05 de Fevereiro de 2013
Naquele tempo ,
21Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: “Senhor, quantas vezes
devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” 22Jesus respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta
vezes sete. 23Porque o Reino dos Céus é como um rei que resolveu
acertar as contas com seus empregados. 24Quando começou o acerto,
trouxeram-lhe um que lhe devia uma enorme fortuna. 25Como o
empregado não tivesse com que pagar, o patrão mandou que fosse vendido como
escravo, junto com a mulher e seus filhos e tudo o que possuía, para que
pagasse a dívida. 26O empregado, porém, caiu aos pés do patrão, e prostrado,
suplicava: ‘Dá-me um prazo! e eu te pagarei tudo’. 27Diante disso, o
patrão teve compaixão, soltou o empregado e perdoou-lhe a dívida. 28Ao
sair dali, aquele empregado encontrou um de seus companheiros que lhe devia
apenas cem moedas. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me
deves’. 29O companheiro, caindo aos seus pés, suplicava: ‘Dá-me um
prazo! e eu te pagarei’. 30Mas o empregado não quis saber disso.
Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que ele pagasse o que devia. 31Vendo
o que havia acontecido, os outros empregados ficaram muito tristes, procuraram o
patrão e lhe contaram tudo. 32Então o patrão mandou chamá-lo e lhe
disse: ‘Empregado perverso, eu te perdoei toda a tua dívida, porque tu me
suplicaste. 33Não devias tu também, ter compaixão do teu
companheiro, como eu tive compaixão de ti?’ 34O patrão indignou-se e
mandou entregar aquele empregado aos torturadores, até que pagasse toda a sua
dívida. 35É assim que meu Pai que está nos céus fará convosco, se
cada um não perdoar de coração ao seu irmão”.
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O texto do evangelho lido neste dia
faz parte do quarto grande discurso de Jesus no evangelho de Mateus (Mt 18).
Este discurso é conhecido como “Discurso comunitário”, isto é, como devemos
conviver como uma comunidade. Para Mateus o pecado sempre existe, a fraqueza
humana nunca conhece seu fim. Por isso, na comunidade dever haver espaço para o
mútuo perdão. Perdão mútuo é um dos temas neste discurso. Sem o perdão mútuo, a
comunidade deixaria de existir. Os que são capazes de perdoar mostram que são
totalmente dominados pela misericórdia de Deus apesar das ofensas recebidas. Se
aplicar a lei de talião “dente por dente” e “olho por olho”, o que vai
resultar? Todos ficarão sem dentadura e cegos. Para que todos possam continuar
a enxergar a ação misericordiosa de Deus deve haver o perdão mútuo.
“Até
sete vezes
devo perdoar meu
irmão ?” é a pergunta
de Pedro a Jesus que lemos no evangelho de hoje.
Pedro propõe um
número elevado
de oportunidades de perdão ,
considerando que isso
é uma atitude nobre .
Sete vezes
não são
poucas! Mas de qualquer
maneira , ele
se preocupa com os limites
da atitude fraterna .
Jesus lhe
corrige sua perspectiva
legalista. No lugar de um “sete ” é melhor setenta vezes
sete . No AT o numero 77 representava a vingança dos filhos
de Caim (Gn 4, 24). Jesus muda os términos e converte o número
de vingança em
símbolo da reconciliação. Logo Jesus propõe uma parábola
que mostra
a deficiente atitude
dos que estão pendentes
de contabilizar a misericórdia , o perdão
e a fraternidade .
Jesus fala
para Pedro que
no exercício da caridade
fraterna , especialmente
neste caso sobre
o perdão mútuo ,
não existe limites . O perdão
deve estender-se até onde chegou a dor
ou o desejo
de vingança . Em
outras palavras , o perdão
deve ser proporcional à dor
que sentimos causada por nosso semelhante ou
ao desejo de vingança
que temos contra
quem nos
fez mal . Quem perdoa e é perdoado hoje , sempre
tem possibilidade de voltar a pecar
amanha, porque nossa
fidelidade a Deus
pode não ser definitiva . No entanto ,
sempre que
nos convertermos e voltarmos
arrependidos, nós encontraremos um Pai bondoso e misericordioso para
nos acolher e
perdoar . A simples
consciência da imensidade
do perdão recebido de Deus deveria ser suficiente para motivar cada um de nós a perdoar . Ao contrário ,
a insensibilidade em
relação ao dom
recebido de Deus torna
impossível a concessão
de perdão ao próximo .
Perdoar não é somente dever moral,
e sim o eco da consciência de ter sido perdoado por Deus. Assim chega a ser uma
espécie de virtude teologal que prolonga o perdão dado por Deus a mim (cf. Cl
3,13; Mt 6,14-15; 2Cor 5,18-20).
O perdão
refaz as pontes , encurta as distâncias e desarma os espíritos .
Quando a pessoa
não perdoar , ela se torna refém do próprio ódio ou rancor , e conseqüentemente
perde a liberdade e perturba a convivência . O perdão
é que possibilita a própria
existência e a continuação
da comunidade ou
de uma convivência . Sem
perdão não
existe vida fraterna ,
vida conjugal, vida
familiar , vida
religiosa ou
vida comunitária
e social .
O perdão
é uma categoria fundamental
e radical no Evangelho
e é proposto por Jesus, para
a comunidade , como
um elemento
constitutivo da qualidade das relações . Perdoando o passado
doloroso se constrói um futuro cheio
de esperança. Trata-se de uma atitude positiva e otimista . O mal não tem a
ultima palavra porque
o homem e a mulher
podem mudar .
A tradição bíblica apresenta um
Deus que ama um povo apaixonadamente. Ele ama o povo não por sua grandeza
cultural nem por mérito, e sim porque Deus o ama loucamente. Não existe outra
razão. Nós somos convidados a atuar nesta direção de gratuidade. Se nossa
relação com o próximo é vivida sob o sinal da maldade, não há razão para que
nossa própria relação com Deus se viva de outra maneira.
O versículo final da parábola (Mt
18,35) considera o amor fraterno como uma condição para obter o perdão de Deus.
O amor dispõe ao homem para o perdão. O perdão fraterno significa submeter-se
completamente à ação misericordiosa de Deus. Neste sentido, perdoar o próximo é
sinal da plenitude da eficácia do perdão de Deus recebido.
Deixemos hoje
as seguintes interrogações que podem complementar a
interrogação de Pedro: Quantas vezes
tenho que perdoar ?
O que tenho que
perdoar ? Quantas vezes
os outros devem me
perdoar ? O que
devem me perdoar ?
P. Vitus Gustama,svd
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