento ou lugar da revelação de Deus. Somente no diálogo é que conhecemos melhor nosso parceiro de diálogo. No seguimento de Jesus a oração sustenta a caminhada cristã. Por isso, empobrecer a oração significa empobrecer toda a teologia. Na medida em que o cristão reza, sua vida se transforma de acordo com a vontade de Deus, pois rezar significa estar em sintonia com Deus e Sua vontade. Podemos dizer que a oração nos faz familiares de Deus. Dentro de uma família um conhece bem o outro membro por causa de uma convivência permanente e um contínuo diálogo. A oração é imprescindível na vida de cada cristão quando ele vive seriamente a verdade do seu ser como cristão e como criatura. A oração é indispensável e necessária, porque é o clima em que nasce e madura a e a vida. A oração fortalece a esperança cristã que não podemos confundir com a simples espera de algo que se realize. Se a oração é a forma habitual de alimentar nossa comunhão com Deus e com os homens, deixar de orar significa deixar de ter o “sentido de Deusnos acontecimentos e deixar-nos alienados d’Ele. Se um cristão não rezar, vai errar muito o caminho.

Lemos neste dia a segunda parte da oração de Jesus em Jo 17 na sua despedida dos seus discípulos. A segunda parte da oração de Jesus se centra em três pontos principais: Viver na verdade, viver na unidade e viver no mundo sem ser do mundo.

A Palavra de Deus é verdade. Jesus transmite esta palavra a seus discípulos para que sejam consagrados na verdade: Consagra-os na verdade: a verdade é a tua Palavra. Assim como Tu Me enviaste ao mundo, Eu também os envio ao mundo. Eu consagro-Me por eles, a fim de que também eles sejam consagrados na verdade” (Jo 17,17-19). Para são João “verdade” significa a realidade eterna. Quando Cristo pede ao Pai que consagre seus discípulos na verdade, ele quer dizer com isto que sejam santificados no plano da realidade absoluta. Para são João os discípulos devem alcançar o mesmo nível da santidade de Deus, que são colocados por Cristo no mesmo plano de Deus (veja também Mt 5,48); são filhos de adoção eleitos pelo Pai e dados por ele ao Filho. Esta consagração na verdade, este acesso à santidade do Pai deve proporcionar-lhes a plenitude da alegria, a mesma alegria de Cristo: “Agora vou para junto de Ti. Entretanto, continuo a dizer estas coisas neste mundo, para que eles possuam toda a minha alegria” (Jo 17,13). 

Consagrar” tem o mesmo significado quesantificar”. A idéia cristã de santidade é chamada à transcendência e também separação. Santificar significa eleger e separar. Os que recebem a Verdade ficam santificados, isto é, separados e eleitos para cumprir no mundo e diante do mundo uma missão em nome de Deus.

Mas os discípulos de Jesus ou os cristãos têm que permanecer na unidade entre eles, como o Pai e o Filho são um: “Pai santo, guarda-os em teu Nome, o Nome que Me deste, para que eles sejam um, assim como Nós somos um” (Jo 17,11b). Este é um tema querido para são João. O tema sobre a unidade será desenvolvido nos próximos versículos (17,21-24). Certamente esta unidade, que deve formar os discípulos entre si, é a mesma unidade entre o Pai e Jesus. Ao permanecer nesta unidade os cristãos podem permanecer também na verdade, isto é, na realidade eterna absoluta. Santo Agostinho dizia: “Os que vivem em discórdia não louvam o Senhor. E, portanto, tampouco o Senhor os abençoa. Seus lábios desfiam louvores, mas seus corações o maldizem. Quem abandona a unidade se faz desertor da caridade”.

“Guarda-os em Teu Nome”. Aquinome” significa pessoa, seu ser, sua presença e seu agir.

 Eles não pertencem ao mundo, como Eu não pertenço ao mundo. A palavramundo” aparece 11 vezes nos vv.11 a 19. Para o evangelista João, como para todo o NT, “mundo”, neste contexto, não se refere a este planeta onde habitamos e sim ao conjunto das três grandes ambições humanas: a ambição inerente à condição humana (concupiscência humana), a ambição dos olhos, e a arrogância da fortuna, como afirma o próprio São João na sua primeira Carta: “Porque tudo o que há no mundo — a concupiscência humana, a cobiça dos olhos e a ostentação da riquezanão vem do Pai, mas do mundo” (1Jo 2,16).  No entanto, os discípulos de Cristo, os cristãos não devem ser puritanos, no sentido de separar-se ou fugir do mundo e sim devem ser puros, no sentido de não deixar-se contaminar pelo ambiente hostil. O cristão deve trabalhar como o fermento: discreto, mas efetivo. É saber-se posicionar como cristão. A presença de um cristão no mundo deve ser uma presença interrogante. A tarefa de cada cristão e dos cristãos em geral é instaurar um modelo alternativo da convivência humana. Para isso, os cristãos necessitam ser preservados das forças negativas do egoísmo e da exploração dos demais. Estar preservado das forças do Maligno é impedir que a consciência do cristão seja contaminada pelo poder do egoísmo. Ondeegoísmo, nãoamor. O onde nãoamor, também nãoDeus, poisDeus é amor” (1Jo 4,8.16).

Reflitamos as palavras de Santo Agostinho:

O amor ao mundo corrompe a alma; o amor ao Criador do mundo a purifica” (Serm. 142,3,3). “Amando a Deus nos tornamos divinos; amando ao mundo nos tornamos mundanos” (Serm. 121,1).

O mundo combate contra os soldados de Cristo com duas armas e táticas diferentes. Uma arma é a sedução; sua tática, criar angústia. A outra é o medo; sua tática, semear desânimo” (Serm. 276,2,2).

Rio de Janeiro, 08 de junho de 2011
Vitus Gustama, SVD
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