PÁSCOA COM O SENHOR
PÁSCOA: AMAR-MORRER-RESSUSCITAR
Neste domingo
da Páscoa
precisamos ver três
coisas essenciais
que aconteceram durante
o Tríduo Pascal
a partir das quais
cada um
precisa se ver
ou se olhar com serenidade
e seriedade: O amor
da Quinta-feira Santa,
a Morte da Sexta-feira
Santa e a Ressurreição
da Páscoa. AMAR,
MORRER, RESSUSCITAR são como três movimentos
“em crescendo”
da Semana Santa.
Três realidades
que, sem
dúvida, são
mais importantes
na vida de cada
homem.
AMAR é o verbo
mais conjugado
da história. O homem
está sedento de amor.
Quando o encontra
e quando o dá, ele
é feliz. Mas amar como Jesus com sua medida e com sua finalidade,
não é fácil.
Amar como
Jesus amou supõe negar-se, esquecer-se e vencer-se. Amar
como Jesus amou supõe considerar
verdadeiramente os homens, todos os homens
como irmãos
e estar disposto
a partilhar o que
se tem. Não é fácil
amar assim. Por isso, muito raras vezes
o fazemos e praticamente não o fazemos. Em geral os homens não o
fazem e evidentemente, os cristãos não o
fazem. Por isso
é que ainda
não entendemos o acontecimento
da Quinta-Feira Santa.
Quem sabe amar,
não tem medo
de se arriscar como
Jesus. Jesus nos amou até o fim com todas as suas
conseqüências (Jo 13,1).
MORRER. É o acontecimento
da Sexta-Feira Santa.
Que difícil!
No entanto, a morte
está ai. Fisicamente somos vulneráveis e
por isso,
somos sujeitos também
à morte. Mas não queremos saber de nada da morte e o mundo tenta esconder essa realidade e nega a preparar as pessoas para esse acontecimento.
Morrer é o acontecimento
da Sexta-Feira Santa!
Que terrível
uma morte sem
resposta! Que
angustiante uma morte sem
retorno. Que
cruel uma morte
sem vitória.
Contemplando o modo de vida dos homens
caberia cada um
perguntar-se: Que esperam os homens perseguindo tão
ansiosamente o poder,
o dinheiro, a glória,
a fama? Será que
está ai a meta sonhada, o fim último, a aspiração máxima? Que pensam os homens
da morte? Não
é fácil aprender
a morrer; no entanto,
deveríamos nos esforçar
por dar, à luz da morte, o sabor cristão e
transcendente a nosso
existir. É pensar serenamente sobre
a Sexta-Feira Santa
à sombra da Cruz
de Jesus. Não é a morte
que absurda
e sim a vida
sem a morte. Para viver bem
cada um
tem que aprender
a morrer. Este
é o paradoxo da vida
cristã ou do viver
bem. Um grão de trigo precisa morrer e cair na terra a fim de dar muito outros grãos. É uma morte fecunda e frutífera.
RESSUSCITAR. Esta é a ultima palavra da morte. É o triunfo, a glória,
a alegria. Jesus venceu o tédio,
a dor, a angústia,
a incógnita que
a mente humana
ergueu. O triunfo de Jesus é o nosso também.
Será que nós
cristãos acreditamos assim? Oxalá que
no fundo de nosso
ser acreditemos assim.
Precisamos avivar essa fé,
fazê-la realidade diária,
pô-la em destaque
ao haver qualquer
tentativa de sufocar a vida. Precisamos pôr esta fé no encontro
e na convivência com
os demais, na vida
familiar e profissional,
nas decisões de cada
dia, nas orações
e celebrações. Há que
intentar ressuscitar cada dia num esforço permanente
por dar a nossa existência
um tom
e um estilo
no qual se reconhece imediatamente Cristo
cujo final
não foi a Cruz
e sim a Luz,
a vida triunfante
e transbordante que
faz os outros ao redor
viver essa mesma
vida.
AMAR, MORRER e RESSUSCITAR são
três realidades
para pensarmos e vivermos na Semana
Santa e em
toda nossa
vida se quisermos viver
uma vida significativa
e transbordante.
Quem experimenta
ser “ressuscitado” entra em
campo de vida
nova, jovial,
festiva, alegre,
gratuita, recebida como
dom ou
presente de Deus,
não como
mero dever, mérito ou imposição. Nossa
experiência de ressuscitado já neste mundo torna nossos horizontes belos,
cheios de sentido,
torna nossa
vida humanizadora e divinizadora, torna nossas perspectivas
muito além
de um olhar humano. A força
vigorosa da vontade
redimida e ressuscitada faz qualquer um buscar as coisas do alto,
como diz São
Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas
do alto onde
Cristo está sentado à direita do Pai”
(Cl 3,1). Quais são
essas coisas do alto?
São as ações,
atitudes e programas
de vida que
respondem ao ideal de ser
homem e filho
de Deus preferindo a adoração ao desprezo, a honra à indignidade, a pureza de coração
à torpeza das paixões,
a justiça à impunidade,
a confissão de fé
à escravidão dos interesses
mesquinhos do homem
velho.
Um filho
ou uma filha
de Deus, ressuscitado com Cristo, há
de ser fiel a
Deus antes
que aos homens,
sujeito de esperança
que leva
à eternidade muito
melhor que
vítima da corrupção
terrena. Em
termos bíblicos e paulinos diríamos que há de buscar as coisas do alto,
isto é, há de tratar
de adquirir e manter os mesmos sentimentos
de Cristo: amor,
misericórdia, bondade,
solidariedade, partilha, longanimidade e
assim por
diante.
A luminosidade
dessa inteligência redimida e ressuscitada se
manifestará na pulcritude/ na formosura
ou na graciosidade
do pensamento. Quem
sabe governar-se na caridade da luz acaba se convertendo na naturalidade
o que antes
havia sido propósito de vida.
Se pensarmos como filhos
de Deus, acabaremos trabalhando conforme os pensamentos
de Cristo. Ao olhar
para o alto
seremos capazes de ver
além das aparências
enganosas e ao estarmos no mais alto, teremos uma visão
maior sobre
as coisas e nossa
vida de cada
dia. Se vivermos segundo
os pensamentos de Cristo,
triunfaremos. Se não o fizermos,
acabaremos pensando sendo aquilo que vivemos em nossa indignidade ou em nossa pequena maneira de viver.
Ao refletir,
meditar sobre
a ressurreição, nós
veremos que ter
fé, gozar
da fé, submergir-se no mistério
da ressurreição de Cristo
e logo nossa
é entrar num sublime
castelo e reino
de amor e de felicidade
eterna. No mistério
da fé nós
encontramos Cristo e nós mesmos. Em nossa vivência especialíssima de fé,
olhando para Cristo
ressuscitado, nós encontraremos nosso verdadeiro
caminho de luz.
Quem não
recebe o dom da fé
e, conseqüentemente, não se arrisca com
magnanimidade de espírito
a ir muito mais além dos acontecimentos históricos
que falam da crucificação
e da morte de Cristo,
não pode entender
nossa vivencia interior.
AMAR, MORRER
E RESSUSCITAR como
Cristo nos
capacitam a olharmos as coisas do alto e do alto
veremos com facilidade
o sentido de nossa
vida inclusive
de nossas lutas e de nossos sofrimentos de cada
dia.
Na fé
e no amor, é sempre
Páscoa. A vida
é ressurreição, quando
se vive em Cristo
e manifesta em
seu amor.
E morrer é também
Páscoa, porque
em Cristo
Jesus a morte foi vencida.
Um santo
Monge da Rússia do século
XVIII, Serafin de Sarov, acolhia aos que
ia visitá-lo com estas palavras, cheias
de ternura e de esperança:
“Minha alegria,
Cristo ressuscitou!”. Que a ressurreição
do Senhor seja também
nossa alegria
de cada dia
e nossa força
para continuar nossa luta pelo bem e pela
dignidade. Confiemos na força da ressurreição
e com ela
triunfaremos também como
Cristo! Que
assim seja.
Vitus Gustama, SVD
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