PRATICAR O BEM É ESTAR COM DEUS
Quarta-feira da VII Semana Do Tempo Comum
26 de Fevereiro de 2014
Caríssimos, 13 e agora, vós que dizeis: “Hoje ou amanhã iremos a tal cidade, passaremos ali um ano, negociando e ganhando dinheiro”. 14 No entanto, não sabeis nem mesmo o que será da vossa vida amanhã! Com efeito, não passais de uma neblina que se vê por um instante e logo desaparece. 15 Em vez de dizer: “Se o Senhor quiser, estaremos vivos e faremos isto ou aquilo”, 16 vós vos gloriais de vossas fanfarronadas. Ora, toda a arrogância deste tipo é um mal. 17 Assim, aquele que sabe fazer o bem e não o faz incorre em pecado.
Evangelho:
Mc 9,38-40
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Faça todo o bem que
puder.
Por todos os meios que
puder
De todas as maneiras
que puder
Em todos os lugares
que puder
Em todas as ocasiões
que puder
Por todas as pessoas
que puder
Por tanto tempo que
puder
A bondade é o único
investimento que nunca falha.
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Jesus continua ensinando seus discípulos.
Desta vez Ele lhes ensina que não têm que ser pessoas zelosas nem cair na tentação
do ponopólio de nada. Os discípulos pecam muitas vezes na impaciência e no
zelo. Queriam arrancar logo o joio do campo. Desejam que caia a chuva de fogo
do céu sobre o povo que não quer acolhê-los. Com muita paciência e com um coração generoso Jesus vais
instruindo seus discípulos.
“Mestre, vimos um homem que não nos segue, expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque não nos seguia”, são palavras de João, um dos discípulos de Jesus, no texto do evangelho de hoje.
É um tema muito atual e sempre
atual. Este tema nos convida a olharmos para além dos confins da comunidade
cristã, da Igreja e perceberemos que há muita gente que faz o bem
independentemente de pertencer ou não a uma crença, a uma Igreja ou a uma
religião. Fazer o bem não é exclusividade dos que pertencem a uma religião.
Quem sabe, os que não pertencem a uma Igreja ou a uma religião fazem muito mais
o bem do que os que se dizem crentes. Precisamos tomar parte dos que praticam o
bem, pois eles são reflexos do Bem Maior que é o próprio Deus (cf. Mt 25,40.45).
Quando está em jogo o bem, o primeiro dever daqueles que têm “poder” na
comunidade ou dos que simplesmente pertencem à comunidade é não impedir o bem,
mas ser parceiro do bem ou dos que o praticam. Ninguém pode ficar alheio do bem
ou aleijado do bem, muito menos ser inimigo do bem. Não podemos odiar quem
pratica o bem nem os que não o praticam. É preciso sermos parceiros do bem, da
verdade, da solidariedade, da bondade, da compaixão, da caridade e dos demais
valores semelhantes. Temos que ser educados ou instruídos no bem e temos que
desistir da inveja diante de quem pratica o bem.
A reação de João, que é um dos
discípulos de Jesus, é uma reação de domínio, uma vontade de poder, uma
preocupação de conservar um monopólio. Anteriormente, os discípulos foram
enviados por Jesus a pregar e a expulsar demônios (Mc 6,7-13). João quer guardar para si só, monopolizar
para o grupo dos Doze o poder de Cristo. É uma das tentações “dos bons”:
monopolizar Deus, monopolizar seus dons e seus bens, sentir ciúmes porque os
outros fazem algo melhor. João quer ver a atuação do Espírito de Deus
enquadrado em um grupo definido para evitar a perda de prestigio, de poder e de
influência.
Jesus rejeita esta tendência de
monopólio ou a de exclusivismo: “Não o impeçais, pois não há ninguém que faça milagre em meu nome e logo
depois possa falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós”,
responde Jesus a João. Para Jesus o bem não tem fronteiras, nem religiosas nem
sagradas nem denominacionais nem ideológicas.
Quem não atua como inimigo da comunidade
na qual vive Jesus já é, em certo sentido, parte da comunidade. Se alguém, que
não é cristão, faz o bem invocando o nome de Jesus, isto significa que Jesus já
está atuando nele e que um dia o unirá também visivelmente à sua comunidade
(cf. Mt 25,34-40). Jesus não é monopólio da comunidade e sim construtor da
comunidade mediante o Espírito e para fazer isto tem que atuar também fora
dela. Temos que descobrir a presença de Jesus também fora da Igreja através do
bem que as pessoas praticam.
“Ninguém faz milagres
em meu nome para depois falar mal de mim”, disse Jesus. Homem nenhum tem o direito de encurtar a mão de Deus e de
projetar como instrumento exclusivo dele. Não somos os únicos bons. Não somos
donos do Espírito de Deus. Quem é de Deus reconhece o que é divino no outro.
Todos os homens de boa vontade, os que querem salvar a humanidade, embora não
pisem nossos templos ou igrejas, são de Deus porque eles fazem aquilo que tem a
marca divina: a bondade e o amor. Todos aqueles que amam seu próximo e lutam
por um mundo melhor e mais fraterno e pelos direitos dos homens, especialmente
pelos menos favorecidos fazem parte da família de Deus embora não pertençam a
nenhuma Igreja e religião. Quem é de Deus é identificado não pela sua pertença
religiosa, mas pelo modo de viver, pelas suas opções diárias. Mas quem pertence
a uma Igreja ou a uma religião tem obrigação maior de fazer o bem. Se não fizer
o bem, estará contra a própria Igreja ou a própria religião.
Quem de nós não teve alguma vez o
sectarismo de grupo ou monopólio de grupo? Muitas vezes usamos a capa da
solidariedade, da defesa pelo bem comum, mas escondemos nossos próprios
interesses? Quem de nós não teve alguma resistência diante de uma capacidade
dos outros, só porque não gostou deles? Não exageramos algumas vezes nossa
tendência de monopolizar a verdade, o poder ou a razão?
A partir do ensinamento de Jesus no
evangelho de hoje, nós devemos saber aceitar a parte ou a total razão dos
outros, reconhecer seus valores, admitir que os outros possam e podem atuar de
acordo com o Espírito de Deus. O Espírito de Deus não é propriedade de nenhum
grupo, de nenhuma estrutura. Ele sopra para onde e por quem quer. Precisamos
ter discernimento para ler as marcas onde o Espírito de Deus passa. Hoje em dia
convivemos como vizinhos próximos de outras religiões e crenças. O Espírito
ecumênico de Jesus deve nos levar a aceitarmos e reconhecermos com gozo a
presença de Deus que atua em todos os povos. “Quem não é contra nós é a
nosso favor”. O bem praticado nos faz mais humanos, mais irmãos, mais próximos, mais
solidários e consequentemente, mais divinos, pois praticar o bem nos identifica
com o Bem Maior que é o próprio Deus. “O defeito
moral não se define pelo mal que se isenta, mas pelo bem que se abandona”
(Santo Agostinho: De civ. Dei. 2,8).
"Todo homem é culpado por todo
bem que ele não fez” dizia o filósofo Voltaire.
P. Vitus Gustama,svd
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