terça-feira, 19 de março de 2013

PERMANECER NA PALAVRA DE DEUS PARA MANTER A LIBERDADE
 
Quarta-feira da V Semana da Quaresma
20 de Março de 2013
 

Textos de Leitura: Dn 3, 14-24.49.91-92.95; Jo 8, 31-42

Naquele tempo, 31Jesus disse aos judeus que nele tinham acreditado: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, 32e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. 33Responderam eles: “Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres’?” 34Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. 35O escravo não permanece para sempre numa família, mas o filho permanece nela para sempre. 36Se, pois, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres. 37Bem sei que sois descendentes de Abraão; no entanto, procurais matar-me, porque a minha palavra não é acolhida por vós. 38Eu falo o que vi junto do Pai; e vós fazeis o que ouvistes do vosso pai”. 39Eles responderam então: “Nosso pai é Abraão”. Disse-lhes Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão! 40Mas agora, vós procurais matar-me, a mim, que vos falei a verdade que ouvi de Deus. Isto, Abraão não o fez. 41Vós fazeis as obras do vosso pai”. Disseram-lhe, então: “Nós não nascemos do adultério, temos um pai: Deus”. 42Respondeu-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, certamente me amaríeis, porque de Deus é que eu saí, e vim. Não vim por mim mesmo, mas foi ele que me enviou”. (Jo 8,31-42)

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Nos tempos de Antíoco IV Epifânio, os judeus eram obrigados a adorar os deuses pagãos e a seguir as leis ou prescrições que Antíoco lhes dava. Os mais piedosos não obedeceram à ordem do rei. Conseqüentemente, alguns foram torturados, inclusive os três jovens. Os “três jovens” do livro de Daniel são extraordinariamente valentes. Eles encontram o sentido de sua vida em Deus, e por isso, não aceitam a ordem para adorar os deuses pagãos, pois eles encontraram em Deus sua razão de viver.  Em nome de nada podemos abrir mão de nossos valores. Tem valores, que apesar dos problemas e dificuldades, que não podemos abrir mão. Precisamos depositar nossa confiança em Deus em qualquer situação. Sempre há providencia divina, como o anjo que Deus mandou libertar os três jovens, seus justos. “É preciso obedecer a Deus (viver conforme os valores) antes de obedecer aos homens” (At 5,29). O Deus que libertou os três jovens do fogo de um forno, também nos libertará de qualquer sufoco. Deus nunca abandona quem Lhe é fiel. Basta crer n’Ele. É preciso crer n’Ele. Não tenha medo nem dúvida de crer n’Ele. É preciso continuar a vivermos de acordo com a bondade de Deus. “Não devemos ter medo de bondade, ou mesmo de ternura” (Papa Francisco). É preciso nos manter justos, como os três jovens do livro de Daniel.


Os justos são aqueles que em meio do fogo das provas e perseguições mantêm a fidelidade e a confiança em Deus, que os faz livres. Os três jovens são imagem do povo fiel que persevera na alegria apesar das dificuldades porque sabem em quem acreditam e se apóiam: em Deus. Se soubermos em quem acreditamos e que Aquele em quem acreditamos está acima de tudo, as tribulações, as angústias, as provas perderão suas forças contra nós ou diante de nós. Deus ajuda os fieis e lhesforça de que necessitam na luta contra o mal. Por isso, os três irmãos são livres de tudo.


No evangelho lido neste dia destacam-se três temas fundamentais: a fidelidade, a liberdade e a filiação. Seguir Jesus implica manter-se fiel à Sua Palavra, de modo que o verdadeiro cristão não é somente aquele que crê, mas, sobretudo, aquele que escuta, vive e dá testemunho da Palavra. A Palavra de Deus leva o cristão a conhecer a verdade.


“Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará”. São João não fala de uma verdade abstrata com que o homem encontra e satisfaz seu desejo de saber. Mas trata-se da máxima verdade concreta na pessoa de Jesus. Para são João a verdade é vinculada total e absolutamente à pessoa de Jesus. Por isso, Jesus não é somente o Mestre de uns princípios verdadeiros, nem é somente o Portador de uma verdade de revelação que pode expor-se como uma doutrina e sim, Jesus é, pessoalmente “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Para o homem a única verdade é a plenitude de vida; trata-se de ter uma vida de qualidade humana e divina, ao mesmo tempo, que contém no projeto de Deus realizado em e por Jesus.


A Palavra de Jesus é como um espaço vital em que o homem há de manter-se sempre. A Palavra de Jesus é como um sinal para a vida dos cristãos: o sinal único e definitivo. É a norma suprema na qual o cristão aposta sua vida e sua salvação, pois a Palavra de Deus será a ultima palavra para o homem. 


Para o cristão fiel Jesus promete o conhecimento da verdade e da liberdade: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.  Para João a verdade está vinculada total e absolutamente à pessoa de Jesus, pois ele é “o Caminha, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). O efeito imediato da experiência do cristão da verdade é a libertação e a liberdade.  Mas não se trata de uma libertação política ou social, mas trata-se da libertação definitiva diante das potências da morte, do pecado, das trevas às quais o homem sucumbe. Trata-se da libertação do homem de si mesmo. Esta é a liberdade radical outorgada ao homem pela em Jesus. No fundo se identificam experiência de salvação e experiência de liberdade. Por isso, a liberdade que Jesus comunica ultrapassa a mera possibilidade de opção, mas situa o homem na sua verdadeira dignidade: o faz partícipe da liberdade do Pai.                                                                                      


Jesus é perfeitamente livre, porque é perfeitamente Filho. Ama seu Pai. Fala dele sem cessar. É livre porque ama: não está apegado a si mesmo. Jesus é livre diante de sua família, dos seus discípulos, das autoridades. É livre para anunciar e denunciar. Segue seu caminho com fidelidade, com alegria, com liberdade interior. Quando estava no meio do julgamento, Jesus era muito mais livre do que o próprio Pilatos. Nada lhe detém. Nãonenhum egoísmo, nenhum obstáculo ao amor. Isto significa que o amor de Deus vivido profundamente faz o cristão livre de tudo, como Jesus Cristo. É o único meio de não estar submetido a nada. Ser livres significa ser filhos, não escravos, na família de Deus. Para João, pecar é converter-se em escravo: ter por pai o “pai da mentira”. Jesus é a Verdade (Jo 14,6), e por isso, ele pode dar a verdadeira liberdade.


Celebrar a Páscoa é celebrar a liberdade dada pelo Senhor ressuscitado. A Páscoa de Jesus quer ser para nós um crescimento na liberdade interior, pois a Páscoa é a festa da libertação. Em meio de um mundo que nos oferece muitos “valores”, mas também nos tenta com contra-valores que nos levam irremediavelmente à escravidão, Jesus nos convida a sermos livres. Para viver em Deus, como filhos e filhas, não basta querer, pedir e buscar liberdade econômica, política, cultural, religiosa; é indispensável a libertação do pecado. É preciso parar de fazer o outro sofrer e a si mesmo. É preciso saber se cuidar para poder cuidar dos demais. “Guardar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e amor, é abrir o horizonte da esperança, é abrir um rasgo de luz no meio de tantas nuvens, é levar o calor da esperança!” (Papa Francisco).    


Reflitamos:

“Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor” (Papa Francisco).           

P. Vitus Gustama,svd

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