XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM DO ANO B
O evangelho do domingo anterior falou da multiplicação dos pães para saciar cinco mil pessoas . É evidente que o interesse do evangelista não está centrado no ato em si e sim no seu significado . Na mente do evangelista o milagre de multiplicação deve ser considerado como sinal que aponta para Outro Pão que pode saciar toda a humanidade . Este pão é o próprio Jesus Cristo daquilo que o evangelho deste domingo fala . A partir do evangelho deste domingo começa-se a falar do discurso sobre o Pão da Vida que é Jesus Cristo . O discurso sobre o Pão da Vida certamente parte da multiplicação dos pães .
Terminada a multiplicação dos pães , Jesus despediu a multidão , que queria proclamá-lo rei , e retirou-se para a montanha para orar (Jo 6,14-15). Mas o entusiasmo popular pelo milagre dos pães não se apagou facilmente. Os que tinham comido os pães abundantemente partiram para buscar Jesus, desejosos de continuar naquela situação de êxodo que lhes assegurava o sustento sem esforço próprio . Mas Deus nunca concede suas graças para estimular a preguiça dos homens . O homem tem que fazer uso dos dons de Deus e pede que esteja sempre em sintonia com a vontade do Doador destes dons .
Ao encontrar Jesus no dia seguinte em Cafarnaum (v.22), a multidão saciada pelo pão pergunta-lhe: ”Rabi , quando chegaste aqui ?”(v.25). Nicodemos se dirigiu a Jesus com o mesmo título “Rabi ”(Jo 3,2). O título reflete uma atitude geral com respeito a Jesus como mestre . Jesus não responde à pergunta . Em vez disto, ele começa por comentar o sinal da multiplicação para revelar o seu significado . Em tom solene Jesus lhe diz: “Em verdade , em verdade vos digo, vós me procurais não porque vistes sinais , mas porque comestes pão até vos saciardes”(v.26). Jesus sofre a incompreensão da multidão , em cujo benefício operou grandes obras . Jesus sabe que a multidão O procura não para escutar mais suas palavras , nem para penetrar mais a fundo na sua mensagem , e nem para ser ajudada a compreender os gestos que Jesus realizou, mas porque comeu pão em abundância gratuitamente e espera continuar tendo o pão garantido sem mais precisar trabalhar . Ao procurar Jesus, a multidão queria um deus de uso e consumo , um deus que sirva seus interesses e necessidades , um deus comercial que oferece e distribui os seus dons ao capricho do pedido . Aparentemente a multidão está procurando Jesus, mas que , na verdade , não passa da busca de si mesma que pretende colocar Jesus e o milagre a serviço do interesse próprio . Este é o deus de uma fé supersticiosa que quer encerrar Deus nos limites dos ritos e das leis cultuais, que procura servir-se de Deus em vez de servi-Lo e adorá-Lo. A multidão não entrou no âmago do sinal que é um convite para a fraternidade , para a participação, para a partilha e para a renúncia a possuir e guardar para si para depois começar a partilhar o que tem para os outros , especialmente aos necessitados. O que a multidão devia ter levado a entregar-se aos outros , como Jesus se entregou a ela , a centrou egoisticamente em sua própria fartura .
O alimento que não se acaba é a partilha, pois partilhando sobraram doze cestos cheios (Jo 6,13), isto é, o suficiente para todos sem distinção nenhuma. Jesus quer que os seus seguidores compreendam que Jesus não veio com uma vara mágica para transformar as pedras em pães de abundância , mas para ensinar que o amor fraterno , que o pão repartido, que a partilha sempre produzem pão em abundância . A multidão precisa entender que aquilo que é solução humana não precisa esperar de Deus , pois o próprio Deus já deu-lhe essa capacidade . O que precisa ser evitado é que não haja a fome e a miséria , pois não pode haver fome ou miséria sem que haja o pecado . A fome , a miséria e a injustiça são irmãs e quem as pratica não está com Deus e seu reino . O pão que comermos, fruto da injustiça e da exploração do irmão não é pão abençoado por Deus . Este tipo de pão nutre, mas não alimenta a vida humana . Mestre Eckhart disse: “Quem não dá ao outro o que é do outro , não come o seu próprio pão , mas come o seu e também aquele do outro ”. Assim o pão se torna amargo pois dentro dele contém muitas lágrimas .
O maná , alimento que perece, aponta para o outro superior e mais completo : pão da vida com referência a Cristo : “Em verdade , em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu , mas é meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu ; porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo ”(vv.32-33). Mas a multidão interpretou o pão de que Jesus fala materialmente , como a samaritana a respeito da água viva (Jo 4,14): “Senhor dá-nos sempre deste pão ”(v.34). Mas este pedido propicia a grande auto-revelação da pessoa de Jesus onde ele se identifica com o pão em questão : “Eu sou o Pão da Vida . Quem vem a mim , nunca mais terá fome , e o que crê em mim nunca mais terá sede ”(v.35). Este versículo representa o ápice do discurso . Todo o discurso tende para esta revelação final : “Eu sou o pão da vida ”. A expressão “Eu sou” é a fórmula com que Deus se revelou no AT(Ex 3,14). Nesta auto-revelação, Jesus se manifesta como a resposta às necessidades e esperanças do homem . Para que seja assim , a única condição que se exige do homem é a fé . Jesus é o pão da vida que , tal como a água viva , satisfaz para sempre a fome e a sede do que crê nele. Cristo é a vida imortal prometida ao homem desde o princípio e à qual agora pode ter acesso através da fé nele. Quem se alimenta de Cristo vive para sempre .
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário