SER VERDADEIRO MENSAGEIRO
DO SENHOR
Quinta-feira da IV Semana do Tempo Comum
06 de Fevereiro de 2014
1Aproximando-se o fim da sua vida, Davi deu estas instruções a seu filho Salomão: 2“Vou seguir o caminho de todos os mortais. Sê corajoso e porta-te como um homem. 3Observa os preceitos do Senhor, teu Deus, andando em seus caminhos, observando seus estatutos, seus mandamentos, seus preceitos e seus ensinamentos, como estão escritos na lei de Moisés. E assim serás bem-sucedido em tudo o que fizeres e em todos os teus projetos. 4Então o Senhor cumprirá a promessa que me fez, dizendo: ‘Se teus filhos conservarem uma boa conduta, caminhando com lealdade diante de mim, com todo o seu coração e com toda a sua alma, jamais te faltará um sucessor no trono de Israel”’. 10E Davi adormeceu com seus pais e foi sepultado na cidade de Davi. 11O tempo que Davi reinou em Israel foi de quarenta anos: sete anos em Hebron e trinta e três em Jerusalém. 12Salomão sucedeu no trono a seu pai Davi e seu reino ficou solidamente estabelecido.
Evangelho:
Mc 6,7-13
Naquele
tempo, 7Jesus chamou os doze e começou a enviá-los dois a dois,
dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8Recomendou-lhes que
não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem
dinheiro na cintura. 9Mandou que andassem de sandálias e que não
levassem duas túnicas. 10E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa
casa, ficai ali até vossa partida. 11Se em algum lugar não vos
receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés,
como testemunho contra eles!” 12Então os doze partiram e pregaram
que todos se convertessem. 13Expulsavam muitos demônios e curavam
numerosos doentes, ungindo-os com óleo.
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O evangelho nos fala do envio dos
discípulos para a missão. Eles já têm acompanhado Jesus durante um período
relativamente longo. Eles têm escutado os ensinamentos de Jesus em parábolas e
suas explicações complementares. Têm presenciado seus milagres. Agora eles
devem empreender a segunda fase do programa, pregando a conversão e dando a
conhecer a oferta divina de salvação.
“Jesus
chamou os doze e começou a enviá-los...”
Esta é a primeira vez que os Doze vão
se encontrar sós, sem Jesus, longe dele. É o tempo da Igreja. É o tempo da prática.
Durante os cinco primeiros capítulos
de seu relato, o evangelista Marcos nos apresentou Jesus com seus
discípulos, com muita insistência, diante da multidão e dos adversários. No
momento de sua vocação (Mc 3,13-14), o evangelista Marcos havia dito: “Jesus
constituiu Doze para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar...”.
É igual ao movimento do coração: diástole,
sístole... O sangue vem ao coração e do coração é enviado ao organismo. Dessa maneira
é que o organismo pode se manter. É o mesmo movimento do apostolado: viver com
Cristo, ir ao mundo para levar o Cristo; intimidade com Deus, presença no mundo
com o espírito de Deus. Quem não vive, primeiro, com Cristo, não pode ser um
bom missionário, não pode ser um cristão crível no mundo. Um cristão tem que
animar tudo com espírito de Cristo.
O texto procura mostrar como deve
agir o seguidor de Jesus e o que vai acontecer com ele se sair pelo mundo para
pregar o Evangelho. Tudo isto se resume numa só idéia: o seguidor deve agir
como o Mestre Jesus agiu. O que aconteceu com o Mestre vai acontecer também com
o discípulo, pois o discípulo não é maior do que o próprio Mestre (Mt 10,24).
No Evangelho de hoje Jesus anuncia
alguns pontos fundamentais para o discípulo/seguidor realizar a missão:
Em
primeiro lugar, o texto diz que Jesus envia os discípulos dois a dois.
“Dois a dois” indica que a missão é um serviço comunitário e os cristãos devem
ajudar-se mutuamente em suas atividades; não é um trabalho de promoção pessoal;
é um trabalho de conjunto ou coletivo. “Ir dois a dois” implica também a
afirmação da igualdade e exclui a subordinação de um ao outro (cf. Dt 19,15).
Quem vive o Evangelho do Senhor deve estar em sintonia com os irmãos da sua
comunidade.
“Jesus começou a enviá-los dois
a dois...” Independentemente das razoes bíblicas esta expressão é muito moderna e
avançada. Na Igreja de Jesus não se trabalha só e sim em equipe. É a vontade
explicita de Cristo. A atitude de quem trabalha na Igreja, na comunidade eclesial
deve ser interrogada a partir daqui. O individualismo tem formas muito sutis: não
gostamos que os nossos irmãos controlem nossos próprios comportamentos apostólicos
e outros comportamentos; cada um quer ser uma estrela solitária a ponto de
apagar o brilho do outro; nada se discuta, cada um vai fazer as coisas do jeito
que quer. O pior é que o Cristo fica de lado ou de costas para a pessoa em questão
estar em destaque.
Em segundo
lugar,
Jesus deu aos doze o poder messiânico de Cristo contra as forças do mal, ou
seja, a autoridade para libertar as pessoas de tudo aquilo que aliena, oprime e
despersonaliza as pessoas. O evangelista Marcos resume o poder dos enviados em três
palavras: o carisma da “palavra” que proclama a necessidade de mudança de vida;
o carisma de expulsar demônios, isto é, o poder contra o mal; e o carisma de “curar
os enfermos”, isto é, melhorar a vida humana na sua qualidade.
Eles são enviados com autoridade
sobre os espíritos imundos, para dominá-los e não para dominar os outros irmãos. O cristão tem o poder de tirar esse mal, pois
o Senhor Jesus lho deu. A primeira tarefa de cada cristão consiste em tirar o
mal que está no meio das comunidades, no meio da própria família, de dentro do
próprio coração. Quem é livre pode libertar os outros. O enviado de Jesus, cada
cristão deve instaurar um mundo mais justo e fraterno; deve melhorar a vida
humana.
Em
terceiro lugar, Jesus exige dos doze um modo de vida baseada num
desprendimento absoluto dos bens materiais (vv.8-9). Jesus pede que os discípulos
vivam um estilo de austeridade e a pobreza evangélica de modo que não se ponham
ênfase nos meios humanos: econômicos ou técnicos e sim na força de Deus que ele
lhes transmite. Deus não se serve de anjos nem de revelações diretas. É a
Igreja, ou seja, os cristãos que continuam e visibilizam a obra salvadora de
Cristo e o modo de vida do cristão deve ser reflexo do de Cristo. A linguagem
que o mundo de hoje facilmente entende: austeridade e o desinteresse na hora de
fazer o bem: o cristão deve fazer o bem pelo bem e não por algum interesse por
trás. É claro que necessitamos os meios que fazem parte da evangelização, porém
jamais podemos nos deixar de nos apoiar na graça de Deus e na nossa fé sem
buscar seguranças e prestígios humanos.
Trata-se de uma pobreza voluntária,
porque somente assim eles poderiam ser considerados como fidedignos. Jesus
enfatiza mais o ser dos discípulos do que o seu ter. Jesus não despreza os bens
deste mundo, não apresenta a miséria como um ideal de vida, mas alerta para o
perigo de nos deixarmos condicionar pela posse de bens materiais. A porta da
morte é tão estreita que somente passa aquilo que é a bagagem de amor na
condivisão dos bens materiais com os irmãos e irmãs que não têm nada para sua
vida.
O desapego a tudo não implica
somente a renúncia a uma carga pesada de bens materiais, mas também o abandono
de preconceitos, de tradições, de idéias retrógradas, às quais muitas vezes
estamos amarrados de uma forma emocional e irracional. Referimo-nos ao pesado
ônus representado por certos usos, por certos costumes, por certas tradições
religiosas embutidas em determinado ambiente histórico e cultural, que muitos,
confundem ou equiparam com os valores do Evangelho. Não podemos acumular “bastões”,
“dinheiro”, “sandálias” e “túnicas”.
Em quarto
lugar,
Jesus envia os doze para pregar a mudança de vida (conversão) para si e para os
outros (v.12). Para Jesus, a conversão é condição sine qua non para
construir uma sociedade nova ou Reino de Deus (Mc 1,15). A conversão sempre
envolve movimento de uma dimensão para outra. E isso envolve a pessoa toda, não
apenas seu senso moral, sua capacidade intelectual ou sua vida espiritual.
Corpo, mente e alma juntos são afetados pelo ato da conversão, e as
conseqüências são sentidas em todos os aspectos da vida da pessoa, inclusive
nos campos social e político.
Em quinto
lugar,
a outra instrução de Jesus prevê uma atitude de bom senso e formação de
comunidade: “Quando vocês entrarem numa
casa, fiquem aí até partirem” (v.10).
É interessante observar que não se
fala para os discípulos irem às sinagogas, instituição judaica, o que seria
contrario à finalidade do envio. Menciona-se somente “o lugar” e “a casa/ família”
que podem encontra-se em qualquer país. Hão de aceitar a hospitalidade que a
eles é oferecida, sem mudar de casa, para não desprezar a boa vontade do povo
nem afrontar a hospitalidade oferecida. Os discípulos devem aceitar o que a
eles são oferecidos sem mostrar reações ao uso do lugar.
“Quando
vocês entrarem numa casa, fiquem aí até partirem” (v.10). Isto não indica a plena
estabilidade para os discípulos, mas um local onde, com a sua partida, a
comunidade possa continuar a se reunir e dar prosseguimento à Boa Nova do reino.
Os cristãos devem ensinar os outros a assumirem o compromisso, a andarem com as
próprias pernas.
Para os Doze, o novo Israel, esta instrução
implica uma mudança radical de mentalidade: entrar em casa de pagãos,
desprezados pelos judeus, e depender deles para a sobrevivência. Jesus pretende
que os discípulos esqueçam sua identidade judaica para colocar-se no plano da
humanidade. É preciso viver a humanidade para se tornar humano para os outros.
À luz do Evangelho de hoje
procuremos nos perguntar: será que somos meros espectadores e admiradores de
Jesus ou somos seus seguidores? O que pode estar tornando menos convidativo e
pouco crível a nossa mensagem? Qual é o testemunho que devemos dar para que os
outros acreditem na nossa mensagem? É impossível ser um verdadeiro cristão sem
estar com Cristo antes.
P. Vitus Gustama,svd
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