QUEM É JESUS PARA MIM?
Quinta-Feira Da VI
Semana Do Tempo Comum
20 de Fevereiro de 2014
Primeira Leitura: Tg 2,1-9
1Meus irmãos, a fé que tendes em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado não deve admitir acepção de pessoas. 2Pois bem, imaginai que na vossa reunião entra uma pessoa com anel de ouro no dedo e bem vestida, e também um pobre, com sua roupa surrada, 3e vós dedicais atenção ao que está bem vestido, dizendo-lhe: “Vem sentar-te aqui, à vontade”, enquanto dizeis ao pobre: “Fica aí, de pé”, ou então: “Senta-te aqui no chão, aos meus pés”, 4não fizestes, então, discriminação entre vós? E não vos tornastes juízes com critérios injustos? 5Meus queridos irmãos, escutai: não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam? 6Mas vós desprezais o pobre! 7Ora, não são os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais? Não são eles que blasfemam contra o nome sublime invocado sobre vós? 8Entretanto, se cumpris a lei régia, conforme a Escritura: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, estais agindo bem. 9Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e a Lei vos acusa como transgressores.
Evangelho: Mc 8,27-33
Naquele tempo, 27Jesus
partiu com seus discípulos para os povoados de Cesareia de Filipe. No caminho
perguntou aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” 28Eles
responderam: “Alguns dizem que tu és João Batista; outros que és Elias; outros,
ainda, que és um dos profetas”. 29Então ele perguntou: “E vós,
quem dizeis que eu sou?” Pedro respondeu: “Tu és o Messias”. 30Jesus proibiu-lhes severamente de falar a alguém a seu respeito. 31Em
seguida, começou a ensiná-los, dizendo que o Filho do Homem devia sofrer muito,
ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, devia
ser morto, e ressuscitar depois de três dias. 32Ele dizia isso
abertamente. Então Pedro tomou Jesus à parte e começou a repreendê-lo. 33Jesus
voltou-se, olhou para os discípulos e repreendeu a Pedro, dizendo: “Vai para
longe de mim, Satanás!” Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”.
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“Não faça de seu cérebro um arquivo
para pensamentos alheios, mas o laboratório de suas próprias convicções”, diz o
psicólogo argentino, René Juan Trossero. O verdadeiro sentido da vida consiste
em se interrogar, em interrogar e em ser interrogado. Temos que nos interrogar
tempo todo sobre nossa maneira de viver, de optar na vida, de escolher certas decisões,
de tratar os outros e assim por diante. Não temos todos os conhecimentos sobre
muitas coisas e, por isso, temos que ter humildade de perguntar aos que têm
conhecimento sobre aquilo que perguntamos. Já que convivemos com os outros,
eles também nos questionam. E temos que também ter humildade em aceitar a
verdade contida nas interrogações que os outros fazem sobre nós. A partir disso
é que podemos viver e conviver prudentemente.
Perguntar é o início do caminho de
sabedoria. Não há nenhum dia que não tenha nenhuma pergunta que fazemos para nós
mesmos em silêncio ou dirigida para os outros em busca das informações ou
respostas exatas ou precisas. Um ditado oriental diz que quem perguntar, ficará
bobo durante cinco minutos, mas quem não perguntar, ficará bobo para sempre. É claro
que nem todas as perguntas têm suas respostas. Creio que para muitas perguntas
essenciais só teremos respostas em Deus e que nem sempre temos condições de
receber respostas de maneira imediata. Quando temos respostas? Só Deus que
conhece todos os caminhos e todos os mistérios sabe do quando da resposta. Como
uma criança nem sempre temos condições para entender a verdadeira resposta para
nossa pergunta. “Somos viajantes em busca da
pátria; é preciso fixar os olhos no alto para reconhecer o caminho” (Ernest
Hello).
Hoje Jesus nos faz duas perguntas
para saber se nós verdadeiramente conhecemos Jesus e se os outros, ao nosso
redor, sabem ou conhecem quem é Jesus.
A cena do evangelho deste dia
acontece no território pagão. O afastamento do centro do poder (político e
religioso) para estar nesse território faz com que os discípulos de Jesus
estejam mais livres da pressão ideológica de sua sociedade, especialmente dos
fariseus. Nessa região é que Jesus lança duas perguntas para os discípulos
sobre Sua identidade (cf. Mc 4,41; 6,14-16): “Quem dizem os homens que eu
sou?” e “E vós, quem dizeis que eu sou?”. As duas perguntas que Jesus faz aos discípulos
correspondem aos dois momentos da cura do cego para significar a cegueira dos discípulos
(Mc 8, 24.27). Agora são interrogados para saber se eles enxergaram algo mais
profundo em Jesus.
Já faz tempo os discípulos têm
estado com Jesus. Mesmo assim, não conhecem verdadeiramente quem Ele é. Depois
de longas vacilações e incompreensões Pedro, em nome do grupo dos Doze,
“reconhece” a Jesus quem Ele é. Para os discípulos, como para o cego de
Betsaida (Mc 8,22-26), seus olhos vão se abrindo progressivamente para conhecer
quem é Jesus de verdade.
O povo continua tendo as mesmas
opiniões do sistema judaico sobre a identidade de Jesus depois do envio dos
discípulos. O povo identifica Jesus com figuras do passado: João Batista,
Elias, um profeta (cf. Mc 6, 14-16), com personagens reformistas, mas cuja
mensagem não realiza a expectativa que o povo tem acumulado ao longo de sua
história. Para o povo Jesus tem uma força de um profeta. Logo no início deste
evangelho o povo se admira ao dizer: “Jesus fala como quem tem autoridade” (cf.
Mc 1,22). A pregação de Jesus faz o povo voltar para o passado, para os
profetas os quais não se encontram contemporaneamente, a não ser na atuação de
Jesus. O povo julga positivamente, mas o que aprendeu sobre o Messias lhe
impede de identificá-lo com Jesus. Em outras palavras, o povo é doutrinado pela
instituição judaica e por isso, sua opinião permanece imutável ou imóvel. Os
sinais messiânicos que Jesus deu nos episódios da multiplicação dos pães não
tiveram repercussão nele.
Será que sabemos e conhecemos
verdadeiramente quem é Jesus ou apenas um Jesus fruto da descoberta dos outros,
um Jesus de catecismo?
Jesus espera uma resposta distinta
da gente comum. Por isso, ele lança a segunda pergunta para os próprios discípulos:
“E vós, quem dizeis que eu sou?”. Pela iniciativa própria, Pedro se faz
porta-voz do grupo (cf. Mc 1,36). Sua resposta é clara: “Tu és o Messias”. É o
título que Mc colocou logo no início do seu Evangelho (Mc 1,1). Trata-se, pois,
do reconhecimento da identidade profunda de Jesus: Jesus não é somente “um dos
profetas” pelos quais Deus conduzia a história ao seu término. Agora Jesus é o
término, o fim mesmo, “aquele que os profetas anunciavam”, o Messias, o Ungido,
o Cristo.
Mas este Messias é diferente, até
daquilo que Pedro imagina que seja: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser
rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser
morto e, depois de três dias, ressuscitar” (Mc 8,31). “Morto e
ressuscitado” foi o primeiro “Credo primitivo” das comunidades cristãs. Não é
por acaso que o anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus é repetido
três vezes neste evangelho.
Pedro, apesar de sua profissão, não
tem ainda a suficiente maturidade. A reação dele diante do anúncio é forte.
Pedro chega a recriminar/censurar Jesus. Pedro, que ama a Jesus até suas
entranhas, tenta convencer Jesus para que não tome o caminho da cruz. Pedro
queria dizer: “Será que não tem outros caminhos de levar a cabo o plano de
Deus, como o caminho de poder?”. Será que não pensamos também desta maneira?
Mas Jesus recrimina Pedro com
palavras duras: “Afasta-te de mim, Satanás, porque não pensas as coisas de
Deus, mas as dos homens!” (Mc 8,33). Em outras palavras, Jesus convida
Pedro a segui-Lo. As palavras em grego “hipage hopíso” significam
“caminhar de trás”. Em outros palavras, “seja meu seguidor e por isso ande
atrás de mim!. Não seja como aqueles que põem obstáculos no caminho da
evangelização!”. Jesus quer nos relembrar através de Pedro que nossos caminhos
nãos são os caminhos do Senhor, como diz a própria Palavra de Deus (cf. Is
55,8). Por isso, precisamos rezar sempre com o salmista: “Ensina-me, Senhor,
o teu Caminho!” (Sl 27,11).
De Pedro aprendemos que muitas
vezes julgamos tudo sob aparências falsas, mas o Espírito Santo sabe tudo e
penetra em tudo. Se não queremos ser dos que obstaculizam o caminho da
evangelização, devemos ter um contato muito estreito com o Espírito Santo a fim
de julgarmos com critérios de Deus. Se realmente somos cristãos, é preciso que
demos à vontade de Deus o lugar que lhe corresponde: o primeiro lugar (cf. Mt
6,33).
“E vós, quem dizeis que eu sou?”. Esta pergunta é dirigida a cada um de nós. Na
verdade é uma pergunta sobre nossa própria identidade que muitas vezes não tem
uma definição pela maneira que vivemos. A identidade de Cristo está definida:
Ele é o Cristo, o Messias (Ungido), Ele é o Filho de Deus (Mc 1,1) cuja
substância com Deus é igual (consubstancial). Cada resposta dada para esta
pergunta vai definir nosso modo de viver e de conviver. Se confessarmos que
Jesus é a Luz (Jo 8,12), então sejamos nós luz para os outros, transmitindo
apenas palavras que iluminem a vida dos outros (Mt 5,14). Se Jesus é a Força
para nós, então sejamos força para quem se encontra sob o peso da vida e para
os desanimados e decepcionados. Se Jesus é o Bom Pastor (Jo 10) então sejamos
fonte de união que rebanha e dá vida para que os outros vivam. Se Jesus é
misericordioso, então, não julguemos nem condenemos nem maltratemos os outros,
mas sejamos também nós misericordiosos, prontos para perdoar e para pedir o
perdão. E assim por diante!
“E vós, quem dizeis que eu sou?”. Como se Jesus quisesse dizer a cada um de nós:
“Diga-me de que maneira você vive e convive para saber quem sou Eu para você?”.
É uma pergunta para verificar nosso modo de viver e de conviver e para fazer um
exame profundo sobre nossa verdadeira identidade se realmente somos de Cristo
ou não somos dele. Será que os outros percebem na nossa maneira de viver que
somos de Cristo? Lembremo-nos o alerta que São Paulo nos escreveu: "Somos
uma carta de Cristo, escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo,
não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, nos corações" (2Cor
3,3). Que os outros possam ler alguma coisa de Cristo em cada um de nós! E São
Paulo acrescentou: “Somos para Deus o perfume de Cristo
entre os que se salvam e entre os que se perdem” (2Cor 2,15). Ser perfume é ser
agradável tanto para Deus como para os homens. Mas “Que vossa caridade não
seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem, amai-vos
mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros”
(Rm 12,9-10), pois “Vós sois concidadãos dos santos e membros da família
de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por
pedra angular o próprio Cristo Jesus” (Ef 2,19-20). “Um homem que nunca se entregou a uma causa superior não
atingiu o cimo da vida” (Richard Nixon).
P. Vitus Gustama,svd
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