SER CIDADÃO CELESTE NA TERRA
DOS HOMENS
Segunda-feira da XIX
Semana Comum
Texto de Leitura: Mt
17,21-26
Naquele tempo, 22 quando Jesus e os seus
discípulos estavam reunidos na Galileia, ele lhes disse: “O Filho do Homem vai
ser entregue nas mãos dos homens. 23 Eles o matarão, mas no terceiro dia
ele ressuscitará”. E os discípulos ficaram muito tristes. 24 Quando chegaram a Cafarnaum, os
cobradores do imposto do Templo aproximaram-se de Pedro e perguntaram: “O vosso
mestre não paga o imposto do Templo?” 25 Pedro respondeu; “Sim, paga”. Ao
entrar em casa, Jesus adiantou-se, e perguntou: “Simão, que te parece: Os reis
da terra cobram impostos ou taxas de quem: dos filhos ou dos estranhos?” 26 Pedro respondeu: “Dos estranhos!”
Então Jesus disse: “Logo os filhos são livres. 27 Mas, para não escandalizar essa
gente, vai ao mar, lança o anzol, e abre a boca do primeiro peixe que pescares.
Ali encontrarás uma moeda; pega então a moeda e vai entregá-la a eles, por mim
e por ti”.
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O texto
do evangelho deste dia contém dois temas. No primeiro tema Jesus fala novamente
de sua iminente morte e ressurreição (Mt 17,22-23). No segundo tema fala-se do
imposto pago para a manutenção do Templo (Mt 17,24-27).
1. Sejamos Pontes Que unem o Humano e o
Divino e Não Muros Que Separam
No
primeiro tema o fio dos acontecimentos aponta para os últimos dias da vida de
Jesus em Jerusalém. É a morte inevitável pelo bem praticado. Jesus tem clara
consciência para onde se dirige. Jesus não tem medo de anunciar tudo isso para
seus discípulos. Ainda que Jesus tenha que sofrer e morrer o acento se põe
novamente na ressurreição: “... mas no terceiro dia ressuscitará”.
A
oposição entre os “homens” e o “Filho do Homem” é comum nos evangelistas. O
Filho do Homem se caracteriza por possuir o Espírito de Deus. Os homens, ao
contrário, são os que carecem do Espírito de Deus e, por isso, não compreendem
nem vivem segundo o plano de Deus (cf. Mt 16,13.23). Quem não possui o Espírito
de Deus não vê os outros como irmãos e sim rivais ou inimigos.
Como
“Filho do Homem”, possuidor do Espírito de Deus, Jesus sabe que a vida dada
pelo bem e pela salvação dos homens é a vida recebida, é a vida ressuscitada.
Jesus, o Homem-Deus (Mt 1,23) leva em si a vida que lhe permite levantar-se da
morte. Para Jesus a morte não é definitiva, pois “no terceiro dia
ressuscitará”. É “perder” para ganhar. É morrer por amor aos homens para estar
com o Amor por excelência que é Deus. O amor jamais morre, pois é o nome
próprio de Deus: “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16).
Neste
texto Jesus fala “dos homens” de maneira simples, porém com maior profundidade,
pois na realidade são os homens os inimigos de Deus que devem ser reconciliados
com Ele, como escreveu São Paulo aos romanos: “Se quando éramos inimigos
fomos reconciliados com Deus pela morte do Seu Filho, muito mais agora, uma vez
reconciliados, seremos salvos por Sua vida” (Rm 5,10). Essa é a finalidade
da paixão: acabar com o abismo entre Deus e os homens e os homens entre si para
que estes possam ter acesso para Deus.
Se os
homens criam muros e abismos de separação entre si, Jesus cria pontes entre os
homens e Deus para que os homens tenham um livre acesso para chegar até Deus.
Sejamos construtores de pontes e não de muros e de abismos de isolamento. O
homem existe para o outro homem. No âmago de nossa natureza, como homens, está
a ânsia de integração. Há no coração do homem uma faceta infantil e inocente
que sempre fica profundamente magoada quando somos excluídos de um
relacionamento ou de uma convivência. Ninguém foi criado para o isolamento.
Quando ficamos isolados, estamos propensos a ser prejudicados. Sempre que há
distância, há anseio. Se a distância suscita o anseio, a proximidade cria a
integração. Podemos possuir tudo que o mundo tem a oferecer em termos de
status, de realização profissional, de bens materiais, de cargos sociais
importantes e assim por diante, no entanto, sem nos sentirmos integrados, tudo
isso parece vazio e inútil.
2. Ser Cidadão Celeste na Terra dos
Homens: 100% Crente e Cidadão
No
segundo tema fala-se do imposto pago para a manutenção do Templo. A discussão
do tema parte de uma pergunta dos cobradores do imposto do Templo: “O vosso Mestre não
paga imposto do templo?”. A pergunta dos cobradores de impostos a Pedro
espera resposta afirmativa, mas deixando aberta a possibilidade contrária. Os
sacerdotes e alguns rabinos pretendiam isentos de pagar o imposto. Jesus era
chamado de Mestre e por isso, poderia ter o mesmo privilégio.
Desde tempos de Nehemias era costume
que os israelitas maiores de 20 anos pagavam, cada ano, uma pequena ajuda para
a manutenção do Templo de Jerusalém. O valor era de dois denários que
representam dois dias de trabalho (Ex 30,11-13;
38,26; cf. Neh 10,33s). Esse imposto era cobrado nos meses de março (Adar)
e de abril (Nisán) que assinalava o inicio do ano litúrgico na época. Era um tributo que não tinha nada a ver com o
imposto que eles pagavam para o governo romano.
Jesus pagava cada ano esse tributo
para a manutenção do Templo, como afirma em seguida Pedro. Jesus cumpre as
obrigações do bom cidadão e do crente judeu para não dar motivo de escândalo e
de crítica, pois na verdade ele é o Filho de Deus por excelência e está na casa
do próprio Pai. Como Pedro é um pescador, Jesus pede para ele pescar para
depois vender os peixes a fim de pagar o tributo.
Este pequeno episódio nos recorda
como Jesus se encarnou totalmente em seu povo seguindo seus costumes e normas.
Mas ao mesmo tempo ele questiona os costumes que desumanizam, que excluem, que
favorecem à desigualdade e a injustiça. Ele foi morto por causa desse tipo de
luta.
Todos nós precisamos cumprir também
as normas gerais de convivência social, não somente para evitar sanções e sim
porque “a co-responsabilidade no bem comum exige moralmente o pagamento dos
impostos, o exercício do direito ao voto e a defesa do país”, como diz o Novo
Catecismo (no. 2240).
Além das obrigações como cidadãos, é
útil recordar, a exemplo de Jesus, que todos nós deveríamos nos sentir
co-responsáveis das necessidades da comunidade eclesial, colaborando de
diversos modos que nos é proposto: nosso tempo, nosso talento, nossa ajuda
material, ajuda nas atividades benéficas, ajuda nas missões, nos trabalhos
pastorais e assim por diante. Precisamos ter um sentimento de pertença. Eu faço
parte de uma comunidade e por isso, eu sou co-responsável para seu crescimento.
Não podemos deixar este mundo sem esse sentimento de pertença. Precisamos
contribuir algo de bom de nossa vida para o crescimento da comunidade. Cada um sempre tem algo de bom para dar e para
ajudar de alguma forma a comunidade. Dar e ajudar manifestam nossa generosidade
e nosso desprendimento. O homem novo nasce daquilo que ele dá e renuncia àquilo
que deveria possuir para o bem maior. Santo Agostinho dizia: “O defeito
moral não se define pelo mal que se intenta, mas pelo bem que se abandona...
Deus não condena quem não pode fazer o que quer, mas quem não quer fazer o que
pode” ( Serm. 54,2). De que maneira você ajuda sua comunidade?
P. Vitus Gustama,svd
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