CONHECER JESUS E SEU
MISTÉRIO GRADUALMENTE
Quarta-Feira Da VI Semana Do Tempo Comum
19 de Fevereiro de 2014
19Meus queridos irmãos, sabei que todo homem deve ser pronto para ouvir, mas moroso para falar e moroso para se irritar. 20Pois a cólera do homem não é capaz de realizar a justiça de Deus. 21Por esta razão, rejeitai toda impureza e todos os excessos do mal, mas recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar as vossas almas. 22Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. 23Com efeito, aquele que ouve a Palavra e não a põe em prática é semelhante a uma pessoa que observa o seu rosto no espelho: 24apenas se observou, vai-se embora e logo esquece como era a sua aparência. 25Aquele, porém, que se debruça sobre a Lei da liberdade, agora levada à perfeição, e nela persevera, não como um ouvinte distraído, mas praticando o que ela ordena, esse será feliz naquilo que faz. 26Se alguém julga ser religioso e não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo: a sua religião é vã. 27Com efeito, a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo.
Evangelho: Mc 8,22-26
Naquele tempo, 22Jesus e
seus discípulos chegaram a Betsaida. Algumas pessoas trouxeram-lhe um cego e
pediram a Jesus que tocasse nele. 23Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu
nos olhos dele, pôs as mãos sobre ele, e perguntou: “Estás vendo alguma coisa?”
24O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo os homens. Eles
parecem árvores que andam”. 25Então Jesus voltou a pôr as mãos sobre
os olhos dele e ele passou a enxergar claramente. Ficou curado, e enxergava
todas as coisas com nitidez. 26Jesus mandou o homem ir para casa, e
lhe disse: “Não entres no povoado!”
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O texto do evangelho de hoje pode
ser chamado de “o evangelho interior”, pois o relato pretende mostrar a progressão
da fé, a progressão do descobrimento da pessoa de Jesus.
O texto nos relatou que “Jesus
pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele, pôs
as mãos sobre ele” (Mc 8,23). Estes gestos de Jesus são os mesmos gestos
que, no tempo de São Pedro se faziam sobre os catecúmenos, para conduzi-los da
incredulidade à iluminação da fé. Teologicamente há que relacionar este milagre
com a cura do “surdo-mudo” (Mc 7,31-37), que se encontra depois da primeira
multiplicação dos pães (Mc 6,30-44) e a cura deste cego depois da segunda
multiplicação (Mc 8,1-9).
“Jesus cuspiu nos olhos do cego” e
este ficou curado da cegueira. A saliva indica que algo da vida de Jesus, de
seu alento vital entra no cego. E “Pôs as mãos sobre o cego”. O gesto das mãos indica
a bênção do céu desce sobre o cego.
Este processo nos recorda também o
itinerário sacramental: com o contato, a imposição de mãos e a unção, Cristo
nos quer comunicar sua salvação por meio de sua Igreja. A pedagogia dos gestos simbólicos,
unida à palavra iluminadora é a própria dos sacramentos cristãos em sua comunicação
da vida divina.
O que nos chama a atenção é que
quando Jesus perguntou ao cego se estava vendo algo? E o cego respondeu que não
estava vendo bem (ver as pessoas como se fossem árvore). Vem a pergunta para
nossa cabeça: por acaso Jesus não foi capaz de fazer milagre?
A cura do cego, gradualmente, é
colocada aqui de propósito num contexto em que se fala também da cegueira dos
fariseus e dos discípulos. Por isso, trata-se de uma indicação simbólica.
A cura do cego acontece gradativamente.
Primeiro o cego vê os outros como se fossem árvores (ele troca gente por
árvores) e depois quando recebe o outro toque de Jesus, ele começa enxergar
perfeitamente. Marcos, através deste detalhe, vê a lentidão do caminhar dos
discípulos para chegar à fé profunda e para chegar à compreensão plena da
mensagem de Jesus. Trata-se de uma cegueira espiritual capaz de não entender as
palavras de Jesus ou capaz de deturpá-las. Faltava para os discípulos uma visão
perfeita sobre quem era Jesus. Para eles Jesus era um messias rei cheio de
poder e de glória (cf. Mc 10,35-45). Os discípulos são os que necessitam ser
tocados nos olhos por Jesus, porque têm olhos, mas não veem (Mc 8,18). Jesus os
toca, isto é, levar gradualmente, pouco a pouco, ao conhecimento profundo de
Seu mistério.
A fé é um dom de Deus, mas a fé é também
um caminho, um itinerário. Ela, às vezes ou muitas vezes, se encontra entre
luzes e sombras, entre a claridade e a escuridão, tem seus avanços como seus recuos;
às vezes ela nos dá coragem e em outras vezes, ela nos causa medo. O dom da fé
requer nossa colaboração permanentemente, pois a fé não é um tesouro adquirido
de uma vez só.
Por causa de nossa debilidade
também nós avançamos lentamente para a fé no poder da Palavra de Deus. Muitas
vezes ficamos meio cegos por algum tempo. Mas por nos esforçamos no nosso
seguimento acabaremos compreendendo o significado da Palavra de Deus e
enxergaremos melhor sobre o sentido da vida e de seus acontecimentos. É preciso
que nos mantenhamos no caminho do progresso da fé em Jesus, o progresso do
descobrimento da pessoa de Jesus diariamente. Somente convivendo com uma pessoa
diariamente é que acabaremos conhecendo melhor quem é ela.
Além disso, freqüentemente nos
encontramos muito cegos espiritualmente que nos incapacita a vermos o essencial
para nossa vida. A falta de uma visão clara do essencial faz com que tenhamos
uma visão deturpada de tudo na nossa vida. O contato permanente com Jesus
devolve nossa capacidade de percebermos e de vermos com clareza para cada coisa
no seu devido lugar. É um grande dom manter o olhar limpo para o bem, para
encontrarmos Deus no meio de nossas ocupações de cada dia, para vermos os
homens como filhos de Deus, para penetrarmos no que verdadeiramente vale a pena
para a edificação do homem, para vermos a beleza de Deus no universo. É preciso
termos um olhar limpo para que o coração possa amar e mantê-lo jovem.
Não tenhamos que perder a paciência
nem com nós mesmos nem com aqueles que queremos ajudar em seu caminho de fé.
Não podemos exigir resultados imediatos. Cristo teve paciência com todos os discípulos
e com as demais pessoas. Para um cego ele impôs as mãos duas vezes até que ele
começou a enxergar completamente. Deve ficar claro para nossa vida comunitária
que Jesus se chega passo a passo fora dos cálculos humanos. As intervenções de
Deus são também pedagógicas e pacientes com uma sabedoria que nós não
conhecemos e por isso, nem sempre compreendemos. Quando tivermos um pouco de
amor no coração, a paciência vai nos ajudar a ter mais forças para superar
tudo.
“Tu vês algo?”. É a pergunta de Jesus
ao cego. Esta mesma pergunta é dirigida a cada um de nós. Será que podemos
responder que estamos vendo bem? Jesus nos pergunta se nós vemos com os olhos
da fé, isto é, se em tudo que fazemos/fizermos tem por trás a mão de Deus? O
que é que vemos em um ser humano? Que conceito temos sobre um ser humano? Vemos
um ser humano como um objeto (árvore) ou como um irmão, pois ele é o filho de
Deus? Um verdadeiro conceito sobre um ser humano muda nosso modo de tratar as
pessoas. Mas sem a ajuda de Deus, sem o contato permanente com Deus não
conseguiremos ver a beleza do dom da vida, das pessoas, do universo. Por falta
dessa visão clara tropeçaremos permanentemente nesta vida.
P. Vitus Gustama,svd
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