SOMOS
VALORIZADOS PELOS VALORES VIVIDOS E NÃO PELOS BENS POSSUIDOS
Terça-feira
da XX Semana Com
20 de Agosto de 2013
Texto
de Leitura: Mt 19,23-30
Naquele
tempo, 23 Jesus disse aos discípulos: “Em verdade vos digo, dificilmente um
rico entrará no reino dos Céus. 24 E digo ainda: é mais fácil um camelo entrar
pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. 25 Ouvindo
isso, os discípulos ficaram muito espantados, e perguntaram: “Então, quem pode
ser salvo?” 26 Jesus olhou para eles e disse: “Para os homens isso é impossível,
mas para Deus tudo é possível”. 27 Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Vê! Nós
deixamos tudo e te seguimos. Que haveremos de receber?” 28 Jesus respondeu: “Em
verdade vos digo, quando o mundo for renovado e o Filho do Homem se sentar no
trono de sua glória, também vós, que me seguistes, havereis de sentar-vos em
doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. 29 E todo aquele que tiver
deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos, por causa do meu nome, receberá
cem vezes mais e terá como herança a vida eterna. 30 Muitos que agora são os
primeiros, serão os últimos. E muitos que agora são os últimos, serão os
primeiros.
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O texto
do evangelho lido neste dia é a continuação do texto do evangelho do dia
anterior. No evangelho do dia anterior o jovem rico recusou o convite de Jesus
para vender tudo o que tinha e deu aos pobres para depois seguir a Jesus. “Quando ouviu isso (convite), o jovem foi embora cheio de
tristeza, porque era muito rico”, assim
terminou o evangelho do dia anterior. Escravo da riqueza, tudo se desvaneceu e
o jovem rico se viu impedido de trilhar a vereda da vida eterna.
A história do jovem rico que não
está preparado para viver no amor, na partilha, na solidariedade, na entrega da
própria vida aos irmãos, serve a Jesus para dar uma exortação para todos:
"É mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma
agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus”. A imagem do camelo, que jamais
pode passar pelo buraco de uma agulha a aplica a imagem da “porta estreita”
para a vida (cf. Mt 7,13s). Jesus cita o pequeno buraco de uma agulha e o
camelo, um dos maiores animais, para expressar com uma metáfora a impossibilidade.
O ser humano tem tendência por
natureza para o desenvolvimento de si mesmo, de melhorar sua situação
econômica. Como garantia deste seu direito o ser humano procura apropriar-se
das coisas que o rodeiam no intuito de utilizá-los ou de usá-los como meio.
Trata-se de uma aspiração legítima. Por isso, Jesus não condena a riqueza, mas
a ansiedade de acumular fortunas de forma gananciosa. O ideal do cristão não é
a pobreza nem a fome nem a nudez, mas a divisão fraterna dos bens que Deus pôs
à disposição de todos. Pecado não é ficar rico, mas ficar rico só por si, às
vezes como fruto de exploração dos outros, deixando a maioria sem nada para sua
sobrevivência. A riqueza possui uma potencialidade sedutora que procura
subjugar o homem. Além disso, Na avareza está oculta uma ofensa social. Não é
fácil conciliar a riqueza excessiva de alguns com os direitos que os outros têm
ao necessário. Ao dizer: "É mais fácil
um camelo entrar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de
Deus”,
Jesus quer sacudir, chocar e conscientizar os homens sobre a seriedade da situação.
A advertência de Jesus é muito dura porque o perigo é maior. O que tem por trás
não é a condenação e sim um convite para usar os bens como meio e não como fim
sem perder o aspecto transcendente da vida. A vida está muito além do aspecto econômico
apenas.
O alerta de Jesus sobre os perigos
da riqueza não é somente para os ricos, de fato, mas para todos quantos queiram
ser seus discípulos e entrar na vida eterna. O dinheiro é o deus que tem seu
altar em cada coração humano: no jovem e no adulto, no leigo e no
religioso/sacerdote. Seria ingênuo negá-lo. É um ensinamento para todos, pois
todos nós temos “alma de rico”, incluindo os pobres que são cobiçosos,
avarentos e apegados ao pouco que possuem. Em todos os níveis sociais se busca
a riqueza material, freqüentemente com espírito de cobiça, e se põe nele a
confiança mais que em Deus. A avareza é um desvio do significado de infinito,
uma transposição do absoluto para o que é relativo. A avareza consiste em
acreditar que a riqueza não é um meio para se viver, mas a própria razão de ser
da vida.
“O que preciso fazer de bom para
alcançar a vida eterna” é uma questão que inquieta todos os que acreditam em
Deus. A vida eterna é sempre um dom gratuito de Deus, fruto da sua bondade, da
sua misericórdia, do seu amor pelo homem; no entanto, é um dom que o homem
aceita, acolhe e com o qual se compromete. Se a vida eterna é um dom gratuito
com o qual devemos nos comprometer, isto significa que nós todos somos chamados
a ser generosos. Ser generoso é um sinal de gratidão e de liberdade interior.
Tudo o que somos, tudo o que podemos temos é precioso se o apreciarmos como um
dom do amor de Deus. Se apreciarmos realmente que o esplendor daquilo que temos
vem de Deus, conseqüentemente, não nos agarraremos aos nossos bens materiais,
mas procuraremos ser cada vez mais generosos. Isso é uma maneira de viver desde
já a vida eterna. A vida eterna é uma realidade que deve marcar cada passo da
nossa existência terrena diariamente e que atingirá a plenitude na comunhão
plena com Deus no nosso encontro derradeiro com Ele. Nós, cristãos, sabemos que
os bens deste mundo, embora nos proporcionem bem estar e segurança, não nos oferecem
a vida eterna, pois tudo será deixado aqui nesta terra assim que partirmos
deste mundo. Essa vida eterna que buscamos ansiosamente está no caminho de
amor, de serviço, de dom da vida que Cristo nos ensinou a percorrer.
O cristão não é um pobre coitado
condenado a passar ao lado da felicidade, pois a felicidade é o projeto de
Jesus (cf. Mt 5,1-12); mas é uma pessoa que renuncia a certas propostas
falíveis e parciais de felicidade, pois sabe que a vida plena está em viver de
acordo com os valores eternos propostos por Jesus. Sem dúvida, as nossas opções
cristãs são criticadas, incompreendidas, e apresentadas como realidades
incompreensíveis e ultrapassadas por aqueles que representam a ideologia
dominante, que fazem a opinião pública. Precisamos, todavia, estar conscientes
de que a perseguição e a incompreensão são realidades inevitáveis, que não
podem desviar-nos das opções que fizemos. O Senhor nos pede que abramos nossos
olhos e nosso coração diante da realidade da pobreza e da opressão que afeta
grandes setores de nossa sociedade. Nós que cremos em Cristo não podemos
seqüestrar o amor, a alegria, a paz nem a dignidade humana de nosso próximo em
função de nossos interesses pessoais. A vida eterna, a felicidade não está no
ter e sim no ser. E para ser é indispensável a liberdade interior. E a liberdade
interior se manifesta na doação, na partilha, na solidariedade, na compaixão,
na caridade fraterna. Enfim, está no amor vivido na convivência com os demais.
Por este caminho só há felicidade e terminará na comunhão plena com Deus
Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis.
P.Vitus
Gustama, svd
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