FÉ QUE ALCANÇA TUDO
Quarta-feira da XVIII
Semana Comum
07 de Agosto de 2013
Texto de leitura: Mt
15,21-28
Naquele tempo, 21 Jesus retirou-se para a
região de Tiro e Sidônia. 22 Eis que uma mulher cananeia, vindo
daquela região, pôs-se a gritar: “Senhor, filho de Davi, tem piedade de mim: minha
filha está cruelmente atormentada por um demônio!” 23 Mas, Jesus não lhe
respondeu palavra alguma. Então seus discípulos aproximaram-se e lhe pediram: “Manda
embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”. 24 Jesus respondeu: “Eu fui
enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel”. 25 Mas, a mulher, aproximando-se,
prostrou-se diante de Jesus, e começou a implorar: “Senhor, socorre-me!” 26 Jesus lhe disse: “Não fica
bem tirar o pão dos filhos para jogá-los aos cachorrinhos”. 27 A mulher insistiu: “É
verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa
de seus donos!” 28 Diante disso, Jesus lhe disse: “Mulher, grande é a tua fé! Seja
feito como tu queres!” E desde aquele momento sua filha ficou curada.
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1. A Salvação Trazida Por Jesus é Universal
O que tem por trás do relato sobre a
cura da filha de uma mulher cananéia é a chegada do Evangelho aos pagãos. Neste
relato usam-se os termos “cananéia”, apelativo dado à mulher cuja filha estava
doente e “cachorro”. No Antigo Testamento o apelativo “cananéia” designa os pagãos. Do mesmo modo o termo “cachorro”
(animal impuro), que é para os judeus tem um sentido pejorativo, designa os pagãos
(impuros).
O relato nos mostra que, sendo
judeu, Jesus abre o diálogo para os pagãos, pois Ele foi enviado para salvar
toda a humanidade. Por sua vez, os pagãos, representados pela mulher cananéia,
reconhecem a messianidade de Jesus ao chamá-Lo de “Senhor e Filho de Davi” (Mt
15,22.25) e O adoram como Deus: “A mulher, aproximando-se, prostrou-se
diante de Jesus, e começou a implorar: “Senhor, socorre-me!”(Mt 15,25).
“Prostrar-se é uma expressão de adoração.
Para enfatizar mais ainda o papel de
Jesus como o Salvador da humanidade o texto usa também o termo “pão” que no
relato tem um sentido simbólico: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-los
aos cachorrinhos”. A mulher insistiu: “É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos
também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!”. “Comer as migalhas que caem da mesa dos filhos”
significa receber de Jesus o dom da cura para a filha da cananéia. O pão
alimenta e sustenta a vida. Jesus é Aquele que sustenta a vida da humanidade,
pois Ele é a própria vida e o Pão da vida (Jo 11,25; 14,6; cf. Jo 6,35.41.48.51.55).
2. Uma Pagã Que Nos Ensina a Termos Fé Em Jesus
O grandioso do relato do evangelho
deste dia é a forma como uma mulher pagã é colocada como modelo de fé em seu
sentido mais genuíno e original. Ela se abandona nos braços d’Aquele que vem da
parte de Deus (Jesus Cristo) e se declara fraca e limitada humanamente diante
do problema que afeta a vida de sua filha e conseqüentemente afeta também sua
vida como mãe. Em uma família ninguém sofre sozinho. A mãe reconhece a
superioridade e poder de Jesus, mostrando ao mesmo tempo a gravidade do
problema que afeta sua própria filha. O problema de sua filha é insustentável.
Na sua declaração essa mulher quer dizer a Jesus: “Sem Sua ajuda, Jesus, sem Seu
poder, é impossível sair do meu problema!”.
Essa mulher era uma Cananéia, uma
pagã, uma estrangeira. Jesus põe a prova sua fé usando uma frase que se
utilizava para desprezar os estrangeiros ou os pagãos: “cachorro”. Mas ela,
confiada na justiça e na misericórdia de Deus, responde sabiamente a Jesus:
“Mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa dos seus donos”.
Pela sua fé verdadeira e profunda e pela perseverança na sua oração essa mulher
é premiada por Jesus: a cura de sua filha.
O evangelho nos mostra a fé de uma
mulher que não pertencia ao povo eleito, não pertencia à uma Igreja ou a uma
religião, mas tinha confiança e fé no poder de Jesus. Ela pode não pertencer a
uma religião ou a uma Igreja, mas ela pertence a Deus pela fé que tem no poder
do Deus-Encarnado, Jesus Cristo. Será que os que estão dentro da Igreja têm
mais fé do que os que estão fora da Igreja? Será que os que estão dentro da
Igreja são mais cristãos do que os que estão fora da Igreja? Será que os que
estão dentro da Igreja são mais humanos, gentis e educados do que os que estão
fora da Igreja? Será que os que estão dentro da Igreja são mais perseverantes
na fé do que os que estão fora da Igreja? Será que, por causa da fé e do amor,
os que são considerados fora da Igreja na verdade estão dentro da Igreja e os
que são considerados dentro da Igreja na verdade estão fora da Igreja?
Será.....? “Todos somos
mais ateus do que acreditamos e mais crentes do que pensamos. Acho que os ateus
não se opõem a Deus, mas às criaturas de Deus que os fiéis lhe mostram”
(René Juan Trossero).
Ser pagão não depende da pertença ou
não a uma religião ou a uma Igreja. Ser pagão se define a partir do modo de
viver. Por isso, há cristãos-pagãos como também há pagãos- cristãos. Há
cristãos que perdem com facilidade sua fé e vivem sem esperança. São “cristãos”
pagãos. Há muitos que são considerados pagãos pelos outros, como a mulher
Cananéia, mas acreditam no poder de Deus incondicionalmente. São “pagãos”
cristãos.
A mulher Cananéia não perde sua fé,
não protesta, não se revolta ainda que encare a humilhação: ser chamada de
cachorro. Ela conseguiu o que pedia, pois ela se abandonava totalmente nos
braços de Deus e encarava todos os tipos de obstáculos e dificuldades. Santo
Agostinho dizia que muitos não conseguem o que pedem porque são maus de coração
e por isso, eles têm que ser, primeiramente, bons. Ou muitos não conseguem o
que pedem porque pedem malmente, sem insistência no lugar de fazê-lo com
paciência, com humildade, com fé e por amor. Há que esforçar-se por pedir o que
bom para todos. A mulher Cananéia é boa mãe, pede algo bom e pede bem. Através
do evangelho de hoje o Senhor quer nos mover a termos fé e perseverança e a
vivermos na esperança porque Deus nos ama. Deus se vence com fé e não com
orgulho. De Deus se obtém tudo com confiança. Em Deus sempre encontra uma
acolhida quando cada um se aproxima com humildade e não com auto-suficiência.
Essa mulher é um modelo acabado de
fé e oração unidas. Ela chama Jesus de “Senhor”, um título dado a Jesus
pós-pascal. Sua fé é orientada para a libertação do próximo, nesse caso de sua
filha. E sua oração cumpre aquilo que Jesus pede: a fé, confiança, perseverança
e sem desfalecimento.
Ela nos ensina que a fé e a oração
devem andar juntas. Quem tem fé em Deus precisa rezar. E quem reza, precisa ter
fé. A fé é a atitude básica de qualquer crente, de qualquer cristão, pois ela é
a resposta nossa diante da oferta do amor de Deus para nós. A oração evidencia,
por sua vez, a presença e a vitalidade de nossa fé em Deus.
3. Para Refletir Mais:
· “Posso afirmar que posso viver
sem água nem ar, mas não posso viver sem Deus. Podes arrancar-me os olhos que
isso não me mata. Podes arrancar-me o nariz que isso não me mata. Mas basta que
destruas minha fé, e estarei morto” (Mahatma
Gandhi).
· “Esta é a vitória que vence o mundo: a
nossa fé” (1Jo 5,4)
· “Todos somos mais ateus do que
acreditamos e mais crentes do que pensamos. Acho que os ateus não se opõem a
Deus, mas às criaturas de Deus que os fiéis lhe mostram” (René Juan
Trossero).
P. Vitus Gustama,svd
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