sábado, 15 de fevereiro de 2014

 
LER SINAIS E SER SINAL DE DEUS
 
Segunda-Feira da VI Semana Do Tempo Comum
17 de Fevereiro de 2014
 
 
 Primeira Leitura: Tg 1,1-11


1Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que vivem na dispersão: Saudações. 2Meus irmãos, quando deveis passar por diversas provações, considerai isso motivo de grande alegria, 3por saberdes que a comprovação da fé produz em vós a perseverança. 4Mas é preciso que a perseverança gere uma obra de perfeição, para que vos torneis perfeitos e íntegros, sem falta ou deficiência alguma. 5Se a alguém de vós falta sabedoria, peça-a a Deus, que a concede generosamente a todos, sem impor condições; e ela lhe será dada. 6Mas peça com fé, sem duvidar, porque aquele que duvida é semelhante a uma onda do mar, impelida e agitada pelo vento. 7Não pense tal pessoa que receberá alguma coisa do Senhor: 8o homem de duas almas é inconstante em todos os seus caminhos. 9O irmão humilde pode ufanar-se de sua exaltação, 10mas o rico deve gloriar-se de sua humilhação. Pois há de passar como a flor da erva. 11Com efeito, basta que surja o sol com o seu calor, logo seca a erva, cai a sua flor, e desaparece a beleza do seu aspecto. Assim também acabará por murchar o rico no meio de seus negócios.


Evangelho: Mc 8,11-13

 
Naquele tempo:  11Os fariseus vieram e começaram a discutir com Jesus. E, para pô-lo à prova, pediam-lhe um sinal do céu. 12Suspirando profundamente em seu espírito  ele disse: “Por que esta geração procura um sinal? Em verdade vos digo, a esta geração nenhum sinal será dado”. 13E, deixando-os, Jesus entrou de novo na barca e se dirigiu para a outra margem.
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Jesus entra novamente na controvérsia com os fariseus. Os fariseus não querem abrir os olhos, muito menos o coração para reconhecer as obras de Jesus pelo bem da humanidade. A arrogância impede os fariseus de reconhecerem a bondade praticada por Jesus. A arrogância é como o mau hálito: todos o percebem, exceto quem dele padece. Os fariseus se preocupam com o próprio prestigio e poder. Por isso, eles sempre querem derrubar Jesus de qualquer modo, pois não admitem a existência de rivais. No evangelho de hoje “Para pôr Jesus à prova os fariseus pediam-lhe um sinal do céu”.


Segundo os fariseus, Jesus deve oferecer provas de suas pretensões de ser profeta esperado ou de um Messias sonhado. Quando reclamaram um sinal do céu, os fariseus exigiam que Deus desse diretamente uma prova da messianidade de Jesus. Tudo isso quer mostrar, na verdade, a incredulidade dos fariseus. Na verdade Jesus já lhes tinha dado um sinal ao expulsar demônios (Mc 3,23), e suas obras mostravam que nele se cumpriu aquilo que foi anunciado pelo profeta Isaias: os paralíticos, os surdos, e os mudos são curados e os mortos ressuscitam (Is 35,5-6).


Diante da incredulidade dos fariseus Jesus fica indignado. Para falar desta indignação, Mc usa a seguinte expressão: “Suspirando profundamente em seu espírito, Jesus disse: ‘Por que esta geração procura um sinal? ’” (Mc 8,12). “Suspirando profundamente” expressa uma grande pena e tristeza de Jesus. É a contrariedade baseada no dom do Espírito que o une a Deus (cf. Mc 7,34).


Jesus também usa a expressão “Esta geração”. No NT a expressão “esta geração” denota sempre um juízo negativo (Mc 8,38; 9,19; Mt 12, 39-45; 16,4, 17,17; Lc 9,41; 11,29; Fl 2,15).  No AT a palavra “esta geração” é um termo de condenação que faz a alusão à “geração do deserto” que contestou Deus, que pus Deus à prova reclamando sempre novas provas ou mostras do poder divino (cf. Ex 15,22-17,7; Sl 95,9-10). O poder de Deus não se manifesta através do exibicionismo, e sim através da simplicidade. E a simplicidade não faz nenhum barulho. Para Deus tudo é simples e para o simples tudo é divino.


“Em verdade vos digo, a esta geração nenhum sinal será dado”. É a primeira vez que Jesus é tão duro. Na expressão “Em verdade” ou “eu asseguro”  escuta-se a voz do juiz que condena.


Jesus sempre recusa sinais que possam ser interpretados apenas como atos exibicionistas (cf. Mc 4,5-7 e Lc 4,9-12). Os atos exibicionistas são pedidos por quem não tem fé (cf. Mc 3,22-30).


Quando buscamos ou damos outro sinal, como os fariseus, é prova de que vivemos ainda na imaturidade da fé ou na incredulidade, pois ainda precisamos de muletas para poder nos mover. Os milagres são um presente que Deus nos faz e não se podem converter em uma manipulação dos demais. Jesus quer que nós mesmos sejamos esse sinal através das boas obras que fazemos. As boas obras que fazemos são provas de nossa união com Cristo e por isso, elas sempre apontam para Cristo, pois fazemos tudo no espírito do Senhor. Os milagres supõem uma fé básica. Mas nossa verdadeira fé não depende de milagres, pois sabemos que Deus nos ama e cremos no Seu amor. A consciência plena do amor de Deus por nós é o grande milagre para nossa vida diariamente. O amor nos tranqüiliza, nos serena e nos faz crescer como filhos e filhas de Deus e nos faz mais humanos e irmãos.


Os fariseus pedem a Jesus um sinal ou uma prova do céu para comprovar a Sua messianidade, esquecendo-se da prova que está tão perto deles: o próprio Jesus. É preciso nós dirigirmos nosso olhar para duas direções: para o céu e para a terra, simultaneamente. Olhar para o céu é olhar para Deus, origem de todas as coisas; é reconhecer nele a fonte de onde saiu tudo de bom para o mundo: “Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. Nele havia vida e a vida era a luz dos homens” (Jo 1,3-4). Olhar para a terra é olhar para a obra de Deus. Antes de qualquer um ter nascido, já tinha tudo na terra e no universo. Vivemos, realmente, no mundo de gratuidade e por isso, no mundo do amor divino. Justamente, a maior prova de que Deus nos ama consiste em que, sendo nós pecadores, nos enviou seu próprio Filho (Jo 3,16) que entregou sua vida para nos libertar da morte e da escravidão do pecado. Deus nos ama. Deus é o Deus-Conosco (Mt 1,23;18,20;28,20). Deus não somente se fez próximo de nós em Jesus Cristo, mas ele fez sua morada em nós mesmos ao vivermos seus mandamentos, resumidos no amor fraterno (Jo 14,23; 1,14; cf. Jo 13,35; 15,12).


Por isso, Jesus é o próprio retrato de Deus, pois ele ama até o fim (Jo 13,1), ele perdoa, ele faz todo mundo irmão, ele ressuscita, ele entrega sua vida para o bem de todos. Se Jesus é o próprio retrato de Deus, cada cristão deve ser o próprio retrato de Jesus Cristo. O cristão, através de seu modo de viver deve ser sinal ou reflexo de Deus no mundo (Cf. Mt 5,14-16). Deus se reconhece na vida do homem, pois o homem é a imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). A vida do cristão deve brilhar de tal modo que os outros percebam algo de Deus nele.


Em outras palavras podemos dizer que a prova maior de que Deus nos ama consiste em que, sendo pecadores, Ele nos enviou Seu próprio Filho, o qual entregou Sua vida para nos libertar da morte e da escravidão do pecado. Isto é o que celebramos na Eucaristia. Deus nos ama. Deus é o Deus-Conosco. Deus não somente é próximo de nós e sim fez Sua morada em nós. Apesar disso, nossa vida de cristãos constantemente está submetida a uma serie de tentações que só poderemos superá-las permanecendo no Senhor (cf. Jo 15,5) para que o mal não nos domine. Sabemos que nunca conhecemos Deus se não combatermos o mal, mesmo ao preço de nossas vidas. Quanto mais tentarmos nos purificar, mais nos aproximaremos de Deus” (Mahatma Gandhi).


Em outras palavras, nós precisamos estar conscientes de que, apesar de o Senhor habitar em nós e caminhar conosco, as provas jamais desaparecerão de nossa vida como aconteceu com o nosso Senhor, Jesus Cristo. O próprio Jesus foi tentado até a morte, como foi tentado também no evangelho deste dia. Ser tentado é ser predileto de Deus, pois é sinal de que alguém está caminhando com o Senhor. Nossa vida está submetida a uma série de tentações que, ao serem vencidas pela força do Espírito Santo, nos tornaremos mais maduros na fé e mais humanos na convivência fraterna. Por isso, é preciso que abramos nosso coração à Sabedoria de Deus para que, na nossa atuação como filhos e filhas de Deus, sejamos guiados pelos critérios do bem, do amor, da verdade, da solidariedade, da justiça, da honestidade e assim por diante. Nossa fé não pode ser movida por qualquer vento.

P. Vitus Gustama,svd

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