É PRECISO FICAR ATENTO,
POIS DEUS SE MANIFESTA NO COTIDIANO
Sexta-Feira da XVII Semana
Comum
01 de Agosto de 2014
Evangelho: Mt 13, 54-58
Naquele tempo, 54 dirigindo-se para a sua
terra, Jesus ensinava na sinagoga, de modo que ficavam admirados. E diziam: “De
onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres? 55 Não é ele o filho do
carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José,
Simão e Judas? 56 E suas irmãs não moram
conosco? Então, de onde lhe vem tudo isso?” 57 E ficaram escandalizados
por causa dele. Jesus, porém, disse: “Um profeta só não é estimado em sua
própria pátria e em sua família!” 58 E Jesus não fez ali
muitos milagres, porque eles não tinham fé.
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“‘Não é ele o filho do carpinteiro?
Sua mãe não se chama Maria... Então, de onde lhe vem tudo isso?’. E ficaram
escandalizados por causa dele”.
Os conterrâneos de Jesus, os
nazarenos, acham conhecer Jesus, mas na verdade eles não O conhecem na sua
profundidade. Não há nada que seja tão perigoso do que a pretensão de saber de
tudo. Uma pessoa que tem essa pretensão se fecha em si mesma e deixa de
aprender. A humildade sempre nos move a aprender mais para poder partilhar com
os demais. “Você sabe? Então, ensine. Você não sabe, então, aprenda”, dizia
Confúcio que viver quinhentos anos antes de Cristo. Para ter resultados extraordinários
precisamos ter humildade para aprender. A falta da humildade impede alguém de
aprender mais e de continuar a crescer e impede alguém de ser irmão do outro. A
pessoa que se fecha em si se torna conservadora. Todo conservador não tem
futuro, pois não aceita qualquer novidade. Ela acha que não tenha mais nada
para aprender. Certamente essas pessoas são os familiares de Jesus; são os mais
próximos de Jesus.
Tenho medo de que essas pessoas
sejamos nós também. Nós que achamos seguidores de Jesus, freqüentadores de
cultos ou celebrações, mas não queremos andar ou caminhar atrás de Jesus para
segui-Lo. A palavra “seguir” supõe movimento, dinâmica, peregrinação. O
verdadeiro seguidor é aquele que sempre olha para aquilo que seu Mestre faz, e
escuta aquilo que o Mestre diz e ensina. O verdadeiro seguidor é aquele que
mantém a mente e coração abertos, disponíveis, e prestes a renunciar tudo para
aprender além do que já sabe ou supostamente sabe. Só seguindo atrás de Jesus é
que poderemos ver muito mais coisas na vida e entenderemos o significado de
cada coisa e acontecimento. Quem vive dentro de quatro paredes vê sempre as
mesmas coisas e por isso, não há surpresa nem novidade. Ao sair do quatro para
ir à rua, começam as surpresas para sua vida.
“Não é ele o filho do
carpinteiro?”.
Os nazarenos reprovam a origem
humilde de Jesus. Para eles, Jesus é nada mais do que um simples filho de um carpinteiro.
Por ser filho de um carpinteiro, as palavras de Jesus não valem para eles
embora nelas se encontrem toda a verdade. É preciso sabermos distinguir quem
fala e o que se fala. Se na fala de alguém, mesmo que não gostamos dele, contém
verdade, temos que aceitar essa verdade. Jesus nos deu o seguinte critério: “Observai
e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois dizem e não fazem”
(Mt 23,3). Não podemos estar do lado de ninguém e sim do lado da verdade e do
amor. Os nazarenos esperam um Messias cheio de glória e poder; um messias
misterioso, celestial e transcendente. Mas Deus não encaixa em nossas idéias
estereotipadas. Deus cabe no nosso coração, mas não cabe na nossa cabeça, pois
o coração sente aquilo que os olhos não vêem. O coração compreende quando a
mente se tranqüiliza. Além disso, é preciso que ouçamos aquilo que alguém diz e
não para aquele que o diz.
Os nazarenos preferem a imagem de
Deus que eles têm na cabeça ao próprio Deus. Para eles, Jesus é cotidiano
demais para ser Deus. Este é o maior perigo para qualquer adepto de qualquer
religião ou Igreja: identificar a imagem que tem de Deus com o próprio Deus.
Por isso, vale a pena cada um fazer esta pergunta: “A imagem de Deus que você
tem será que é o próprio Deus?”. Muitas vezes abandonamos o próprio Deus para
ficar com a imagem que achamos que seja Deus. Muitas vezes condenamos os outros
a partir da imagem de Deus que temos. Quem sabe que os que se acham crédulos
são muito mais incrédulos como os próprios conterrâneos de Jesus.
“Um profeta só não é estimado em sua própria
pátria e em sua família!”. E Jesus não fez ali muitos
milagres, porque eles não tinham fé.
As pessoas da cidade de Jesus
(vilarejo de Nazaré), do lugar de seu trabalho não se dispõem de tempo para
meditar se ali há um Profeta ou mais que um Profeta. Basta-lhes a vida
rotineira. Falta-lhes a fome da verdade. Falta-lhes o discernimento. Falta-lhes
a reflexão sobre a realidade. Deus se manifesta no nosso cotidiano sem espetáculo,
como o vento que ao vemos, mas sentimos o efeito de sua presença ou de sua
passagem. E a novidade do Reino trazida por Jesus suscita neles apenas dúvidas,
suspeitas e gozação. É o grande desafio da própria encarnação. É o grande
mistério da fé. A fé somente floresce em campos fecundos que se deixam regar
com chuva do céu. Os mistérios de Deus somente são compreendidos com coração,
pois o coração sente aquilo que a inteligência desconhece.
Ao longo da história tem tido muitas
pessoas inspiradas por Deus para denunciar situações injustas e más condutas.
Algumas são conhecidas. Mas há muitíssimos profetas anônimos, gente que se
atreve a denunciar o que é injusto e desonesto. Muitos desses profetas pagam
com a própria vida pela denúncia feita, pois os que defendem os próprios
interesses, e não os interesses comuns não têm piedade de eliminar quem os
denuncia.
Uma das funções como batizados é a
função profética: anunciar o bem e denunciar o mal. Um batizado não pode ficar
em silêncio diante da desonestidade e da injustiça. O silêncio nos faz
cúmplices. Somos chamados a ser profetas na nossa atualidade.
Não somente somos chamados a
denunciar, mas também a ouvir os que denunciam. Quem sabe que dentro dessa
denúncia estamos nós também, pois muitas vezes nos sentimos tão cômodos em
nossa vidinha tão perfeitamente organizada, em nossas próprias idéias tão
formadas e preestabelecidas, em nossa maneira inflexível de entender as coisas,
em nossa imagem estática de Deus que nos fazem surdos diante do apelo do Espírito
de Deus para fazer e seguir o bem. Se há verdade na denúncia, temos que
agradecer a Deus, pois é um chamado para voltarmos a trilhar o caminho do bem.
Fé é caminhada. Quando ficamos incomodados, paramos de ter fé. É mais cômodo
crer em um Deus todo-poderoso que controla tudo o que ocorre do que em um Deus
que sofre com seus filhos, que é crucificado para salvar os outros filhos de
Deus, e em um Deus que nos criou para que resolvamos as injustiças do mundo. No
ritmo da velocidade do avanço tecnológico precisamos estar atentos para ver e
ouvir o que Deus quer nisto tudo. Não tapemos nossos ouvidos nem fechemos
nossos olhos nem paralisemos nossa mente. Precisamos tempo todo estar atentos ao
que ocorre para que possamos nos posicionar como filhos e filhas de Deus, luz
do mundo e sal da terra. Precisamos ter muita flexibilidade e disponibilidade
para acolher aquilo que Deus nos quer dizer, inclusive através de quem menos
esperamos, pois o Espírito de Deus sopra para onde quer e por quem quer.
Pare e verifique, Deus se manifesta
na nossa vida cotidiana. Pergunte-se: “De que maneira Deus se manifesta a mim
hoje? O que Ele quer me manifestar? Para que Ele se manifesta?”. Estejamos todos
atentos. Em cada momento Deus se manifesta a nós.
P. Vitus Gustama,svd
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