Naquele tempo , 13as autoridades mandaram alguns fariseus e alguns partidários de Herodes, para apanharem Jesus em alguma palavra . 14Quando chegaram, disseram a Jesus: “Mestre , sabemos que tu és verdadeiro , e não dás preferência a ninguém . Com efeito , tu não olhas para as aparências do homem , mas ensinas, com verdade , o caminho de Deus . Dize-nos: É lícito ou não pagar o imposto a César? Devemos pagar ou não ?” 15Jesus percebeu a hipocrisia deles, e respondeu: “Por que me tentais? Trazei-me uma moeda para que eu a veja”. 16Eles levaram a moeda , e Jesus perguntou: “De quem é a figura e inscrição que estão nessa moeda ?” Eles responderam: “De César”. 17Então Jesus disse: “Dai, pois , a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus ”. E eles ficaram admirados com Jesus.
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Os fariseus apresentam a Jesus um problema ou um dilema aparentemente insolúvel . Jesus relativiza o insolúvel problema introduzindo Deus no horizonte do problema . O surpreendente de Jesus é que quando introduz Deus Ele não faz discursos sobre Deus . Jesus simplesmente vive de Deus , fala com Ele , o presente e o sente. Para Jesus Deus é Alguém , e não algo . É Alguém com quem conta em quaisquer momentos . É Alguém com quem Jesus convive. “Eu e o Pai somos um ” (Jo 10,30).
“Devolva a Cesar o que é do César”, diz Jesus. Mas somente devolver o que é do César e não tudo o que o poder pretende com todo seu aparato coercitivo . Por isso , Jesus acrescenta: “Devolva a Deus o que é de Deus ”. Isto significa que nem tudo é do César, ou seja, que o poder do Estado não é absoluto . Na linguagem política os limites do poder político radicam na soberania popular , no reconhecimento e na declaração dos direitos humanos . Na linguagem espiritual ou religiosa o que se enfatiza é que os poderes do Estado ou qualquer poder estão limitados pela soberania de Deus , pois Deus criou o homem a sua imagem e semelhança . Assim expressa o profeta Isaias do seguinte modo : “Eu sou Deus . Não há outro Deus fora de mim ” (cf. Is 45,20-25). A existência de Deus , o Absoluto , é a negação de qualquer outro que se apresente como absoluto . Só há um Deus , o resto não é Deus .
Na verdade , aqui não há uma verdadeira oposição , baseada no Evangelho , entre o que é do César e o que é Deus . Dar ou devolver a Deus o que é lhe devido implica que seja dado a César o que somente lhe pertence . O Reino de Deus não se situa fora dos reinos terrestres que são assumidos por Deus em Jesus Cristo . Por isso , não se pode ser cristão autentico à margem das realidades . O cristão é chamado e enviado para ser o sal e a luz do mundo (cf. Mt 5,13-16) para que ninguém explore ninguém , pois todos são filhos do mesmo Pai . O cristão na vida política deve ser justo . A obediência cívica não pode estar em contradição com deveres com Deus . Jesus respeita a autonomia do poder político , mas ao mesmo tempo afirma implicitamente que as estruturas políticas , representadas neste caso pelo imperador romano , não podem nunca ser divinizadas. Somente Deus é Deus .
Às vezes podemos cair na tentação de pensar que o evangelho e a vida cristã se reduzem à mera vida espiritual . O evangelho de hoje nos mostra que não é assim . A vida do evangelho toca todas as áreas da vida , e entre elas a vida econômica e a da justiça . “Devolva a César o que é do César e a Deus o que é de Deus ” é o principio da justiça equitativa, que , todavia , está longe da justiça cristã. Pagar o que se deve são deveres elementares de justiça . A injustiça não cabe na vida do cristão . Devolvamos a cada um o que lhe é próprio e nossa vida se encherá de paz e de alegria . Podemos até ganhar na justiça humana . Mas precisamos estar conscientes de que ainda resta a justiça divina , como diz São Paulo: “Todos nós teremos de comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo , a fim de que cada um receba a retribuição do que tiver feito durante sua vida no corpo , seja para o bem , seja para o mal ” (2Cor 5,10).
P. Vitus Gustama,svd
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