MARTÍRIO
DE SÃO JOÃO BATISTA
Quinta-feira
da XXI Semana Comum
29 de Agosto de 2013
Texto
de Leitura: Mc 6,17-29
Naquele
tempo, 17 Herodes tinha mandado prender João, e colocá-lo
acorrentado na prisão. Fez isso por causa de Herodíades, mulher de seu irmão
Filipe, com quem se tinha casado. 18 João dizia a Herodes: “Não te é permitido ficar com a mulher do teu
irmão”. 19 Por isso Herodíades o odiava e queria matá-lo, mas não podia. 20 Com efeito, Herodes tinha
medo de João, pois sabia que ele era justo e santo, e por isso o protegia.
Gostava de ouvi-lo, embora ficasse embaraçado quando o escutava. 21 Finalmente, chegou o dia oportuno. Era o aniversário de Herodes, e ele
fez um grande banquete para os grandes da corte, os oficiais e os cidadãos
importantes da Galileia. 22 A filha de Herodíades entrou e dançou,
agradando a Herodes e seus convidados. Então o rei disse à moça: “Pede-me o que
quiseres e eu to darei”. 23 E lhe jurou dizendo: “Eu te darei qualquer coisa que
me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. 24 Ela saiu
e perguntou à mãe: “O que vou pedir?” A mãe respondeu: “A cabeça de João
Batista”. 25 E, voltando depressa para junto do rei,
pediu: “Quero que me dês agora, num prato, a cabeça de João Batista”. 26 O rei ficou muito triste, mas
não pôde recusar. Ele tinha feito o juramento diante dos convidados. 27 Imediatamente, o rei
mandou que um soldado fosse buscar a cabeça de João. O soldado saiu, degolou-o
na prisão, 28 trouxe a cabeça num prato e a deu à moça. Ela a entregou à sua mãe. 29 Ao
saberem disso, os discípulos de João foram lá, levaram o cadáver e o
sepultaram.
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São João Batista
é o único santo de quem a Igreja comemora o nascimento e a morte, pois ele é o
Precursor do Senhor. No dia 24 de Junho, a Igreja celebra o seu nascimento e no
dia 29 de agosto comera o dia de sua morte como mártir, por ordem de Herodes.
No texto do
evangelho lido na festa do martírio de João Batista se encontram três
personagens principais: Herodes Antipas, Herodíades (e sua filha) e João
Batista.
Herodes
Antipas era o filho de Herodes chamado o Grande, aquele perseguidor de Jesus-menino
que havia mandado degolar os inocentes (Mt 2,13-23). Herodes Antipas reinava,
como tetrarca, na Galiléia e em Perea desde a morte de seu pai. Ele é descrito
como um homem rico e poderoso. Abusa da riqueza e do poder e é arrogante. Ele
se entregou totalmente aos prazeres. Enganado por uma bailarina e por sua
vingativa mãe, Herodíades, ele se converteu em um assassino de um inocente,
João Batista.
Herodíades
é descrita como assassina sem compaixão. Injustamente se tornou esposa de
Herodes Antipas. Herodíades era a mulher de Filipe, irmão de Herodes. Herodes
tomou Herodíades por esposa que era proibido pela Lei (Ex 20,17; Lv
18,16;20,21). João Batista não era parcial com os poderosos e denunciou essa
injustiça. A mais sensível a essa denúncia é Herodíades, a adúltera. Para
Herodíades a denúncia de João Batista feriu seu orgulho e sua soberba. Ela não
quer saber da verdade na denúncia de João Batista. Por isso, ela se propõe a
acabar com a vida de João Batista. O ódio e a vingança levam essa mulher a
procurar todos os meios, utilizando até a própria filha, para eliminar João
Batista do seu mundo. Herodíades quer tirar a vida de João, mas há um obstáculo
a seu intento: o temor que Herodes sente por João, por ele considerado um homem
justo, de conduta agradável a Deus e santo ou consagrado por Deus, profeta.
O dia
oportuno é a ocasião propícia para que Herodíades cumpra seu desígnio de matar
João Batista. Celebra-se a vida de Herodes, o poder absoluto e com ele a
celebram os representantes de todos os possuidores do poder.
Aparece
outra personagem, a filha de Herodíades, sem nome, que se define por sua mãe.
Sem nome significa não tem personalidade própria. Por isso, ela representa o
povo sem vontade própria (o povo submisso) e a mãe representa a classe dirigente
ou classe dominante. A moça não tem vontade própria; mostrando sua total
dependência, vai perguntar à mãe o que quer que a filha faça. Herodes faz
promessa à filha de Herodíades: “Pede-me o que quiseres e eu to darei. Eu te
darei qualquer coisa que me pedires, ainda que seja a metade do meu reino”. Mas
quem decide é a mãe, que busca só seu próprio interesse: eliminar João (quer a
cabeça de João Batista). A maldade só pode produzir a maldade. Mas a maldade
não é capaz de enterrar a bondade. O sangue de um mártir é a semente para a
Igreja.
Marcos
sublinha a imaturidade da jovem: entra logo, a toda pressa, sem criticar nem
julgar a decisão da mãe nem considerar se era ou não favorável para ela: ela é
a escrava de sua mãe.
No poder
civil há um resto da humanidade; Herodes estimava João Batista e sabe que o que
pedem não é só uma injustiça, mas também um desprezo a Deus; mas um rei não
pode ficar em má situação, perderia seu prestígio. Herodes Antipas, o covarde,
mandou tirar, então, a cabeça de João Batista em nome da vaidade. Um vaidoso é
uma pessoa frívola, presunçosa e incoerente. Sem juízo e sem bom senso, ele
vive só para aparecer e ser admirado. Na prática, o prazer de um vaidoso não
consiste em possuir méritos, mas em saber que os outros o elogiam.
Além de
ser vaidoso, Herodes é uma pessoa extremamente orgulhosa. O orgulhoso não se
preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele
possa ser o centro e a norma. Ele pretende que tudo esteja sujeito a si próprio.
Ele é prepotente, arrogante, insolente e violento. Seus atos não precisam
respeitar moral alguma, mas impõe aos outros normas morais.
Da
atitude de Herodes Antipas percebemos que no poder civil, muitas vezes, para
não dizer sempre, os interesses do poder estão acima do humano. O evangelho nos
relata que da parte dos convidados, não há nenhuma reação: tudo é permitido ao
rei, dono da vida de seus súditos. Herodes mandou tirar a cabeça de João
Batista. E a jovem dá a cabeça de João Batista à mãe, e ela mesma fica sem
nada.
De
Herodes podemos tirar muitas outras lições. Em primeiro lugar, nunca façamos
promessas quando formos dominados por uma grande emoção. Sejamos cautelosos,
prudentes, sóbrios em tudo. “Quem não se controla no lícito está em perigo de sucumbir
diante do ilícito. Por isso, o sóbrio se abstém da saciedade para não cair na
embriaguez”, dizia Santo Agostinho (De ut. Jej. 5,6). Herodes Antipas tem medo ao mesmo tempo ama
João Batista: odeia a mensagem de João Batista, mas incapaz de se livrar da
admiração por ele. Mas em nome da vaidade e do poder, Herodes não quer saber da
verdade. Herodes não entende que aquele que conhece a verdade e vive de acordo
com a verdade é um homem mais livre do mundo (cf. Jo 8,32). Herodes é também um
homem que age por impulsos. Dele aprendemos que saibamos pensar antes de falar
e de agir. Muitos acham que falar o que pensar seja uma virtude. Mas na verdade
a verdadeira virtude é pensar bastante antes de falar. Se o mundo vive
reagindo, o cristão deve viver refletindo.
O caso de
Herodes e Herodíades é um caso típico de como um pecado leva a cometer outro
pecado. Herodes e Herodíades começaram sendo adúlteros e terminaram sendo
assassinos. O pecado de adultério levou os dois ao crime, ao assassinato de um
santo, de um inocente, de um João Batista. Herodes e Herodíades calaram a santa
boca que recordava o dever; calaram a boca do pregador da virtude. Mas a boca
que recorda o dever pode ser tirada, mas não o próprio dever tatuado em cada
coração. A boca que prega a virtude pode ser calada, mas não a virtude que
habita em cada coração que sempre grita diante da desonestidade.
Com o seu
exemplo cheio de fortaleza, João Batista nos ensina a cumprir, apesar de todos
os obstáculos, a missão de viver de acordo com a justiça, a verdade, a retidão.
É viver a função profética de anunciar o bem e de denunciar o mal e a maldade
na convivência. Cada um recebeu de Deus essa missão profética através do
sacramento do Batismo. João Batista foi um verdadeiro mártir, pois foi morto
por cumprir seu dever de viver de acordo com a retidão e a verdade.
Façamos
uma pausa e consideremos quantas vezes na história, antes ou depois de João
Batista, aconteceu o mesmo fato: que quem denuncia a mentira e defende a
verdade, que quem condena o pecado e proclama a virtude, que quem fustiga a
injustiça e prega a dignidade humana é a vítima ou o objeto de zombaria e é
condenado diante do tribunal do ímpio, mas é glorificado e coroado diante do
tribunal de Cristo (cf. Mt 7,21-23; 25,31-46).
P.
Vitus Gustama,svd
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