Segunda-feira da III
Semana da Quaresma
04 de Março de 2013
Textos: 2Rs
5,1-15; Lc 4,24-30
Jesus, vindo a Nazaré, disse ao povo
na sinagoga : 24“Em verdade eu vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria . 25De fato ,
eu vos
digo: no tempo do profeta
Elias, quando não
choveu durante três
anos e seis
meses e houve grande fome em toda a região ,
havia muitas viúvas em Israel. 26No
entanto , a nenhuma delas foi enviado Elias, senão
a uma viúva em
Sarepta, na Sidônia. 27E no tempo
do profeta Eliseu, havia muitos leprosos
em Israel. Contudo ,
nenhum deles foi curado, mas sim Naamã,
o sírio ”. 28Quando
ouviram estas palavras de Jesus, todos na sinagoga
ficaram furiosos . 29Levantaram-se
e o expulsaram da cidade . Levaram-no até o alto do monte sobre o qual a cidade
estava construída, com a intenção de lançá-lo no precipício .
30Jesus, porém , passando pelo meio deles,
continuou o seu caminho .
***********
Estamos nos
começos da atividade
pública de Jesus na versão
de Lucas. O autor nos
apresenta Jesus como o Messias
no qual se cumprem todas as promessas do Antigo
Testamento (Lc 4,21).
O texto
do evangelho de hoje
nos narra que
Jesus se encontra novamente
em sua
terra , Nazaré e se apresenta aos seus conterrâneos
numa Sinagoga no dia
de Sábado . Ele
veio a Nazaré para
dizer-lhes que com
sua vinda
ao mundo se inaugurou a salvação que o profeta
Isaias profetizava (Is 61,1-2). Mas com isso , o evangelista Lucas adverte que
as palavras de Jesus, mesmo que sejam
palavras cheias
da graça de Deus
que causam até
a admiração dos próprios
nazarenos (Lc 4,22), encontram dificuldade para entrar no coração de seus conterrâneos .
A razão dessa recusa é o conhecimento que
os nazarenos têm sobre
Jesus e sua família
em Nazaré. E por
isso , é difícil
para os nazarenos
acreditarem naquilo que Jesus prega na sinagoga :
“Não é este
o filho de José?” (Lc 4,22). Os nazarenos não
podiam compreender que
um carpinteiro
fosse um enviado
de Deus , muitos
menos o Messias .
Os nazarenos pensam que
o verdadeiramente grande e divino deve estar bastante distante
da vida cotidiana
dos homens .
A vida
cotidiana não
se deixa inquietar
pelo extraordinário ,
inclusive a busca
do extraordinário ameaça
aquilo que
tem o aspecto cotidiano . Muitos correm atrás
dos famosos e sabem de tudo sobre sua vida até nos seus detalhes . Muitos vão ao encontro dos ídolos
e os defendem, até são
capazes de morrer
por eles .
Muitas vezes queremos ver
nos famosos
ou ídolos
aquilo que
nós mesmos
não conseguimos alcançar
ou realizar . Muitos querem se identificar
com eles
e não querem tirar
deles algo positivo
para a própria
vida .
Os que
correm atrás dos famosos
e dos ídolos acabam não
vivendo a própria vida .
Mas se eu
não viver minha vida quem é que vai
vivê-la? Se eu não
melhorar a minha
vida , quem
é que vai melhorá-la? Os outros podem me
ajudar naquilo que
são capazes
de fazer , mas
nunca na minha
vida em
sua totalidade .
O mundo é uma projeção
de nossa psique
individual coletada numa tela global . O mundo é ferido ou
curado em função
de cada ato
e pensamento que
tivermos. Se eu me
recusar a encarar os problemas mais profundos que me impedem de fazer as coisas , o mundo
também ficará impedido de evoluir .
Se eu avançar
na melhoria do meu empenho
para o bem de todos , será minha
ajuda para mudar o mundo .
Devemos estar
conscientes de que
o essencial para
nossa vida ,
infelizmente , está no aspecto
cotidiano da vida
que os olhos
têm dificuldade para
enxergar . Esta é uma das mensagens
que Deus
quer nos
transmitir através
de Sua encarnação .
Quem diria que
o Salvador do mundo
pudesse nascer de uma mulher
comum e de um
lugar desconhecido
como Nazaré? Como
é bom termos
os olhos de Deus
para perceber e captar Sua presença na cotidianidade
da vida . Como
é bom termos
o coração de Isabel para
sentir a presença do Senhor que está em Maria (Lc 1,41-45). Como
é bom termos
os olhos de Simeão e da profetiza Ana que
enxergam facilmente a presença d’Aquele que traz
a salvação para o mundo
numa criança recém-nascida (Lc 2,29-32).
Como é bom
termos a simplicidade
dos pastores de Belém que vão com pressa ao encontro do Salvador recém-nascido depois
que ouviram a mensagem
do Anjo do Senhor
(Lc 2,8-18). Como é bom
termos a intuição
do discípulo amado
que logo
percebe a presença do Senhor
ressuscitado (Jo 21,7). Quem enxerga a presença de Deus na vida cotidiana
é uma pessoa feliz e nunca será mais
a mesma pessoa .
“Cristo se fez temporal para que tu sejas eterno ” (Santo
Agostinho: In epist. Joan. 2,10).
A expressão
de Jesus “Nenhum profeta
é bem recebido em
sua pátria ”
nos lembra quanto
somos rebeldes em
aceitar que
alguém de nosso
meio , cujas “virtudes
e milagres ” cremos conhecer ,
se torne juiz de nossa
ação , mesmo que seja em nome de Deus .
Se os nazarenos, que fazem parte do
Povo eleito, recusam a presença de um profeta na pessoa de Jesus, a primeira
leitura nos apresenta um homem pagão, Naamã, que acredita na Palavra de Deus
através da boca do profeta Eliseu.
Naamã era chefe do exercito do Rei
de Síria, guerreiro forte e valente, de um país pagão em constante guerra com
Israel. Mas agora está sofrendo de lepra. E sabemos muito bem que quando uma
pessoa sofre, não se pergunta por sua religião. Seu sofrimento clama uma ajuda
de quem for. Neste momento pode se saber até que ponto alguém tem compaixão e
solidariedade.
Uma jovem judia levada como escrava
que não guarda rancor ou mágoa oferece ajuda: “Ah, meu senhor, se se apresentasse
ao profeta que reside em Samaria, sem dúvida ele o livraria da lepra de que
padece”. Essa jovem representa uma pessoa que ama sem fronteiras e sem exceção.
Apesar de ela sofrer a escravidão, seu amor pelo seu patrão Naamã que padece de
lepra faz com que ela ofereça ajuda.
Naamã aceitou o conselho e foi
procurar o profeta Eliseu. E ao obedecer às palavras do profeta para se
purificar no rio Jordão Naamã voltou curado. Não é o gesto de ir algumas vezes
ao rio Jordão é que conta e sim a atitude interior de Naamã. A fé liberta e salva.
É preciso ter muita humildade para voltar-se a Deus para receber d’Ele a cura
de nossos males a exemplo do General Naamã. A humildade nos aproxima mais das
pessoas e de Deus. A humildade nos faz mais irmãos e mais humanos. Mantenhamos
humildes, como General Naamã, pois uma salvação pode ser recebida através de
instrumentos simples e insignificantes como a escrava judia que ajudou seu
patrão, General Naamã.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário