quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

 
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Sexta-Feira Da V Semana Do Tempo Comum
14 de Fevereiro de 2014
 

Primeira Leitura: 1Rs 11,29-32; 12,19


11,29Aconteceu, naquele tempo, que, tendo Jeroboão saído de Jerusalém, veio ao seu encontro o profeta Aías, de Silo, coberto com um manto novo. Os dois achavam-se sós no campo. 30Aías, tomando o manto novo que vestia, rasgou-o em doze pedaços 31e disse a Jeroboão: ‘Toma para ti dez pedaços. Pois assim fala o Senhor, Deus de Israel: Eis que vou arrancar o reino das mãos de Salomão e te darei dez tribos. 32Mas ele ficará com uma tribo, por consideração para com meu servo Davi e para com Jerusalém, cidade que escolhi dentre todas as tribos de Israel”. 12,19Israel rebelou-se contra a casa de Davi até o dia de hoje.
 

Evangelho: Mc 7,31-37


Naquele tempo, 31Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. 32Trouxeram então um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão. 33Jesus afastou-se com o homem, para fora da multidão; em seguida, colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. 34Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!”, que quer dizer: “Abre-te!” 35Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade.  36Jesus recomendou com insistência que não contassem a ninguém. Mas, quanto mais ele recomendava, mais eles divulgavam. 37Muito impressionados, diziam: “Ele tem feito bem todas as coisas: Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.

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Viagem de Jesus por terra pagã continua: Tiro, Sidônia, Decápole. Tem como personagem central do relato de hoje é um homem surdo que fala com dificuldade.


Na tradição profética, a surdez e a cegueira são figuras da resistência à mensagem de Deus (Is 6,9; 42,18; Jr 20-23; Ez 12,2). Paralelamente, no evangelho, são figura da incompreensão e da resistência à mensagem de Jesus.


No processo da cura do surdo-mudo, Jesus abre primeiro os ouvidos do homem, depois desata sua língua. Com isso, Jesus coloca o homem em situação de escutar primeiro para depois falar.


Todos nós sabemos que a capacidade de falar depende também da capacidade que o homem tem para escutar. Por isso, as crianças, antes de começar a falar, antes de poder falar, necessitam desenvolver sua capacidade auditiva. Falar significa abrir o próprio interior, colocar-se ao lado de alguém de igual a igual. Escutar é estar em sintonia com o outro para entender sua mensagem. Escutar supõe a existência de silêncio. Se você nunca pode calar-se, pergunte-se o que é que você quer esconder? Uma conversa sem silêncios é desperdício de monólogos sem destinatários. “Para o sábio é difícil falar de sua sabedoria e para o tolo é difícil calar suas tolices” (René Juan Trossero).


Um cristão ou qualquer pessoa de boa vontade precisa aprender a escutar, a falar e a calar a seu tempo, levando a sério a verdade e a caridade fraterna. Quando buscarmos a verdade e levarmos em consideração a caridade fraterna, falaremos e escutaremos com responsabilidade, isto é, saber escutar quando há que escutar; saber calar quando há que calar e saber falar quando, como e o que há que falar. Para isso, precisamos manter nossos ouvidos e coração abertos à Palavra de Deus, pois a Palavra de Deus tem o único objetivo: salvar a humanidade. Muitas tragédias na Bíblia eram frutos da falta da escuta da Palavra de Deus.


Pode ser que não sejamos surdos fisicamente. Mas hoje em dia ficamos cada vez mais duros de ouvido porque todos nós temos que filtrar o que ouvimos a fim de não sentirmos oprimidos, irritados, desorientados pela superabundância de informações, de barulhos e de conversas que entram em nossa vida com uma velocidade impressionante. E os nossos ouvidos continuam a ficar abertos em tempo integral. Cada dia uma quantidade enorme de notícias entra na nossa vida, mas sem a qual não poderíamos nos posicionar bem nesta vida. Podemos ficar tristes ou alegres, animados ou desanimados por aquilo que ouvimos e pelo modo como ouvimos e pela maneira que interpretamos sobre o que ouvimos e os acontecimentos. O que precisamos manter é a capacidade de sintetizar todas as informações para construir nossa própria vida e nossa convivência. Tudo o que ouvimos, para poder compreendê-lo temos que organizá-lo em um determinado horizonte, o qual é distinto de pessoa a pessoa. Tal horizonte se produz a partir de decisões vitais para nossa vida: o que preciso ouvir e o que eu preciso evitar de ouvir. Aquilo que eu ouço é capaz de me dar um bom descanso ou de tirar meu bom sono. É preciso termos uma audição seletiva para todas as informações para não formarmos nossa personalidade erradamente. Sem a audição seletiva um dia as coisas, que não deveriam entrar, acabarão dando comando para nossa vida. Conseqüentemente, as portas que deveriam ficar fechadas, estarão abertas e as que deveriam abertas, ficarão fechadas. Em outras palavras, perderemos totalmente o controle sobre nossa vida por falta desta audição seletiva. Um veículo sem bom controle de seu piloto tem grandes possibilidades ou probabilidades de ter acidente.


O personagem central da cena do evangelho de hoje é um surdo-mudo. O homem foi criado para se comunicar. Por isso, mudez e surdez são dois empecilhos para a comunicação fluente. Esta era a situação do homem que foi apresentado para Jesus.


Boca e ouvido têm um rico simbolismo na Bíblia. O ser humano precisa da boca para cantar os louvores de Deus e proclamar Suas maravilhas e narrar às gerações futuras a misericórdia de Deus. Através dos ouvidos o homem é instruído nos caminhos de sabedoria. Mas a língua pode levar o homem a perder-se. Daí o provérbio: “Falar com sabedoria é prata, ouvir com amor é ouro”.


Para o evangelista Marcos esse homem representa aqueles que vivem fechados no seu mundo sem partilha, sem diálogo. O surdo-mudo representa aqueles que não se preocupam em comunicar, em partilhar a vida, em dialogar, em deixar-se interpelar pelos outros. O surdo-mudo representa aqueles que vivem instalados, no seu egoísmo, nas suas certezas e nos seus preconceitos, convencidos de que é dono absoluto da verdade. Uma pessoa que está cheia de si paradoxalmente é uma pessoa vazia. 


“Abre-te”, diz Jesus ao surdo-mudo. E ele saiu de seu isolamento e de seu silêncio mortal. Este “abre-te” é também dirigido a cada um de nós.  A ordem “abre-te” existe porque há dentro de nós algo fechado. O que é que está muito fechado em você que o impede de se comunicar com os demais e com o mundo? Abra seu coração a quem lhe oferece a amizade. Abra-se aos que necessitam de seu carinho. Abra seus ouvidos e mova sua língua para aqueles que necessitam de suas palavras de consolo e de conforto. Quem tem ouvidos novos e os lábios libertados do mal tem também os olhos abertos para os demais, a mão estendida para os necessitados e o coração limpo para testemunhar o verdadeiro amor. Quem faz o bem não faz barulho. Como dizia o Papa Pio XI: “O bem não faz barulho e o barulho não faz bem”.


 “Abre-te!”, diz Jesus a cada um de nós. Cada um precisa se perguntar: “O que é que está fechado em mim que necessita do toque de Jesus para eu poder ser libertado?”.


Para Ser Lembrado


Jesus colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: ‘Efatá!’ que quer dizer: ‘Abre-te!’ Imediatamente seus ouvidos se abriram, sua língua se soltou e ele começou a falar sem dificuldade”.
 
A comunidade cristã entendeu o valor sacramental do ensinamento de Jesus e realiza sobre os candidatos para o batismo, sobre os catecúmenos, o gesto de Jesus. Quem preside toca os ouvidos do candidato para que possa acolher a Palavra de Deus e a boca para professar a fé: “O Senhor Jesus, que fez os surdos ouvir e os mudos falar, te conceda que possas logo ouvir sua Palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus”.

P. Vitus Gustama,svd

 

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