Lc 1,5-17.57-66.80
João significa o Senhor manifestou sua benevolência; Zacarias= Deus se recordou; Isabel (elíseba, Hbr)= Deus é plenitude, perfeição.
A festa do Nascimento de são João Batista historicamente é muito popular. O folclore com suas fogueiras, danças, comidas etc. é bem conhecido. A Igreja colocou esta celebração a seis meses exatos antes do nascimento de Jesus (Natal), aplicando ao ciclo litúrgico a frase “já está no sexto mês aquela que é tida por estéril” (Lc 1,36).
João Batista foi um personagem conhecido em seu tempo. O historiador Flavio Josefo citou João Batista na sua obra. Para a fé cristã supõe o fim do Antigo Testamento e o prelúdio do Novo Testamento. João Batista é, nada mais e nada menos, o Precursor do Senhor. Seu nome o indica: Deus se compadeceu ou o Senhor manifestou sua benevolência; enquanto que Jesus significa “Deus salva”.
No nascimento de João Batista intervieram dois fatores: por um lado, a realidade biológica dos pais que se amam. E por outro lado, influi de uma maneira decisiva o poder de Deus que guia a história dos homens.
Sobre este fundo se entende perfeitamente a história do nome “João”. Seguindo a tradição da família e supondo que o menino recém-nascido lhes pertença, os parentes querem chamá-lo de “Zacarias”. Os pais do menino, no entanto, sabem que, ainda que seja deles, o menino é, no fundo, um presente de Deus e Deus lhe destina a realizar Sua obra.
Isto quer nos dizer que quando Deus coloca uma testemunha diante do Messias, como mensageiro seu, quando Deus coloca um homem ou uma mulher diante de Jesus, o Salvador, para que se entregue a Ele e O aceite como Senhor e se dispõe a segui-Lo como discípulo, isso não é um acontecimento qualquer diante de tantos outros acontecimentos. Quando alguém se converte em testemunha, em um discípulo, em um sacerdote, em um religioso, em um cristão, este acontecimento não tem nada a ver com a família, com a tradição, com o povo e com a educação recebida. O poder de Deus é que guia a história e terá a ultima palavra no fim de cada história. Se o menino João Batista tem uma vocação, não é porque seja filho de seus pais. Se esse menino é testemunha, não é porque seu pai ou sua mãe tenha feito algo especial por ele. O Espírito de Deus sopra para onde quer. O nome tradicional já não vale. Temos um Nome novo. Não sabemos qual é. Nós o conheceremos quando chegar a plena revelação de nosso ser, de nossa autentica personalidade, quando chegar a plena manifestação de nossa condição de filhos de Deus. São João nos escreveu: “caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a Ele, por que O veremos tal como Ele é” (1Jo 3,2).
Além disso, Igreja celebra normalmente a festa dos santos no dia de seu nascimento para a vida eterna, que é o dia de sua morte. No caso de São João Batista se faz uma exceção e se celebra o dia de seu nascimento terreno, porque ele é o Precursor que prepara a próxima chegada do Messias, Jesus Cristo.
O nascimento de João Batista é visto como um ato de “misericórdia” do Senhor na vida de Isabel. O que se enfatiza na misericórdia são a generosidade e a fidelidade de Deus aos justos. “Justo” é aquele que acolhe o amor de Deus com gratidão. E este amor leva a pessoa a viver de acordo com a justiça divina e não faz nenhuma injustiça contra os outros, seja na palavra, seja no ato. Através do nascimento de João Batista de um casal idoso e estéril, mas justo, Deus quer mostrar como é grande o seu poder pelos justos e como é gratuito o seu amor que torna fecunda uma mulher estéril como Isabel.
O ventre estéril de Isabel representa a condição da humanidade: sem vida, sem esperança, e sem futuro. É uma situação insustentável, triste e sem saída. Mas para os justos Deus sempre intervém do alto para dar-lhes vida, movido unicamente por seu amor. Neste ponto explode a alegria que envolve a todos e que provoca o homem a fazer louvores. A presença de Deus na vida de qualquer pessoa sempre traz a alegria. As pessoas que acreditam em Deus são pessoas alegres, porque Deus é amor.
Por outro lado, o texto quer nos apresentar o lado escuro da fé. Zacarias serve a Deus no Templo. Mesmo assim tem dúvidas diante do anúncio de Deus sobre a gravidez de Isabel, sua esposa apesar de sua idade avançada. Vem a pergunta que serve de reflexão para cada um de nós diante da incredulidade de Zacarias: “Que sentido tinha, então, o rito que com tanta solenidade ele celebrava no Templo? Que sentido tem das missas das quais participamos quase todos os dias se continuamos a duvidar da misericórdia e do poder de Deus na nossa vida?”
Através do nascimento milagroso de João Batista Deus quer dizer a cada um de nós: “Confie em mim!”. Deus nos pede que em cada dúvida, perplexidade e escuridão de nossa vida que saibamos nos entregar nas mãos misericordiosas de Deus e que sejamos fiéis aos seus mandamentos não por medo, mas por amor. Diante do amor de Deus devemos responder com o mesmo amor. Através do anjo Deus diz a Zacarias: “Não tenhais medo, Zacarias!”. As mensagens e a Palavra de Deus são motivo de paz e de serenidade para quem as escuta com coração e as vive no cotidiano. É verdade que em determinados casos e momentos pode custar aceitar a vontade de Deus, porém, no final da história sempre nos deixa a paz. Por isso, quando há medo e desconfiança temos que recorrer à voz e à Palavra de Deus que nos acalma. Para Deus não há nada, absolutamente nada impossível (cf. Lc 1,37).
Vitus Gustama,SVD
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