HUMILDADE
E GRATUIDADE POR AMOR ENGRANDECEM O CRISTÃO DIANTE DE DEUS
XXII
Domingo Do Tempo Comum “C”
01 de Setembro de 2013
Texto de
Leitura: Lc 14,1. 7-14
(Eclo 3,19-21.30-31; Hb 12,18-19.22-24)
1 Aconteceu que, num dia de sábado,
Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. 7 Jesus
notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma
parábola: 8 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes
o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante do
que tu, 9 e o dono da casa, que convidou os dois, venha te dizer: 'Dá o lugar a
ele'. Então tu ficarás envergonhado e irás ocupar o último lugar. 10 Mas,
quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Assim, quando chegar
quem te convidou, te dirá: 'Amigo, vem mais para cima'. E isto vai ser uma
honra para ti diante de todos os convidados. 11 Porque quem se eleva, será
humilhado e quem se humilha, será elevado.' 12 E disse também a quem o tinha
convidado: 'Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos,
nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes
poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa. 13 Pelo
contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos,
os cegos. 14 Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu
receberás a recompensa na ressurreição dos justos.'
___________________
Continuamos a acompanhar Jesus no
seu caminho para Jerusalém, sua ultima viagem para Jerusalém, pois lá ele será
crucificado, morto e ressuscitado. Jesus continua com suas últimas
lições/instruções dadas aos seus discípulos no seu Caminho para Jerusalém. Trata-se
das lições do caminho (Lc 9,51-19,58). A intenção de Jesus ao dar tais lições é
preparar os discípulos para a futura missão na Sua ausência física nesta terra.
E estas lições servem também como instrução catequética-catecumenal para todos
os cristãos de todos os tempos e épocas. Por ser tratarem de lições importantes
Lucas não tem pressa de relatar a chegada de Jesus em Jerusalém.
As
lições que Lc nos apresenta através da passagem do evangelho deste dia são a
humildade (vv. 7-11) e a gratuidade baseada sobre o amor desinteressado
(vv.12-14). O que une estas lições é o tema do Reino considerado como banquete
eterno. Humildade e gratuidade baseada sobre o amor desinteressado são
fundamentais para participar do banquete do Reino.
Para
falar destes temas/lições Lc parte de uma refeição preparada por um fariseu
para Jesus como seu convidado especial. No evangelho de Lucas os fariseus estão
bastante próximos de Jesus em comparação com outros dois sinóticos (Mt e Mc).
Lc nos relata que Jesus é convidado três vezes para uma refeição na casa dos
fariseus (cf. Lc 7,36-50; 11,37-53; 14,7-14).
No mundo semita o banquete ou a
refeição é o espaço do encontro fraterno, onde os convivas partilham do mesmo
pão/ alimento (companheiro). E o pão/alimento é fruto dos processos do trabalho
humano e é distribuído a cada membro da família para sua subsistência. A
refeição é o espaço onde se manifestam e estabelecem laços de comunhão, de
proximidade, de familiaridade e de fraternidade. Em qualquer povo, o primeiro
gesto de hospitalidade e de fraternidade é o convite para a mesma mesa, a
partilha daquele alimento que transforma estranhos em amigos. Sob o aspecto
físico, a refeição é indispensável para a sobrevivência; no aspecto social, ela
sela uma boa relação, uma aliança. Todas as alianças no mundo semita sempre se
finalizam com uma refeição.
A
partir da refeição ou do banquete humano Jesus entra no tema do Reino, que ele
vai antecipar através da instituição da Eucaristia. E o Reino é o banquete
eterno, e por isso, é um espaço de fraternidade, de comunhão, de partilha e de
serviço por amor. Por esta razão, do Reino são excluídas qualquer atitude de
superioridade, de orgulho/arrogância/prepotência, de ambição, de domínio sobre
os demais e outras atitudes semelhantes. Para poder participar do banquete do
Reino cada um deve fazer-se pequeno, humilde, simples e sem nenhuma pretensão
de ser considerado melhor, mais justo/santo ou mais importante do que os
outros. O próprio Jesus serve de exemplo para todos, quando, na véspera da sua
morte, lavou os pés dos discípulos (cf. Jo 13,1-17).
Aprofundemos
um pouco mais nossa reflexão sobre alguns pontos da passagem do evangelho deste
dia.
Lição Sobre a Humildade
Conforme o costume de tempo mais
antigo, os lugares não são ocupados pelos convidados por ordem de idade, mas
segundo a dignidade e o prestígio (talvez não haja nenhuma diferença com o
tempo atual). Cada qual escolhe o lugar que julga poder ocupar pela ordem de
importância (cf. Lc 11,43;20,46;Mt 23,6;Mc 12,38). Jesus observa como os
convidados disputam os primeiros lugares.
A observação é o motivo para Jesus
falar da “conduta à mesa” (vv.8-11) Na verdade, os escribas conhecem uma norma
de prudência da época: “Mantém-te distante, dois ou três assentos, de teu lugar
(que te convém) e espera até que te seja dito: Sobe mais ! Sobe mais !, em vez
de que te seja dito: Desce mais! Desce mais !” (Levítico Rabbah I.5). Para os
escribas essas palavras não são apenas uma regra de prudência para não passar
vergonha, mas prescrevem um procedimento que é fruto da mentalidade moral
deles. O livro dos Provérbios também fala do mesmo tom: “Não te faças
pretensioso diante do rei, não te ponhas no lugar dos grandes. É melhor que te
digam: ‘Sobe aqui!’ do que seres humilhado diante de um personagem” (Pr
25,6-7). Jesus não está dando uma porção
de conselhos humanos; está ensinando os homens a serem genuinamente humildes. O
homem verdadeiramente humilde acabará ficando onde deve estar e que receberá a
honra que lhe é devida. O caminho à verdadeira exaltação é a humildade (v.11).
A humildade, que constitui o
alicerce de outras virtudes, é uma virtude tão importante que Jesus sempre
aproveita qualquer circunstância para pô-la em destaque. A humildade é o
comportamento que atrai a simpatia dos homens e as bênçãos de Deus: “Filho,
na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim,
encontrarás graça diante do Senhor... pois é aos humildes que Ele revela seus
mistérios e... é glorificado pelos humildes.” (Eclo 3,20s).
A humildade não é a virtude do
inferior em relação ao superior, mas ao contrário: é a virtude do superior em
relação aos inferiores. A humildade é a virtude do superior que se abaixa e tem
respeito pelos que se encontram em condição de inferioridade. Por esse motivo,
a humildade é eminentemente virtude de Deus no seu respeito, atenção, zelo
pelas suas criaturas especialmente pelos homens. E gesto supremo da humildade
de Deus é a encarnação: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo
1,14). Em Jesus Cristo, então, toma forma a humildade de Deus. Por isso, Cristo
é Deus feito humildade, que vive em condição de humildade, que ama a humildade,
que aprecia e exalta os pobres e os humildes. E a humildade é o fundamento
sobre o qual Cristo construiu a salvação dos homens e a via que Ele indicou aos
que querem entrar no Reino do Céu.
Por isso, a humildade em seu grau
mais perfeito, não está em ser pequeno, nem sentir-se pequeno, mas em fazer-se pequeno, não por qualquer
exigência ou utilidade pessoal, mas por amor, para engrandecer os outros. Assim
foi a humildade de Jesus Cristo. De fato, como sabemos, Deus não é pequeno, mas
faz-se pequeno por amor só para nos engrandecer e salvar. Porque, na verdade, Deus
na posição em que se encontra, não pode elevar-se, pois nada existe acima d’Ele.
Se Deus sai de si mesmo, isto só poderá ser abaixar-se e tornar-se pequeno; em
outras palavras, só poderá ser humildade. E o homem, como nós sabemos também,
não pode cair mais para o nível mais baixo porque ele está no chão. Ele é
necessariamente humilde: do latin, humus-humilis que quer dizer chão,
pó. E só pode ser elevado para o nível de filho de Deus pela graça da
encarnação. Assim ele se torna pó vivente porque Deus sopra nele a vida e a
dignidade de filho de Deus (cf. Gn 2,7). Por isso, tudo que somos, nós
recebemos de Deus, é um presente d’Ele. É d’Ele que procedem a vida, a força, a
inteligência, o bom temperamento que temos. Nada nos pertence. E de nada
podemos nos vangloriar.
A
humildade, que constitui o alicerce de outras virtudes, é uma virtude tão
importante que Jesus sempre aproveita qualquer circunstância para pô-la em
destaque. A encarnação de Deus em Jesus Cristo é um mistério da humildade na
sua própria essência. A humildade de Jesus, Deus feito homem, nos enobrece e
nos oferece a incomparável dignidade de filhos de Deus. Todo o drama da
redenção é o caminho vitorioso da humildade magnânima de Jesus que nos convida
e nos torna aptos para o Seu seguimento. A humildade é o fundamento sobre o
qual Cristo construiu a salvação dos homens e o caminho que Ele indica aos que
querem entrar no Reino do Céu. A arrogância ou a prepotência e o complexo de
superioridade não encontram porta para entrar no céu e acabam ficando fora dele
(cf. Lc 13,27-28).
A “conduta à mesa” que Jesus propõe
certamente não é apenas uma prudente regra de boas maneiras nem somente uma
comum exortação à modéstia, mas é uma narração parabólica que aponta para o
segundo plano da escolha ávida dos primeiros lugares. Expressa uma verdade que
diz respeito ao Reino de Deus: Quem quiser entrar no Reino de Deus deve ser
pequeno (veja a reflexão domingo anterior), deve fazer-se pequeno, como foi
dito acima; e não deve ter falsas pretensões. Faz entrar no Reino de Deus o
pequeno que não se julga digno dos divinos: “Deus revela seu mistério aos
pequenos” (Eclo 3,20). Ser pequeno é a primeira condição para alguém entrar no
Reino de Deus (Lc 6,20).
Lição Sobre a Generosidade
“Quando tu deres um almoço ou um
jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus
vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua
recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados,
os coxos, os cegos. Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir.
Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.
Para ser humilde e andar na verdade
de nossa própria condição, precisamos ser pobres de espírito diante de Deus,
isto é, vazios de nós mesmos para podermos ser plenos de Deus, sabendo que tudo
em nossa vida é graça e dom, efeito da misericórdia e do amor que Deus nos tem.
Conseqüência disto, quem é humilde, não tem medo de ser generoso, pois é capaz
de receber, não só de Deus, mas também dos outros. Temos que aprender a receber
e não só dar, em todos os sentidos, não só no seu pequeno segmento material; e
de receber para poder repartir. Porém, repartirá não para chamar a atenção para
si, e sim, porque agradecido, gosta de tornar seus irmãos partícipes dos dons
que recebeu.
Por isso, humilde é aquele que,
tendo consciência das próprias qualidades, se coloca a serviço de todos. E, na
verdade, a pessoa humilde é que estabelece relações que trazem a felicidade,
que acabam com o egoísmo, com a competição, com a ostentação, e fazem reinar no
mundo as atitudes de intercâmbio generoso dos dons de Deus.
Humildade, portanto, não é
mesquinhez nem timidez, mas pelo contrário, o primeiro passo da magnanimidade (
do latin: alma,ae + magnus,a,um =alma
grande), e da generosidade.
Por isso, Jesus faz uma proposta
estranha para nós: quando deres uma festa, não convides os amigos ou quem pode
retribuir a gentileza, mas convides os pobres, os que não têm onde cair mortos,
os que não têm o que oferecer em troca. Dificilmente seria necessário indicar
que Jesus não está enfatizando que não há generosidade em dar para pessoas que
retribuirão. A festa de que Jesus fala é a partilha do que há de bom na vida,
pois a partilha é a alma do projeto de Deus. Ele nos convida a uma atitude de
gratuidade ou generosidade, uma atitude que é o exato contrário do cálculo
interesseiro de quem vive se perguntando: “Quanto é que eu levo nisso ? Que
vantagem isso me dá ? Será que tem retorno em fazer isso ?”
A generosidade é um sinal de
gratidão e de liberdade interior. Tudo o que nós somos, tudo o que podemos e
temos é precioso e libertador, se o reconhecermos e apreciarmos como um dom do
amor de Deus. Se percebermos e apreciarmos realmente que o esplendor daquilo
que temos e daquilo que possuímos vem de Deus, o Doador de todos os bens, então
não nos agarremos às nossas riquezas e capacidades, nem as utilizaremos para
nos ensoberbecermos, apoiando-nos em falsas seguranças, mas procuraremos ser
cada vez mais generosos e livres, quer dando, quer recebendo.
Ser generoso significa dar-se a si
próprio por amor de Deus e do próximo, graças à intima liberdade que possuímos.
Esta virtude é libertadora para ambas as partes: para o generoso e para o que,
com pleno respeito pela sua liberdade, é favorecido. O generoso é livre na
medida em que não procura o seu próprio proveito mas o daqueles a quem
favorece. Acreditamos que todos nós já fizemos alguma coisa por alguém por pura
generosidade e sabemos a alegria que isso traz ao nosso coração. Quem de nós,
ao prestar gratuitamente um favor ou uma ajuda, já não ouviu a frase: “Deus lhe
pague; Deus lhe abençoe ?”. A alegria que brota da generosidade de um doador nobre
é um dos mais preciosos e permanentes dons.
A generosidade com que servimos e
socorremos os outros, nas suas necessidades, é um aferidor da nossa liberdade
em relação a Deus. Sem generosidade, nem sequer pode existir a liberdade como
virtude.
Para o generoso, todos os seus
bens, todas as suas capacidades e dons se transformam num tesouro que se
acumula no céu e que, entretanto, vai aliviando e tornando felizes os outros. E
o próprio Jesus anuncia que tudo que aqui gratuitamente fazemos, nos será
devolvido, certamente purificado e ampliado por Deus, na vida eterna(v.14).
Nossa fé alimenta essa esperança. Porém, não é difícil ver que há também
recompensas imediatas nesta vida: uma vida mais tranqüila com segurança para
todos, protegidos no meio dos irmãos. Para ser feliz é necessário fazer algo de
bom pelos outros, gratuitamente, sem esperar uma troca. E para ser infeliz,
basta ser egoísta ou ser avaro. O avaro é o protótipo dos sem- coração e dos de
espírito mesquinho. O avaro é a pessoa mais pobre que existe.
Será que há ainda alguém, na nossa
comunidade, que por ser mais inteligente e mais preparado quer dominar sobre os
outros? Será que há alguém, também, que tenta esconder as próprias qualidades
para não ser chamado a servir? Humilde é aquele que, tendo consciência das
próprias qualidades, se coloca a serviço de todos. A humildade e a generosidade
são comportamento que atrai a simpatia dos homens e as bênçãos de Deus.
Para Relembrar
Mês de Setembro é dedicado à Palavra de Deus. É o mês da Bíblia. O maior
desejo de Jesus é dar
e comunicar a Palavra
de Deus para que seja ouvida :
“Felizes aqueles
que ouvem a palavra
de Deus e a põem em
prática ” (Lc 11,28;cf. Mt 7,24-29). O segredo da felicidade ,
segundo Jesus, consiste certamente na escuta
e na vivência da Palavra
de Deus . A riqueza ,
o valor nutritivo da escuta da Palavra
de Deus , é uma escuta
que faz tremer ,
que compromete porque
nos diz respeito
e nos esclarece. Não
é uma escuta passiva .
É descobrir o mistério de
nós mesmos
na escuta e na leitura da Palavra
de Alguém , maior
que nós ,
que , tendo criado
nosso coração ,
nos revela os segredos .
A capacidade de escutar
é o primeiro caminho
para entender aquilo que o outro diz e para
entendermos quem somos.
“Quando
lês a Bíblia ,
Deus te
fala ; quando
rezas, tu falas
a Deus ” (Santo
Agostinho).
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário