SER ENSINADO PARA SERVIR
NO ESPÍRITO DO SENHOR
Terça-feira da VII
Semana Comum
25 de Fevereiro de 2014
Primeira Leitura: Tg 4,1-10
Caríssimos, 1de onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das paixões que estão em conflito dentro de vós? 2Cobiçais, mas não conseguis ter. Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra, mas não conseguis possuir. E a razão está em que não pedis. 3Pedis, sim, mas não recebeis, porque pedis mal. Pois só quereis esbanjar o pedido nos vossos prazeres. 4Adúlteros, não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Assim, todo aquele que pretende ser amigo do mundo torna -se inimigo de Deus. 5Ou julgais ser em vão que a Escritura diz: “Com ciúme anela o espírito que nos habita”? 6Mas ele nos dá uma graça maior. Por isso, a Escritura diz: “Deus resiste aos soberbos, mas concede a graça aos humildes”. 7Obedecei pois a Deus, mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. 8Aproximai-vos de Deus, e ele se aproximará de vós. Purificai as mãos, ó pecadores, e santificai os corações, homens dúbios. 9Ficai tristes, vesti o luto e chorai. Transforme-se em luto o vosso riso, e a vossa alegria em desalento. 10Humilhai-vos diante do Senhor, e ele vos exaltará.
Evangelho: Mc 9,30-37
Naquele tempo, 30 Jesus e
seus discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse
disso, 31pois estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: “O
Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas,
três dias após sua morte, ele ressuscitará”. 32 Os discípulos,
porém, não compreendiam estas palavras e tinham medo de perguntar. 33 Eles
chegaram a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: “Que discutíeis
pelo caminho?” 34 Eles, porém, ficaram calados, pois pelo caminho
tinham discutido quem era o maior. 35 Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém quiser
ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” 36
Em seguida, pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a
disse: 37“Quem acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que
estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”.
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Pela segunda vez Jesus revela aos
seus discípulos sua próxima Paixão (Mc 8,31-33; 10,31-34). Ao mesmo tempo ele
abandona deliberadamente a pregação à multidão (Mc 9,30) incapaz de
compreendê-Lo para se dedicar exclusivamente à formação definitiva dos
discípulos: “Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava
ensinando a seus discípulos”.
Ensinar é uma das preocupações de Jesus
nos evangelhos, especialmente no evangelho de Marcos (Mc 1,22; 4,2; 6,2; 9,31
etc..). Jesus Cristo é a Palavra divina (Jo 1,1). Jesus é a Palavra inesgotável
de Deus para se comunicar com os seres humanos. Como a Palavra divina, as
palavras de Jesus são sempre promessa e expressão de vida. Através de seu ato e
atividade de ensinar Jesus quer que os seus ouvintes cresçam na liberdade e
dignidade tendo consciência critica sobre a realidade ao seu redor (cf. Mc
1,22).
Cada cristão é chamado a ser
educador-profeta. Os profetas falam em nome de Deus, são Seus porta-vozes que
sacudam as consciências, levantem as vidas de mediocridade, de desesperança, do
tédio e de insensibilidade. Todo profeta é educador e todo educador cristão é chamado
a ser um profeta. A educação é, portanto, uma vocação de serviço. Cada cristão,
cada educador cristão é chamado a transformar cada lugar, cada escola em
lugares de vida nos quais se aprende a viver e conviver, a desfrutar a vida e a
dignidade, a defender a vida, a combater tudo o que ameace a vida.
Em seguida, Marcos nos relatou sobre
o anúncio da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ao anunciar pela segunda
vez aos seus discípulos sua paixão e morte Jesus quer educá-los sobre o que
significa seguir a Jesus Cristo. Mas os seus não estão dispostos a atender o
que seu Mestre quer dizer ou ensinando. O que lhes preocupa é “quem será o mais
importante”. Cada educador, cada mestre precisa ter paciência em ensinar ou
educar. É um trabalho de serviço. Um servo está sempre disposto e disponível para
atender a seu senhor.
Para acabar com a ambição dos
discípulos de quererem ocupar primeiros lugares Jesus dá algumas lições
(ensinar) sobre o estilo de vida para quem quiser ser seu discípulo. Jesus
marca as linhas fundamentais da espiritualidade que se deve respirar qualquer
comunidade cristã. A idéia-mestra é esta: “Se alguém quiser ser o primeiro,
que seja o último de todos e aquele que serve a todos!”. Isto é, ser o
servidor de todos.
Para acentuar a lição dada aos
discípulos Jesus põe uma criança (um menino) no meio deles: “Em seguida, pegou uma
criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: ‘Quem acolher
em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me
acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou’”. Jesus utiliza uma
estratégia pedagógica: coloca um menino no meio e o abraça. Um menino! Uma criança!
Quantas coisas diz a imagem deste menino abraçado por Jesus! É um abraço com
que Deus abriga, anima e fortalece o novo começo (menino/ criança). É o abraço
que envolve toda a confiança, toda a ternura, toda a proximidade do Senhor para
quem quiser ser verdadeiro discípulo, e não prematuro mestre.
A figura bíblica do “menino” ou
“criança” é símbolo de marginalização e indefesa. No tempo de Jesus, um menino
era símbolo de ignorância, imaturidade e insignificância. Um menino era
equiparava com os escravos. No entanto, por seu grau de dependência o menino se
converte em preocupação permanente para seus progenitores sem os quais o menino
não sobreviveria ou não receberia uma boa educação. Assim, o menor se converte
no mais importante porque requer a atenção e o cuidado dos maiores. É uma lição
viva de pequenez e de humildade. Ser simples é ser modesto, singelo, puro, desprovido
de elementos acessórios, isento de significações secundárias, sem luxo nem
ostentação. Ser humilde consiste em manifestar a virtude de conhecer suas
próprias limitações. É reconhecer ser pó, mas é pó vivente, pois Deus soprou
seu espírito nele que o capacita a viver na espera divina.
Por isso, a grandeza do homem está
na humildade. “Quanto mais humildes, maiores” dizia Santo Agostinho. Mas
“simular humildade é a maior das soberbas”, acrescentou Santo Agostinho. A paz
florescerá em qualquer comunidade cristã se seus membros fazem seu o espírito
evangélico de humildade e de simplicidade. O próprio Jesus serve de exemplo,
pois sua vida está na sua atitude de entrega para a salvação de todos.
Depois que colocou a criança ou o
menino no meio dos discípulos, Jesus pronunciou a seguinte frase: ““Quem
acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem
me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”. Esta
sentença nos recorda a parábola do juízo final (Mt 25,31-46) e o final do
discurso missionário (Mt 10,42). Assim a criança aqui assume um sentido novo.
Não é mais a criança em sentido próprio e sim o símbolo do necessitado. É o
sedento, o faminto, desnudo, o prisioneiro, o marginalizado.
Também podemos ter dificuldades em
querer entender a lição que Jesus deu aos discípulos. Tendemos a ocupar os
primeiros lugares, a buscar nossos interesses, a desprezar as pessoas que
contam pouco na sociedade e das pessoas que não podemos esperar grandes coisas.
Se quisermos colaborar com Jesus
Cristo e fazer algo válido na vida, temos que contar em nosso programa de vida
com a renúncia e a entrega, com a humildade e a simplicidade. O desejo de poder
e a busca dos próprios interesses fazem impossíveis a renúncia, a entrega e
impossibilita o cristão a servir aos demais. Um cristão que não serve não serve
como cristão. Uma Igreja que não serve, não serve para nada. Servir pela
salvação dos demais é o centro do cristianismo. Para sermos felizes temos que
fazer os outros felizes. A competitividade faz desaparecer a solidariedade, a
compaixão, a igualdade e a colaboração. A competitividade sempre torce para que
a vida do outro não dê certo para que ele possa estar em destaque
solitariamente para ser adorado pelos demais.
Servir é adorar a Deus em ação. Servir
é a oração e a adoração colocadas na prática do amor fraterno. Servir é fazer
algo de bom sem esperar nada de troca ou de reconhecimento. Renunciar a ser o
servidor, a ser o pequeno significa renunciar Jesus, porque somente quem acolhe
sua vocação de serviço como se acolhe um pequeno (criança), acolherá Jesus e o
próprio Deus que o enviou. O poder e o serviço se excluem. A ambição de poder é
o câncer do serviço. O poder pode servir para muitas coisas, mas não serve para
tornar bons os homens. Geralmente os maus líderes produzem os maus
funcionários. Um coração corrompido é
ninho de discórdia. Uma mente obcecada nunca ilumina bem os caminhos.
P. Vitus Gustama,svd
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