USAR E PARTILHAR OS
BENS MATERIAIS SEM SER POSSUIDO POR ELES
Segunda-feira da VIII
Semana Do Tempo Comum
03 de Março de 2014
3 Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ele nos fez nascer de novo, para uma esperança viva, 4 para uma herança incorruptível, que não estraga, que não se mancha nem murcha, e que é reservada para vós nos céus. 5 Graças à fé, e pelo poder de Deus, vós fostes guardados para a salvação que deve manifestar-se nos últimos tempos. 6 Isto é motivo de alegria para vós, embora seja necessário que agora fiqueis por algum tempo aflitos, por causa de várias provações. 7 Deste modo, a vossa fé será provada como sendo verdadeira — mais preciosa que o ouro perecível, que é provado no fogo — e alcançará louvor, honra e glória, no dia da manifestação de Jesus Cristo. 8 Sem ter visto o Senhor, vós o amais. Sem o ver ainda, nele acreditais. Isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, 9pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação.
Evangelho: Mc 10,17-27
Naquele tempo, 17Ao
retomar seu caminho, alguém correu e ajoelhou-se diante de Jesus, perguntando:
“Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” 18Jesus respondeu:
“Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus.19Tu conheces os
mandamentos: não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso
testemunho; não defraudes ninguém; honra teu pai e tua mãe!” 20Entao,
ele replicou: “Mestre, tudo isso eu tenho guardado desde minha juventude”. 21Fitando-o,
Jesus o amou e disse: “Uma só coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos
pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” 22Ele,
porém, contristado com essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de
muitos bens.. 23Entao Jesus, olhando em torno, disse a seus
discípulos: “Como é difícil a quem tem riquezas entrar no Reino de Deus!” 24Os
discípulos ficaram admirados com essas palavras. Jesus, porém, continuou a
dizer: “Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais
fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de
Deus!” 26Eles ficaram muito espantados e disseram uns aos outros:
“Então, quem pode ser salvo?” 27Jesus, fitando-os, disse: “Aos
homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível”.
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Lemos no evangelho deste dia que
“alguém” (sem nome, que pode ser qualquer um de nós) correu ao encontro de
Jesus para fazer a seguinte pergunta: “Bom mestre, que farei para herdar a
vida eterna?” É uma pergunta que jovens faziam aos rabis, quando se
apresentavam para iniciarem a formação acadêmica nas escolas hebraicas: que
devo fazer? No evangelho de Mateus o jovem rico diz: “Mestre, que farei de bom
para ter a vida eterna?” (Mt 19,16).
Antes de responder à pergunta desse
rico, Jesus se cautela diante do apelativo “bom”: “Por que me chamas bom?
Ninguém é bom senão só Deus”. Essa precisão servirá para se compreender a
resposta que Jesus fará a esse rico. Esta observação de Jesus corresponde
perfeitamente à concepção bíblica e judaica segundo a qual só Deus é chamado
bom, porque ele usa de misericórdia, socorre os pobres e defende os fracos (cf.
Dt 10,18). Por isso, a única condição para entrar na vida eterna é imitar o
único bom, Deus. A fidelidade a Deus é exercida no amor ao próximo, síntese dos
mandamentos (cf. Rm 13,8-10).
Jesus prossegue, indicando ao seu
interlocutor o caminho para “herdar” a vida definitiva junto a Deus, e citou só
os mandamentos que se referem aos deveres para com o próximo (v.19). Jesus
omite os mandamentos referentes a Deus. em vez disso, ele recorda os éticos, os
que se referem ao próximos, que são independentes de todo contexto religioso: Tu conheces os
mandamentos: não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso
testemunho; não defraudes ninguém; honra teu pai e tua mãe!”. O rico responde: “Mestre, tudo isso eu
tenho guardado desde a minha juventude” (v.20).
O texto prossegue: “Fitando-o,
Jesus o amou e disse: ’uma só coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos
pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me’” (v.21).
“Fitar” é o mesmo que cravar,
admirar, fixar a atenção e o pensamento, ficar imóvel. O sinal distintivo da
identidade do discípulo é seguir a Jesus, isto é, ficar envolvido em seu
destino, seu modo de amar e de ser fiel ao outro homem até o testemunho supremo
da cruz (cf. Jo 13,1). A diferença entre a renúncia aos bens como estilo de
vida e o seguimento evangélico está nessas duas palavras de Jesus: “dá-os aos
pobres”. Se nos detivermos na primeira: “vai e vende tudo o que tens”, ainda nós
estaremos no limiar do evangelho que para termos liberdade interior, devemos nos
afastar (longe de cobiça ou ganância) de todas as coisas e preocupações
materiais.
A novidade evangélica é o convite:
“dá aos pobres, porque assim tu imitas o único bom, Deus; depois vem e
segue-me”. Trata-se de seguir aquele que, pelos pobres, deixou não só sua
atividade, a segurança social e os laços de parentesco, mas também entrega sua
própria existência como dom de amor pelos muitos, pela libertação deles (cf. Mc
10,45).
O homem rico, pelo seu apego à
riqueza, não aceita o convite de Jesus. Seu amor aos outros é relativo, não
chega ao nível necessário para um cristão. Não está disposto a trabalhar por
uma mudança social, por uma sociedade justa; a antiga lhe basta. Prefere o
dinheiro ao bem do homem.
A cena do evangelho de hoje é simpática:
uma pessoa (jovem) inquieta que busca caminhos e quer dar um sentido mais pleno
para sua vida. Mas o diálogo, que prometeu muito, acaba em fracasso. Tampouco Jesus
consegue tudo o que quer em sua pregação, pois ele respeita, com delicadeza, a
liberdade das pessoas. Alguns lhe seguem, deixando tudo para trás, como os apóstolos.
Outros, como o homem rico no evangelho de hoje, ficam para trás, pois seus bens estão
na sua frente que acabam não vendo mais nada senão os bens.
O jovem rico se converteu em símbolo
de qualquer cristão que quando chegou o momento não quis aceitar a mensagem de
Jesus. Jesus não pede “coisas” e sim a entrega total. Não se trata de “ter” e
sim trata-se de “ser” e de “seguir” vitalmente a Jesus: “Quem quer me
seguir, carregue sua cruz de cada dia e me siga. Quem quer guardar sua vida,
vai perdê-la”. Para todos nós custa muito renunciar ao que estamos
apegados: as riquezas ou ideias ou a família, ou os projetos individuais ou a
mentalidade. Quando estamos cheios de coisas, menos agilidade para avançarmos
pelo caminho de vida e de Deus. Um atleta que quer correr, mas com uma mala às
costas, será difícil conseguir medalha.
Jesus pede a todos os seus
seguidores que tenham o desprendimento que sabe se conformar com o necessário e
compartilhar com os outros o que se tem, sem entesourar nem incorrer na idolatria
do dinheiro como bem supremo. Um dia seremos obrigados a largar tudo quando
chegar nosso momento para partir deste mundo. De fato, temos apenas o usufruto
das coisas criadas por Deus para nossa felicidade neste mundo e não para
possuí-las.
P. Vitus Gustama,svd
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