NA SUA PALAVRA, SENHOR, QUERO CRER
Segunda-feira da IV Semana da Quaresma
11 de Março de 2013
Textos: Is 65,17-21; Jo 4,43-54
Naquele tempo, 43Jesus partiu da Samaria para a
Galileia. 44O próprio Jesus tinha declarado, que um profeta não é honrado na
sua própria terra. 45Quando então chegou à Galileia, os galileus receberam-no
bem, porque tinham visto tudo o que Jesus tinha feito em Jerusalém, durante a
festa. Pois também eles tinham ido à festa. 46Assim, Jesus voltou para Caná da
Galileia, onde havia transformado água em vinho. Havia em Cafarnaum um funcionário
do rei que tinha um filho doente. 47Ouviu dizer que Jesus tinha vindo da Judeia
para a Galileia. Ele saiu ao seu encontro e pediu-lhe que fosse a Cafarnaum
curar seu filho, que estava morrendo. 48Jesus disse-lhe: “Se não virdes sinais
e prodígios, não acreditais”. 49O funcionário do rei disse: “Senhor, desce,
antes que meu filho morra!” 50Jesus lhe disse: “Podes ir, teu filho está vivo”.
O homem acreditou na palavra de Jesus e foi embora. 51Enquanto descia para
Cafarnaum, seus empregados foram ao seu encontro, dizendo que o seu filho
estava vivo. 52O funcionário perguntou a que horas o menino tinha melhorado.
Eles responderam: “A febre desapareceu, ontem, pela uma da tarde”. 53O pai
verificou que tinha sido exatamente na mesma hora em que Jesus lhe havia dito:
“Teu filho está vivo”. Então, ele abraçou a fé, juntamente com toda a sua
família. 54Esse foi o segundo sinal de Jesus. Realizou-o quando voltou da
Judeia para a Galileia.
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Hoje o evangelho nos relata que
Jesus se encontra novamente em Caná da Galiléia onde ele realizou o primeiro
sinal: a transformação de água em vinho (Jo 2,1-11). No evangelho de hoje Ele
operou outro sinal: a cura do filho de um funcionário real. Ainda que o
primeiro sinal seja um espetacular, mas este segundo é mais valioso porque não
é algo material o que se soluciona e sim a vida de uma pessoa que está quase
para terminar.
O evangelista João escolhe, como
protagonista para o segundo sinal operado por Jesus, um homem que exerce
autoridade, um funcionário real (de um rei). E por isso, pode ser figura de
qualquer tipo de poder.
Esse funcionário apenas ouviu falar
de Jesus. Movido pela necessidade ele foi procurar Jesus para que este pudesse
curar seu filho de uma doença mortal. O funcionário pede uma intervenção direta
de Jesus a favor de seu filho que está para morrer. Jesus contestou: “Se não
virdes sinais e prodígios, não acreditais”. Com esta resposta Jesus quer
mostrar a mentalidade comum desse tipo de grupo de pessoas: “Não acreditais”.
Com este plural Jesus assinala a categoria dos instalados no poder. Jesus,
através desse funcionário, quer se dirigir aos poderosos e em geral, para
aqueles que esperam a salvação na demonstração do poder. Para eles, a fé
somente pode ter como fundamento o desdobramento de força, o espetáculo
maravilhoso.
O funcionário não se intimidou, mas
insiste: “Senhor, desce antes que meu filho morra!”. Com este pedido renovado
esse funcionário confessa a impotência do poder diante da debilidade e da
morte. O poder deste mundo é impotente para salvar.
Por causa de sua fé, Jesus disse ao
funcionário: “Podes ir, teu filho está vivo!”. Com sua resposta Jesus indica
que a salvação que ele trouxe não requer a colaboração do poderoso. Jesus atua
na simplicidade sem ostentação. Jesus não precisa descer até Cafarnaum. Sua
ação não necessita de sua presença física. Será sua mensagem que comunica vida.
Basta acreditar nela. Ele comunica vida com sua Palavra que é Palavra criadora
e chega a todo lugar.
Com sua Palavra e seu convite para
que vá, pois o filho está vivo, Jesus quer colocar o funcionário à prova para
sua fé e para ver se ele renuncia a seu desejo de sinais espetaculares (“Se não
virdes sinais e prodígios, não acreditais”). O funcionário aceita o desafio
posto por Jesus e acredita no poder de Sua Palavra. Como resultado, ele viu seu
filho vivo certamente no momento em que Jesus pronunciou sua Palavra: “Podes
ir, teu filho está vivo”. Ele que pedia a Jesus como poderoso, agora crê como
“homem”; antes se definia por sua função, agora por sua condição humana,
pressuposta para toda relação pessoal. Ele confia na Palavra de Jesus e por
isso se põe em caminho. Ele renunciou a sua mentalidade de poder e aos sinais
portentosos.
O que chama a atenção deste segundo
sinal é que Jesus atua à distância. Ele não precisa ir até Cafarnaum para curar
diretamente o enfermo. Sem se mover de Caná Jesus faz o possível o
restabelecimento. Diante do pedido do funcionário real: “Senhor, desce, antes
que meu filho morra!”, Jesus responde: “Podes ir, teu filho está vivo”.
Isto nos recorda que podemos fazer
tantas coisas boas à distância, isto é, sem ter que estar presentes no lugar
onde nos solicita nossa generosidade. Assim, por exemplo, colaborar
economicamente com nossos missionários ou com entidades católicas e semelhantes
que ali estão trabalhando, com as instituições de caridade. Inclusive, podemos
dar uma alegria a muita gente que está muito distante de nós com uma chamada de
telefone, uma carta ou um correio eletrônico. A distância não é nenhum problema
para ser generoso porque a generosidade sai do coração e ultrapassa todas as
fronteiras. Como dizia Santo Agostinho: “Quem tem caridade em seu coração,
sempre encontra alguma coisa para dar”.
Em segundo lugar, S. João, ao
narrar a cura, à distância, do filho do funcionário real, quer nos apresentar
Jesus como Palavra de vida. Mas a Palavra que exige a fé. A Palavra de Jesus é
o sinal extraordinário e o prodígio que nos oferece. Quem acolhe a Palavra e
acredita nela, experimenta milagres e muitas transformações na vida. O
funcionário real acolheu a Palavra de Jesus e recebeu como prêmio a cura do
próprio filho. Jesus comunica vida com sua Palavra, que é palavra criadora e
chega a todo lugar. “Crer” sem necessidade de sinais nem de prodígios é fonte
de vida e de cura e de outras tantas transformações na vida. A pesar de
ser um excluído da religião oficial, por ser um estrangeiro e por isso, impuro,
no entanto Jesus descobre no funcionário real um homem de fé que crê na
promessa de cura apesar com palavra apenas e à distância. O perigo de toda
religião é chegar a crer no legalismo. Quando a lei se entroniza no interior da
mesma, a surpresa e a gratuidade do encontro com Deus, que é o que realmente
define o milagre, se tornam impossíveis. O legalismo, por fazer que as coisas
boas sucedam como recompensa para a observância da lei, destrói a possibilidade
da graça e do verdadeiro milagre. A possibilidade de encontrar-se com as
pessoas do tipo do funcionário real, necessitadas do amor mais que da lei, faz
renascer em Jesus a imensa alegria da misericórdia. A partir daqui todo milagre
é possível.
Portanto, acreditar e obedecer,
acolher a Palavra de Deus e pô-la em prática é uma questão de vida ou de morte.
Se soubermos caminhar na fé acreditando na Palavra de Deus, mesmo na noite
escura do sofrimento e da provação, a Palavra será como uma lâmpada para os
nossos passos
P. Vitus Gustama,svd
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