PROCURAR
E VIVER O ESSENCIAL
Sexta-feira
da XXI Semana Comum
30 de Agosto de 2013
Texto
de Leitura: Mt 25,1-13
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos esta parábola: 1 ”O Reino dos Céus é
como a história das dez jovens que pegaram suas lâmpadas de óleo e saíram ao
encontro do noivo. 2 Cinco delas eram imprevidentes, e as outras cinco eram
previdentes. 3 As imprevidentes pegaram as suas lâmpadas, mas não levaram óleo
consigo. 4 As previdentes, porém, levaram vasilhas com óleo junto com as
lâmpadas. 5 O noivo estava demorando e todas elas acabaram cochilando e
dormindo. 6 No meio da noite, ouviu-se um grito: ‘O noivo está chegando. Ide ao
seu encontro!’ 7 Então as dez jovens se levantaram e prepararam as lâmpadas. 8 As
imprevidentes disseram às previdentes: ‘Dai-nos um pouco de óleo, porque nossas
lâmpadas estão se apagando’. 9 As previdentes responderam: ‘De modo nenhum, porque
o óleo pode ser insuficiente para nós e para vós. É melhor irdes comprar aos
vendedores’. 10 Enquanto elas foram comprar óleo, o noivo chegou, e as que
estavam preparadas entraram com ele para a festa de casamento. E a porta se
fechou. 11 Por fim, chegaram também as outras jovens e disseram: ‘Senhor! Senhor!
Abre-nos a porta!’ 12 Ele, porém, respondeu: ‘Em verdade eu vos digo: Não vos
conheço!’ 13Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a
hora”.
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Os
capítulos 24-25 de Mt constituem o quinto e o último discurso de Jesus neste
Evangelho. Este quinto discurso é conhecido como o “Discurso escatológico”
(discurso apocalíptico). Mt elabora notavelmente o discurso escatológico de Mc
(Mc 13) e o amplia com uma série de parábolas e com uma impressionante
descrição do julgamento final (Mt 25,31-46), cuja principal intenção é orientar
os cristãos sobre como preparar a vinda do Senhor.
A
linguagem destes capítulos pode provocar temor. Mas, na verdade, trata-se de
uma linguagem apocalíptica que era relativamente freqüente entre alguns grupos
judeus e cristãos. Chama-se de linguagem apocalíptica porque tem como objetivo
manifestar uma revelação escondida (apocalypsis).
Em muitas ocasiões esta revelação é dirigida a grupos ou comunidades que vivem
uma situação de perseguição, com a intenção de animá-los e encorajá-los em suas
lutas e tribulações. Por isso, não há motivo nenhum de alguém ver nestes textos
uma ameaça, e sim, uma mensagem de esperança.
A
parábola das dez virgens é uma das mais belas parábolas do evangelho, pois ela
nos faz penetrar mais profundamente no coração de Jesus. Jesus é o Prometido. Jesus
vem nos encontrar para salvar. Ele quer nos introduzir em sua família.
A vida
cristã é uma marcha ao encontro com Alguém que nos ama. Deus ama a humanidade e
a humanidade vai ao encontro de Deus. O homem foi criado para a intimidade com
Deus, para o intercâmbio de amor com Ele. Mas a visita ou a vinda é imprevista,
a hora é imprecisa; não se sabe quando a visita vai acontecer. Por isso, é
importante estar vigilante.
Se
olharmos do ponto de vista da prudência, pois a parábola trata das cinco
virgens prudentes (phronimoi) e
outras cinco insensatas (morai), esta
parábola nos faz lembrar também da conclusão do Sermão da Montanha que compara
um homem néscio a um homem prudente (Mt 7,24-27). Na literatura sapiencial o
prudente é aquele que age de acordo com as exigências de Deus; o insensato, ao
contrário, age conforme sua própria cabeça (cf. Ecl 2,12-17). Da conclusão do
Sermão da Montanha sabemos que um que é néscio construiu a casa sobre a areia e
o outro que é prudente sobre a rocha. A casa do néscio desmoronou, pois sem
nenhuma base sólida, enquanto a do outro fica firme diante da tempestade, pois
foi construída sobre a rocha.
Na
parábola das dez virgens encontra-se novamente o contraste entre prudente e
néscio. Sabemos que a prudência determina o que é necessário escolher e o que é
necessário evitar. Ela separa a ação do
impulso, o essencial do secundário. “A
prudência é um amor que escolhe com sagacidade”, dizia
Santo Agostinho.
As cinco
virgens levam o azeite suficiente, pensando na chegada atrasada do noivo,
enquanto que as outras cinco não pensam nisso. Como é importante estar
preparado, tanto para as surpresas agradáveis como para as desagradáveis na
vida. Mas muitas vezes somos pegos de surpresa. O azeite é a Palavra de Deus
vivida no dia a dia que se resume no amor. Diz Santo Agostinho: “Coisa grande,
verdadeiramente muito grande significa o azeite (óleo). Só pode ser amor”.
Nesta
parábola lemos que as cinco virgens insensatas gritam: “Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!” (v.11). Mas a porta continua
fechada. Quem vive segundo a Palavra de Deus tem a chave na mão para abrir a
porta (do céu). As palavras da profissão “Senhor, Senhor” só salvam quem as
professa, se ele viver de acordo com essa profissão. Chamamos e professamos
Deus de Senhor porque queremos que ele assenhore nossa vida, e guie nossos atos
e decisões, que ele seja o centro de nossa vida, que a vontade dele prevaleça
na nossa vida, pois tudo que Deus quer é só salvar. Quem de nós não quer ser
salvo?
As cinco
virgens prudentes estão de prontidão e prestam atenção às coisas essenciais.
Enquanto que as cinco insensatas pensam em tudo, menos naquilo que é essencial,
ou, de fato, tem importância. Há pessoas que perdem o rumo por causa das coisas
efêmeras e não se lembram dos valores autênticos como caridade, justiça, paz,
verdade, retidão, honestidade, reconciliação etc. pelos quais vale a pena
comprometer-se. O homem é tão ocupado com as mil coisas que não deixam mais do
que efêmeras satisfações que se esgotam logo que se produzem. Um sábio diz que
há esquecimento por falta de memória, mas há esquecimento por falta de amor.
Esquecemos Deus não por falta de memória, mas por falta de amor para com ele. “Quando
lhe convém, o homem esquece que é cristão” (Santo
Agostinho. In ps. 21, 2,5)
O que nos
chama a nossa atenção é o aparente egoísmo e aparente falta de solidariedade
das cinco virgens prudentes que não dividiram seu azeite para as insensatas, e
a aparente falta de amor do noivo que não abriu a porta para as cinco
insensatas também chama a nossa atenção. A parábola quer destacar uma
responsabilidade pessoal que não é substituível por ninguém diante de Deus no
fim dos tempos. Ninguém pode prestar contas em nome de outra pessoa diante de
Deus nesse momento. Cada um é único diante do Deus único. As qualidades
interiores, as qualidades do espírito que temos ou não as temos, não podem ser
emprestadas ou repartidas diante da seriedade do momento. É insubstituível o
compromisso pessoal da vigilância.
O juízo
particular é tema que desperta não só responsabilidade, mas também esperança e
otimismo. Deus não empurra ninguém para o céu ou para o inferno. É a própria
pessoa quem decide sobre isso durante sua vida. Não é uma sentença divina que
vai declarar a pessoa culpada ou inocente, e sim é o modo de vida da pessoa que
vai condicionando sua opção por Deus. “Nunca esqueças: a única razão para ser cristão é a vida
eterna” (Santo Agostinho. De civ. Dei 5,25). “Põe na terra as coisas terrenas, mas teu coração, no
céu” (Santo Agostinho. In Joan. 18,6). “Buscas a Deus na Igreja, ou buscas a ti mesmo?” (Santo
Agostinho. Serm. 137,9)
Pe.
Vitus Gustama,svd
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