FRATERNIDADE
VIVIDA É A PROTEÇÃO PARA TODOS
Terça-feira
da XIX Semana Comum
13 de Agosto de 2013
Texto
de Leitura: Mt 18,1-5.10.12-14
Naquele
tempo, 1 os
discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos
Céus?” 2 Jesus
chamou uma criança, colocou-a no meio deles 3 e disse: “Em verdade vos digo, se não vos converterdes, e não vos
tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus. 4 Quem se faz pequeno como esta criança, este
é o maior no Reino dos Céus. 5 E quem
recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe. 10 Não desprezeis nenhum desses
pequeninos, pois eu vos digo que os seus anjos nos céus veem sem cessar a face
do meu Pai que está nos céus. 12 Que vos
parece? Se um homem tem cem ovelhas, e uma delas se perde, não deixa ele as
noventa e nove nas montanhas, para procurar aquela que se perdeu? 13 Em verdade vos digo, se ele a
encontrar, ficará mais feliz com ela, do que com as noventa e nove que não se
perderam. 14 Do mesmo
modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses pequeninos”.
____________________
Um
Discurso Sobre Vida Comunitária
Estamos
no quarto grande discurso de Jesus nos evangelho de Mateus (Mt 18). E este
quarto discurso é conhecido como “discurso eclesiológico” (discurso sobre a
Igreja) ou “discurso comunitário” onde se acentua a vida na fraternidade, isto
é, cada membro da comunidade é considerado como irmão, pois tem Deus como o Pai
comum. Este capítulo (Mt 18,1-35) foi escrito para responder aos problemas
internos das comunidades cristãs: Quem é o primeiro na comunidade? O que fazer
se acontecem escândalos? E se um cristão se perde ou se afasta da comunidade, o
que fazer? Como corrigir um irmão que erra? Quando é que uma oração pode ser
chamada de comunitária e partilhada? E quantas vezes se deve perdoar?
Na
comunidade de Mt (como também em qualquer comunidade cristã) cresce a ambição e
se cultivam sonhos de grandeza dos membros que se acham mais importantes dos
demais membros. Há pouca consideração para com os pequenos, até são
desconsiderados ou desprezados. Estes pequenos correm risco de se tornarem
incrédulos e de se afastarem da atividade comunitária. Na comunidade de Mt
suscitam também pecadores notórios, inclusive as ofensas e os ressentimentos que abalam a convivência
fraterna.
Nesse
capítulo, são dadas diversas orientações e algumas normas que têm por objetivo
desenvolver o amor e favorecer a harmonia entre os membros da comunidade. Contra
os sonhos de grandeza e de orgulho, Mt coloca a atitude de humildade que agrada
a Deus e aos outros (18,1-4). Para os pequenos, os fracos na fé, é necessário
ter uma acolhida cheia de caridade e de desvelo (18,6-7). O desprezo é
inadmissível para uma boa convivência. Para enfatizar mais este tema, Mt fala
dos anjos que sempre estão do lado dos pequenos (18,10). Se um dos membros da
comunidade afastar-se ou desviar-se do caminho reto, em vez de condená-lo, a
comunidade toda deve esforçar-se para que esse irmão volte para a comunidade,
pois Deus não quer que nenhum deles se perca (18,12-14). E para o irmão
pecador, a comunidade inteira deve usar todos os meios para recuperá-lo (18,15-20).
E para as ofensas, deve haver perdão, pois uma comunidade só pode sobreviver se
existe o perdão mútuo (18,21-35).
Ser
Irmão e Fazer-se Pequeno
“Quem é o
maior no Reino dos céus?”. “Quem é o maior diante de Deus?”. “Quem vale mais
diante de Deus?” Assim inicia o quarto discurso de Jesus sobre a vida
comunitária baseada na fraternidade. A pergunta é feita pelos discípulos para
Jesus. Maior aqui significa proeminente, superior aos outros por força de uma
qualidade ou de um poder.
Atrás
desta pergunta se esconde a ambição ou a mania de grandeza dos discípulos. É “a
psicologia do príncipe”, segundo o Papa Francisco. É a ambição de grandeza que
pode ser encontrada em qualquer comunidade cristã. É admirável a ambição de
alguém que deseja redimir sua humilde condição, valorizando todas as suas
capacidades de inteligência e de luta, pois um dos sentidos lexicais da palavra
ambição é anseio veemente de alcançar determinado objetivo, de obter sucesso;
aspiração, pretensão. A ambição só se transformará em vício quando a afirmação
de si mesmo for exagerada e os meios adotados para atingir a glória forem
desonestos. Uma pessoa de alma nobre não sai à procura das honras, e sim do bem,
da fraternidade, da verdade, da caridade e assim por diante. Ao contrário, o ambicioso
se sente totalmente envolto pela espiral da glória que o transforma em vítima
da própria tirania. O ambicioso, quando dominado pelo vício, não suporta
competidores, nem admite rivais. Quem desejar ser a todo o custo o primeiro,
dificilmente se preocupar com ser justo. “A soberba
gera a divisão. A caridade, a comunhão” (Santo
Agostinho. Serm. 46,18).
Como
resposta para a pergunta dos seus discípulos Jesus faz um gesto muito
simbólico: Ele chamou uma criança e a colocou no meio dos discípulos. Ao ser
colocada no meio de todos, a criança chamada se torna um centro de atenção de
todos. Imaginamos que todos os olhares são dirigidos a essa criança e os
ouvidos prontos para ouvir a palavra sábia do Mestre Jesus. “Em verdade vos digo,
se não vos converterdes, e não vos tornardes como crianças, não entrareis no
Reino dos Céus. Quem se faz pequeno como esta criança, este é o maior no Reino
dos Céus. E quem recebe em meu nome uma criança como esta é a mim que recebe”, disse Jesus aos discípulos (Mt 18,3-5). Ser criança: frescor, beleza,
inocência, não se basta a si mesma!
Esta é a
primeira regra da vida comunitária: cuidar dos pequenos e tratá-los como
irmãos, e fazer-se pequeno. Fazer-se pequeno, como exigência para viver a vida
comunitária, significa renunciar a toda ambição pessoal e a todo desejo de
colocar-se acima dos demais para estar em destaque e para oprimir os demais.
Fazer-se pequeno é uma forma de “renegar-se a si mesmo” para colocar a vontade
de Deus acima de tudo. A grandeza do Reino consiste no serviço humilde e
gratuito ao próximo, na solidariedade para com os necessitados, na partilha do
que se tem para com os carentes do básico para viver dignamente como ser humano
e no esforço para construir uma convivência mais fraterna. Trata-se de viver a
espiritualidade familiar onde cada membro se preocupa com o outro membro e sua
salvação. Vivendo desta maneira estaremos testemunhando para o mundo que temos
fé em Deus e que estamos no Reino de Deus já neste mundo, pois vivemos como irmãos.
Ser
Ocasião de Salvação Para o Outro
“Se um homem tem cem
ovelhas, e uma delas se perde, não deixa ele as noventa e nove nas montanhas,
para procurar aquela que se perdeu? Em verdade vos digo, se ele a encontrar,
ficará mais feliz com ela, do que com as noventa e nove que não se perderam. Do
mesmo modo, o Pai que está nos céus não deseja que se perca nenhum desses
pequeninos”, acrescentou Jesus (Mt 18,
12-14). Esta é outra regra essencial da vida comunitária!
Os
fariseus eram uns “separados”, e julgavam severamente os pecadores e os que
erravam, os quais eram excluídos dos banquetes sagrados ou de um simples
banquete comunitário, pois comer juntos significava igualar ou nivelar as
relações. Deus atua completamente diferente. Deus nem sequer espera o
arrependimento do pecador para amá-lo antes, abandonando o resto do rebanho para
ir à busca de uma ovelha perdida. Através de uma conversa fraterna e através de
sua participação na refeição com os excluídos Jesus consegue trazer de volta
para Deus muitos pecadores, como Zaqueu (Lc 19,2-10), como Mateus (Mt 9,9) e
assim por diante.
O saudoso
Cardeal François X. Van Thuan escreveu dois dos cinco “defeitos” de Jesus. O
primeiro defeito é que Jesus não tem boa memória. Ele esquece todos os pecados
dos que se arrependeram, como o “bom ladrão”: “Hoje mesmo tu estarás comigo no
Paraíso” (Lc 23,43) e a mulher pecadora: “... seus numerosos pecados lhe estão
perdoados, porque ela demonstrou muito amor” (Lc 7,47). Deus não lhes pergunta
nada a respeito de seu passado escandaloso. Deus esquece até mesmo que perdoou.
E o segundo “defeito” de Jesus é que ele não “sabe” matemática. Ele abandona 99
ovelhas para procurar uma que está perdida. Para Jesus uma ovelha é igual a 99
ovelhas. Todos têm o mesmo valor diante de Deus.
Cada um
de nós, por menor que seja no olhar de um ser humano, é objeto de um carinho
especial de Deus. Deus não despreza nenhum ser humano. Cada um é considerado na
sua individualidade. A graça de Deus nos faz nós mesmos: “Eu sou o que sou pela
graça de Deus” (1Cor 15,10). Jesus quer que cada membro da comunidade cristã
precise ser uma ocasião de salvação para o outro e o outro é uma ocasião de
salvação para mim. Somente assim uma comunidade cristã pode ser chamada e
considerada como uma comunidade de irmãos.
P.Vitus
Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário