sexta-feira, 23 de agosto de 2013

 
SER GUIA RESPONSÁVEL


Segunda-feira da XXI Semana Comum
26 de Agosto de 2013
 
Texto de Leitura: Mt 23,13-22

Naquele tempo, disse Jesus: 13 “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós fechais o Reino dos Céus aos homens. Vós porém não entrais, 14 nem deixais entrar aqueles que o desejam. 15 Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós percorreis o mar e a terra para converter alguém, e quando conseguis, o tornais merecedor do inferno, duas vezes pior do que vós. 16 Ai de vós, guias cegos! Vós dizeis: ‘Se alguém jura pelo Templo, não vale; mas, se alguém jura pelo ouro do Templo, então vale!’ 17 Insensatos e cegos! O que vale mais: o ouro ou o Templo que santifica o ouro? 18 Vós dizeis também: ‘Se alguém jura pelo altar, não vale; mas, se alguém jura pela oferta que está sobre o altar, então vale!’ 19 Cegos! O que vale mais: a oferta, ou o altar que santifica a oferta? 20 Com efeito, quem jura pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre ele. 21 E quem jura pelo Templo, jura por ele e por Deus que habita no Templo. 22 E quem jura pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está sentado”.

_______________

O capítulo 23 do Evangelho de Mateus é, sem dúvida nenhuma, uma das páginas mais duras do Novo Testamento. Quem o lê fica impressionado, sobretudo, com a linguagem dura de Jesus. Neste capítulo, o evangelista Mt inicia com uma introdução (vv.1-12) para um extenso discurso que Jesus pronuncia contra os líderes religiosos da sua época (vv.13-36) como conseqüência de um longo enfrentamento com eles (Mt 21-22). Estes ataques completam a obra dos profetas contra a falsa religiosidade. As palavras são duras porque o perigo que é denunciado é grave. E a validade da denúncia profética que ouvimos dos lábios de Jesus, neste capítulo, não perde sua atualidade, pois seu alcance é universal. O “fariseu”, a quem Jesus dirige suas palavras duras e denuncia, é personagem típico, representa um paradigma de comportamento oposto ao Evangelho.


Neste capitulo 23 Mt nos apresenta os chamados “ais” de Jesus contra os escribas e fariseus ou lamentações que Mateus coloca depois de Jesus ter proclamado as bem-aventuranças no Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-12).


“Ai de vós..!”, assim Jesus se dirige aos escribas e fariseu neste capitulo.


A palavra grega “Quai” (ai de vós) é uma onomatopéia (onomatopéia é a formação de uma palavra a partir da reprodução aproximada, com os recursos de que a língua dispõe; de um som natural a ela associado: p.ex.:pum, tiquetaque, atchim, chuá-chuá, zunzum). “Quai” ou “ai de vós!” não é uma maldição e sim expressa uma profunda dor, uma indignação, uma ameaça profética. Jesus está triste e indignado com a atitude e o modo de viver incoerente dos fariseus e dos escribas e que não levam em conta a importância da pessoa humana e os valores essenciais da vida humana.


Jesus é “manso e humilde de coração” (Mt 11,29). Mas quando se trata de defender um certo numero de valores essenciais Jesus se faz bastante bravo, como uma mãe ou um pai que chama atenção do filho ou da filha duramente quando este/esta não leva a sério as coisas importantes para sua vida. Por isso, há que escutá-Lo.


Chama nossa atenção de que com as pessoas normais, por humildes e pecadoras que elas sejam, Jesus não se apresenta tão duro (cf. Mt 11,25-30 etc.). Mas com os que são guias do povo ou constituídos em autoridade, a sentença de Jesus é mais severa pela falta de autenticidade e da hipocrisia desses guias ou dirigentes: ”Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Ai de vós, guias cegos!”.


 Jesus critica os dirigentes ou os responsáveis pelo povo duramente. Nós que temos alguma responsabilidade na vida da família ou no campo da educação, da política ou da comunidade eclesial, temos maior obrigação de dar exemplo aos demais, de não levar uma vida dupla (entre o que ensinamos e o que logo fazemos), de não ser exigentes com os demais e tolerantes com nós mesmos (duas medidas para o mesmo peso), de não ser como os hipócritas que apresentam por fora uma fachada, mas por dentro uma podridão.


As acusações de Jesus são muito atuais. Por isso temos que aplicá-las para nós mesmos, pois dentro de cada um de nós pode estar escondido um pequeno ou grande fariseu. Eu preciso fazer um exame sério de consciência: Que atitudes farisaicas eu descubro em mim? Preciso responder sinceramente se eu também entro na categoria de “guias cegos e néscios”, se busco mais vaidade do que o bem de todos ou a glória de Deus, se eu matei o Espírito com uma casuística exagerada?!


Através de muitos “ais”, Jesus critica duramente a hipocrisia dos escribas e fariseus que dizem e não fazem, ensinam, mas não praticam. A hipocrisia é complexa: os mesmos hipócritas são as primeira vitimas de sua vaidade religiosa, caem na mesma armadilha de sua vanglória. Jesus critica duramente os escribas e fariseus porque não convertem os homens ao verdadeiro Deus e sim a suas próprias idéias fazendo deles fanáticos do legalismo e impedindo os homens de entrar no Reino pela mesma intransigência legalista.


A pessoa que tem a atitude de hipocrisia, simulando virtudes, nobres sentimentos e boas qualidades, engana as outras pessoas no intuito de conquistar a estima delas. O recurso ao fingimento visa obter louvores por uma virtude que ela não possui.  Ela é habilidosa em camuflar-se. Ela faz questão de parecer boa. Ao constatar sua perversidade interior, incapaz de confessá-la e corrigí-lá, ela se refugia na simulação de possuir a virtude. Ela não se preocupa em ser boa, mas em apropriar-se daqueles indícios que a fazem parecer como tal.


Uma das virtudes humanas mais apreciadas pela maioria das pessoas é, sem dúvida nenhuma, a coerência de vida. Na própria vida de Jesus podemos ver um grande exemplo de coerência humana, pois Ele atua como prega. As palavras de Jesus não ultrapassam sua atuação.


Os seguidores de Cristo são alertados a considerar tal comportamento incompatível com a sua opção. O exibicionismo e a hipocrisia devem ser combatidos com o espírito de simplicidade e humildade. Isto exigirá de todos nós cultivar uma atitude de fraternidade e igualdade. A atitude que convém ao discípulo consiste em fazer-se servidor de seu semelhante, num gesto de amor de gratuidade.


Todos nós somos chamados a ser de Cristo e a viver como Cristo. Não fechemos a porta do Reino para aqueles que não são de nossa condição social, econômica ou cultural ou que não pensam como nós. Nossas palavras não ultrapassem nossa atuação. Que seja mais ação do que pregação. Não sejamos escândalos para os outros. Ganhemos todos para Cristo e para ser novos parceiros do bem e não para que sejam de nosso grupo egoísta.

 
P. Vitus Gustama,svd

Nenhum comentário:

25/11/2024-Segundaf Da XXXIV Semana Comum

GENEROSIDADE E DESPOJAMENTO DE UMA VIÚVA, FRUTO DE SUA FÉ EM DEUS Segunda-Feira da XXXIV Semana Comum Primeira Leitura: Apocalipse 14,1-...