É PRECISO TER E MANTER
A FÉ
Quinta-Feira Da V Semana Do Tempo Comum
13 de Fevereiro de 2014
4Quando Salomão ficou velho, suas mulheres desviaram o seu coração para outros deuses e seu coração já não pertencia inteiramente ao Senhor, seu Deus, como o do seu pai Davi. 5Salomão prestou culto a Astarte, deusa dos sidônios, e a Melcom, ídolo dos amonitas. 6Ele fez o que desagrada ao Senhor e não lhe foi inteiramente fiel, como seu pai Davi. 7Foi então que Salomão construiu um santuário para Camos, ídolo de Moab, no monte que está defronte de Jerusalém, e para Melcom, ídolo dos amonitas. 8Fez o mesmo para todas as suas mulheres estrangeiras, as quais queimavam incenso e ofereciam sacrifícios aos seus deuses. 9Então o Senhor irritou-se contra Salomão, porque o seu coração tinha-se desviado do Senhor, Deus de Israel, que lhe tinha aparecido duas vezes 10e lhe proibira expressamente seguir a outros deuses. Mas ele não obedeceu à ordem do Senhor. 11E o Senhor disse a Salomão: “Já que procedeste assim, e não guardaste a minha aliança, nem as leis que te prescrevi, vou tirar-te o reino e dá-lo a um teu servo. 12Mas, por amor de teu pai Davi, não o farei durante a tua vida; é da mão de teu filho que o arrebatarei. 13Não te tirarei o reino todo, mas deixarei ao teu filho uma tribo, por consideração para com meu servo Davi e para com Jerusalém, que escolhi”.
Evangelho: Mc 7,24-30
Naquele tempo, 24Jesus
saiu e foi para a região de Tiro e Sidônia. Entrou numa casa e não queria que
ninguém soubesse onde ele estava. Mas não conseguiu ficar escondido. 25Uma mulher, que tinha uma filha com um espírito impuro, ouviu
falar de Jesus. Foi até ele e caiu a seus pés. 26A mulher era pagã,
nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de sua filha o
demônio. 27Jesus disse: “Deixa primeiro que os filhos fiquem
saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos
cachorrinhos”. 28A mulher respondeu: “É verdade, Senhor; mas também os
cachorrinhos, debaixo da mesa, comem as migalhas que as crianças deixam cair”. 29Então Jesus disse: “Por causa do que acabas de dizer, podes voltar
para casa. O demônio já saiu de tua filha”. 30Ela voltou para casa e
encontrou sua filha deitada na cama, pois o demônio já havia saído dela.
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“Jesus saiu e foi para a região de Tiro e Sidônia...”
Desta vez Marcos nos relata que Jesus
deixou a terra de Israel, terra santa e vai a uma terra pagã, considerada
sempre “impura” por Israel. Mas para o Senhor nenhuma terra é impura, pois tudo
é obra de Suas mãos. quando criou o universo “ Deus contemplou toda a sua obra,
e viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). É o homem, com sua maldade que
contamina e profana a obra de Deus.
“Jesus entrou numa casa (na
região de Tiro e Sidônia) e não queria que ninguém soubesse onde ele estava”
(Mc 7,24).
Jesus não busca as ações
brilhantes. Ele é sempre o Messias discreto. Deus faz as coisas silenciosamente
sem muito barulho. Ele não faz barulho nem busca fazê-lo. Deus está “no
murmúrio de uma brisa ligeira” (cf. 1Rs 19,21b). Todas as grandes obras sempre
foram e são frutos de um silêncio. Coisas vazias sempre fazem barulhos e o
barulho sempre faz mal para a vida. Muitas vezes acontece que as palavras dizem
tão pouco. Apenas fazem ruído. Somente no silêncio e na solidão é que podemos
escutar o essencial. Não há progresso ou crescimento sem reflexão e silêncio.
Por isso, o silêncio e a reflexão se tornam o maior luxo para qualquer lugar e
época. A verdadeira ação, na verdade, procede dos momentos de silêncio. O
silêncio é a plenitude de vida.
O grandioso do relato do evangelho
deste dia é a forma como uma mulher pagã é colocada como modelo de fé entendida
no seu sentido mais genuíno e original. Ela se abandona nos braços d’Aquele que
vem da parte de Deus e se declara fraca e limitada humanamente diante do
problema que afeta a vida de sua filha e conseqüentemente afeta também sua vida
como mãe. A tristeza da filha é a tristeza dobrada para a mãe. O sucesso da
filha é o sucesso dobrado para a mãe. A mãe reconhece a superioridade e poder
de Jesus, mostrando ao mesmo tempo a gravidade do problema de sua filha. O
problema de sua filha é insustentável. Na sua declaração essa mulher quer dizer
a Jesus: “Sem sua ajuda, Jesus, sem seu poder, é impossível eu sair do meu
problema!”.
Essa mulher era uma Cananéia, uma
pagã, uma estrangeira. Isto quer dizer que se trata de um ser impuro que faz os
outros impuros. Mas não para Jesus, pois Ele que é o Santo de Deus (Mc 1,24) não
pode fazer-se impuro e sim somente para purificar como fez com o leproso e com
os pecadores, com os arrecadadores de impostos (publicanos), com a mulher de
hemorragia e com os endemoniados. Agora Jesus está em contato com uma mulher
duplamente impura: é uma pagã e mora em terra pagã com uma filha possuída pelo demônio.
No entanto ela está ali aos pés de Jesus e lhe suplica que tire de sua filha o demônio.
Jesus não disse que não. Somente Jesus
lhe diz que espere, que tenha paciência, que “Deixa primeiro que os filhos
fiquem saciados, porque não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo aos
cachorrinhos”.
“Filhos- cachorros”, isto é,
judeus- pagãos. “Cachorro” é o termo usado para falar dos pagãos e
estrangeiros. Jesus recorre a este termo para dar a entender que os pagãos não estão excluídos para sempre do banquete de
salvação, do banquete dos filhos. aqui se trata da salvação e da salvação para
todos os povos (cf. Is 2,2-5; 25,6). Mas há um “antes” e um “depois” que São Paulo
observará em sua Carta para os romanos (Rm 1,16; cf. At 13,46). Mas Jesus
aboliu tudo isso no dia de sua ressurreição ao dizer aos discípulos: “Há que
proclamar o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, a
começar por Jerusalém” (Lc 24,47). Em todo caso, o “depois” se antecipa aqui.
A mulher pagã confia na justiça e na
misericórdia de Deus. Ela não perde sua fé mesmo que os obstáculos sejam
grandes e desagradáveis. Por isso, ela responde sabiamente a Jesus: “É
verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que as
crianças deixam cair”. Quanta fé nas palavras dessa mulher! Quanta
humildade e quanta esperança! Ela chama Jesus de “Senhor”. É o titulo pascal ou
pós-pascal, usado somente por essa mulher pagã no Evangelho de Marcos para
assinalar que essa mulher tem fé e quando há fé, há admissão para a mesa dos
filhos. “Ter fé é assinar uma folha em branco, e deixar que Deus escreva o que
quer” (Santo Agostinho). “Ter fé não é somente elevar os olhos a Deus para
contemplá-Lo, é também olhar a terra com os olhos de Cristo” (Michel Quoist)
Pela sua fé verdadeira e profunda e
pela perseverança na sua oração essa mulher é premiada pela cura de sua filha.
“Por causa do que acabas de dizer, podes voltar para casa. O demônio já saiu
de tua filha”, disse Jesus à mulher.
“Fé é crer no que não vemos. O premio da fé é ver o que cremos”,
dizia Santo Agostinho (Serm. 43,1,1; cfr. Hb 11,1). A verdadeira fé é
uma adesão a uma pessoa (Deus) e não a uma fórmula dogmática.
O evangelho nos mostra a fé de uma
mulher que não pertencia ao povo eleito, não pertencia à uma Igreja ou a uma
religião, mas tinha confiança e fé no poder de Jesus. Ela pode não pertencer a
uma religião ou a uma Igreja, mas ela pertence a Deus pela fé que tem no poder
de Deus.
Ser pagão não depende da pertença
ou não a uma religião ou a uma Igreja. Ser pagão se define a partir do modo de
viver. Por isso, há cristãos pagãos como também há pagãos cristãos. Há cristãos
que perdem com facilidade sua fé e vive sem esperança. São “cristãos” pagãos.
Há muitos que são considerados pagãos pelos outros, como a mulher Cananéia, mas
acreditam no poder de Deus incondicionalmente. São “pagãos” cristãos.
A mulher Cananéia não perde sua fé,
não protesta, não se revolta ainda que experimente a humilhação. Ela conseguiu
o que pedia, pois ela se abandonava totalmente nos braços de Deus e encarava
todos os tipos de obstáculos e dificuldades. Santo Agostinho dizia que muitos
não conseguem o que pedem porque são maus de coração e por isso, eles têm que
ser, primeiramente, bons. Ou muitos não conseguem o que pedem porque pedem
malmente, sem insistência no lugar de fazê-lo com paciência, com humildade, com
fé e por amor. Há que esforçar-se por pedir o que bom para todos. A mulher
Cananéia é boa mãe, pede algo bom e pede bem. Através do evangelho de hoje o
Senhor quer nos mover a termos fé e perseverança e a vivermos na esperança
porque Deus nos ama. Deus se vence com fé e não com orgulho. De Deus se obtém
tudo com confiança. Em Deus sempre encontra uma acolhida quando cada um se
aproxima com humildade e não com auto-suficiência.
Essa mulher é um modelo acabado de
fé e oração unidas. Ela chama Jesus de “Senhor”, um título dado a Jesus
pós-pascal. Sua fé é orientada para a libertação do próximo, nesse caso de sua
filha. E sua oração cumpre aquilo que Jesus pede: a fé, confiança, perseverança
e sem desfalecimento.
Ela nos ensina que a fé e a oração
devem andar juntas. Quem tem fé em Deus precisa rezar. E quem reza, precisa ter
fé. A fé é a atitude básica de qualquer crente, de qualquer cristão, pois ela é
a resposta nossa diante da oferta do amor de Deus para nós. A oração evidencia,
por sua vez, a presença e a vitalidade de nossa fé em Deus.
P. Vitus Gustama,svd
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