SEGUIR JESUS PARA FORMAR
UMA COMUNIDADE DE IRMÃOS
Terça-Feira Da VIII
Semana Do Tempo Comum
04 de Março de 2014
Primeira Leitura: 1Pd 1,10-16
Caríssimos, 10 esta salvação tem sido objeto das investigações e meditações dos profetas. Eles profetizaram a respeito da graça que vos estava destinada. 11 Procuraram saber a que época e a que circunstâncias se referia o Espírito de Cristo, que estava neles, ao anunciar com antecedência os sofrimentos de Cristo e a glória consequente. 12 Foi-lhes revelado que, não para si mesmos, mas para vós, estavam ministrando estas coisas, que agora são anunciadas a vós por aqueles que vos pregam o evangelho em virtude do Espírito Santo, enviado do céu; revelações essas, que até os anjos desejam contemplar! 13 Por isso, aprontai a vossa mente; sede sóbrios e ponde toda a vossa esperança na graça que vos será oferecida na revelação de Jesus Cristo. 14 Como filhos obedientes, não modeleis a vossa vida de acordo com as paixões de antigamente, do tempo da vossa ignorância. 15 Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. 16 Pois está na Escritura: “Sede santos, porque eu sou santo”.
Evangelho: Mc 10,28-31
Naquele tempo, 28começou
Pedro a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. 29Respondeu
Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai,
filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem
vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e
campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna. 31Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que
agora são os últimos serão os primeiros”.
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O texto do evangelho de hoje, como
também o do dia anterior, se encontra na parte central do evangelho de Marcos
(Mc 8,22-10,52). Este conjunto começa com a cura do cego (8,22-26) e termina com
a mesma (10,46-52). Com isso Marcos quer nos mostrar que os discípulos
continuam com sua incompreensão diante da missão de Jesus.
No início e no fim desta seção,
Marcos coloca o tema de fé como dom de Deus. A fé faz ver quem é Jesus e faz
entender o sentido da vida e de nossa presença neste mundo. Desde o começo da atividade
pública de Jesus, Marcos mostrou-nos a cegueira dos discípulos. Mas Jesus fará
tudo para, pouco a pouco, tirar a cegueira dos discípulos. A visão clara que se
tem de Jesus não vem de uma só vez. Mas, aos poucos, com a ajuda de Jesus, vamos
vendo com mais clareza e com maior nitidez quem é Jesus e o que significa
seguir a este Jesus neste mundo. A fé também faz ver o caminho que Jesus
trilhou e que devemos trilhar. Assim a seção começa e termina com a cura de um
cego (8,22-26; 10,46-52). E essas duas curas têm uma função simbólica: para
mostrar a cegueira dos discípulos. Elas também lembram o leitor de que é Jesus
quem faz possível a fé daqueles que acreditam nele e O seguem no caminho.
No evangelho do dia anterior (Mc
10,17-27) o jovem rico recusou o convite de Jesus para que ele vendesse tudo
que tinha para depois dar tudo aos pobres. Em vez de seguir a Jesus, Àquele que
tem “as palavras da vida eterna” (Jo 6,68b), o jovem rico foi embora triste
porque tinha muitos bens e não quis partilhá-los nem com os necessitados
(pobres). Depois que ele foi embora, Jesus pronunciou esta frase para os
discípulos: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais
fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino
de Deus!”.
Os discípulos ficaram espantados
diante da afirmação de Jesus. Para os discípulos seguir a Jesus significa
enriquecer-se de bens materiais. Por isso ficaram assustados com as palavras de
Jesus: “Então, quem pode ser salvo?” (Mc 10,26). Ao que Jesus respondeu: “Aos
homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível” (Mc
10,27). Para Jesus o caminho da vida consiste em enriquecer-se diante de Deus. só
quem sabe perder a vida neste mundo por causa do evangelho vai recuperá-la na
vida eterna. Salvar-se não está nas mãos do homem, mas é um dom gratuito de
Deus e não pode merecer-se. Somente quando for acolhido o evangelho e viver-se
na graça é que conduz a pessoa à vida eterna. Trata-se de uma vida sustentada
pela força de Deus.
Ao ouvir a afirmação de Jesus,
Pedro também perguntou a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”.
E o evangelista Mateus explicita ou acrescenta a seguinte frase: “O que é que
vamos receber?” (Mt 19,27). Pedro já abandonou tudo, desapegou-se de tudo para
se aderir a Jesus e quer saber de Jesus qual será a recompensa do seguimento.
O que é que tem no fundo ou por trás
da frase de Pedro? Está seu conceito político e interesseiro do Messianismo. Os
discípulos buscam postos de honra, recompensas humanas, soluções econômicas e
políticas. Eles querem transformar Jesus em empresário para resolver sua
carência econômica.
Jesus, com sua paciência, continua
educando os discípulos e lhes garante: “Em verdade vos digo, quem tiver
deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do
Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs,
mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”.
A afirmação de Jesus vale para qualquer pessoa que se adere a Jesus e que se
dedica à propagação do evangelho de Jesus. Jesus assegura que no Reino ou na
nova sociedade, na nova família não haverá miséria, pois vivem na partilha, na
solidariedade, na compaixão, na fraternidade. Nessa nova família não haverá domínio,
nem desigualdade nem superioridade nem poder. Por isso, na segunda afirmação de
Jesus a palavra “pai” não se menciona que é símbolo do poder ou de autoridade. Em
Mateus podemos entender o sentido dessa afirmação quando Jesus disse: “Quanto
a vós, não permitais que vos chamem ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre e todos
vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois um só é o vosso Pai, o
celeste” (Mt 23,8-9). Chamar Deus de Pai leva a pessoa a viver a
fraternidade na convivência com os demais, pois todos são filhos e filhas de
Deus (cf. 1Jo 3,1-2).
Necessitamos dos bens materiais
como meio na nossa vida, pois uma pessoa pode rezar ou meditar durante horas,
mas no fim ela precisará dum pedaço de pão e dum copo de água. Mas reparamos
que os bens materiais sempre são alheios a nós. Eles nunca serão nossos amigos.
A vida feliz está na partilha, na solidariedade, na fraternidade, na compaixão,
no amor mútuo, na caridade e assim por diante. A partilha é a alma do projeto
de Jesus Cristo. Ele nos chama para segui-lo nessa direção. No evangelho de
Marcos Jesus e seu Espírito vão ajudando os discípulos para que cheguem à
maturidade de sua fé. Somente depois da ressurreição (Páscoa) eles vão se
entregar também gratuito e generosamente ao serviço de Jesus Cristo e da
comunidade até sua morte, pois eles captaram o sentido da mensagem de Jesus.
A resposta de Jesus diante da
pergunta de Pedro é esperançosa e misteriosa, ao mesmo tempo: “Em verdade
vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por
causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Não se trata de quantidades
aritméticas (cem vezes). A resposta se refere à nova família que se cria em
torno de Jesus: deixamos um irmão e encontramos cem irmãos (irmãs). O laço
desta nova família está na prática da vontade de Deus que consiste na prática
do bem e na vivência do amor fraterno: “Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu
irmão, irmã e mãe” (Mc 3,35).
Quantos irmãos e irmãs leigos,
quantos pastores, quantos médicos e enfermeiros sem fronteiras e as demais
pessoas de boa vontade que entregam sua melhor força e tempo para trabalhar
pelo bem dos irmãos da comunidade e fora da comunidade e para ajudar os
sofredores em todos os sentidos! Quantos sacerdotes, quantos religiosos e
religiosas, quantas pessoas consagradas que não formaram a própria família, mas
não por isso que deixaram de amar. Ao contrário, eles estão plenamente
disponíveis para todos, movidos de um amor universal. Todos esses irmãos e
irmãs são reflexos da generosidade de Jesus Cristo neste mundo. Jesus está
presente nesses irmãos e irmãs, se quisermos perguntar onde está Jesus Cristo
(cf. Mt 25,31-46). Jesus promete já desde agora uma grande satisfação e promete
a vida eterna: “receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Mas o verdadeiro amor supõe
sacrifício, cruz e perseguição, porém, vale a pena! A Páscoa salvadora passa
pelo caminho da Cruz da Sexta-Feira Santa. A vida do cristão não termina na
Sexta-Feira Santa. Ela termina na ressurreição. A força da ressurreição dá força
e anima o cristão para encarar a cruz da Sexta-Feira Santa. Jesus nos mostrou
isso.
P. Vitus Gustama,svd
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