domingo, 27 de julho de 2014

 
LUTAR PARA SER BOM PARA SER SELECIONADO POR DEUS NO FIM DA HISTÓRIA

Quinta-Feira da XVII Semana Comum
31 de Julho de 2014
 

Evangelho: Mt 13, 47-53

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 47 “O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48 Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. 49 Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, 50 e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí, haverá choro e ranger de dentes. 51 Com­preendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”. 52 Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”. 53 Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.
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Estamos ainda no discurso de Jesus sobre o Reino de Deus em parábolas (Mt 13). Desta vez Jesus conta uma parábola sobre a rede na pescaria em que no fim haverá a seleção entre os peixes bons e os peixes que não prestam: “Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam”.


Na vida cotidiana sempre selecionamos e escolhemos o que é bom ou o que é melhor.  Selecionamos boas amizades. Selecionamos algo de bom ou de melhor para comprar, para comer, para morar, selecionamos roupa melhor, e assim por diante. Vivemos selecionando o que é bom ou o que é melhor. O bom ou o melhor é sempre o objeto do apetite ou do desejo do homem, qualquer que seja esse objeto. O ruim é, ao contrário, o objeto de ódio ou de aversão do homem. Mas nem tudo o que desejamos é bom, mas tudo o que é bom sempre desejamos. A bondade atrai, pois ela agrada e edifica. A bondade é a própria perfeição possuída por um ser. Por possuir a bondade, um ser que a tem é capaz de dar a outro a perfeição que lhe falta.


Quando Jesus compara o Reino de Deus a uma rede que é lançada sobre todos, mas que só os peixes bons são selecionados, ele está dizendo que se trata de uma coisa seletiva, em que a bondade é que tem valor e permanece para sempre. A bondade é sinal de amabilidade. Quem ama porque é bom. Quem é bom, ama.  A bondade é algo que em si tem algo divino, pois Deus é a Bondade por excelência. Por isso, a bondade tem uma marca de eternidade.


Os maus, ao contrário, vão fazer parte de outro reino, onde as pessoas somente vão odiar-se, segundo Jesus. A expressão: “Chorar e ranger os dentes” mostra bem como é a pessoa que odeia: vive como que rangendo os dentes. Eternamente infeliz. A frustração definitiva do homem (pranto e ranger de dentes) é perder a vida para sempre. A grande frustração do homem é sua incapacidade de viver na bondade, no bem, na compaixão, na simplicidade, na solidariedade. A bondade atrai. A simplicidade atrai. A arrogância, a prepotência, o orgulho, o complexo de superioridade afasta as pessoas e mata a caridade e a igualdade, elimina a comunhão fraterna e afasta os demais. Qualquer arrogante, prepotente, orgulhoso, ambicioso vive na tremenda solidão. Viver é conviver. Através da convivência saudável é que podemos crescer como seres humanos. Até a própria vulnerabilidade da convivência nos ajuda a crescermos como pessoas saudáveis.


A parábola da rede lida neste dia se refere ao julgamento final. A imagem da pesca ilustra a dinâmica do Reino de Deus feita de perdas e ganhos. Uma vez a rede lançada ao mar, a pescaria já não depende da vontade do pescador. Cada lançada de rede é uma surpresa. A seleção será feita somente no final da pescaria, quando os peixes bons são colocados em cestas, enquanto os maus são jogados fora.


A parábola propõe a todos nós a sorte final, para orientar-nos na decisão presente. Quando soubermos para onde vamos, saberemos também escolher por onde devemos caminhar (saber escolher o caminho). Os únicos que chegam à vida em plenitude, pela misericórdia de Deus, são os que produzem fruto bom nesta vida; são os que em si tem a marca de eternidade como a bondade, o amor, a compaixão, a solidariedade e assim por diante. Tudo que tem algo divino em mim e na minha vivência será reconhecido por Deus (cf. Mt 25,31-46). A sabedoria cristã consiste no discernimento dos verdadeiros valores do Evangelho como amor, partilha, solidariedade, compaixão, perdão, honestidade, justiça, paz etc., e em sua aplicação para as circunstâncias atuais. Há que estabelecer uma escala de valores para que cada cristão possa orientar sua maneira de viver no presente. Os outros valores devem estar subordinados em função dos valores superiores do Reino de Deus.


Mas ao mesmo tempo, esta parábola quer nos recordar que somente Deus tem a competência na seleção entre os bons e os maus no fim de cada história. Cristão nenhum tem condições para classificar quem vai para o céu e quem não vai para lá, pois sua própria salvação ainda não está garantida, pois ele continua sendo pessoa capaz de pecar em qualquer momento. É preciso olharmos para cada ser humano como filho(a) de Deus e nosso irmão. Como dizia Santo Agostinho: “Amando ao próximo tu limpas os olhos para ver a Deus” (In Joan. 17,8). Quanto mais santo for o homem, mais se reconhecerá como pecador. A conversão não é uma carreira acabada. A conversão é diária, pois somos capazes de optar por outros valores em nome de algum interesse não-cristão. Deixemos Deus determinar a qualidade de cada um e não nos arroguemos pelas qualidades que temos, pois tudo de bom em nós tem sua origem no Supremo Bem que é Deus. Tudo de bom em nós deve ser partilhado para com os outros. Fazemos tudo de bom, porque Deus da bondade faz isso. “Faze o que deves fazer. E faze-o bem. Esta é a única norma para alcançar a perfeição”, dizia Santo Agostinho (In ps. 34,2,16). Somos prolongamento da generosidade do Deus-Criador que criou tudo para o bem da humanidade gratuitamente. Temos apenas o direito de usufruto. Esse direito cessará neste mundo cessará quando terminar nossa caminhada na história.


Deus tem paciência para esperar os frutos bons de cada um de nós. a história é o tempo para crescermos no bem e na bondade e para nos amadurecermos como filhos e filhas de Deus.  Primordialmente, somos bons porque tudo o que Deus criou era bom (cf. Gn 1,1ss). Deus aguarda a colheita, não diminuída por prematuras intervenções de escolha. Só então, no fim, haverá a colheita, com base na realidade de ser grão ou joio/cizânia, peixe bom ou mau, de ser caridoso ou egoísta. É uma advertência eficaz, embora tácita: Deus é paciente com todos e deixa aos pecadores, cada um de nós, tempo para amadurecer sua conversão; Deus sabe esperar a livre decisão do homem, cabe a cada um escolher ser bom grão e bom peixe e não peixe imprestável.


Portanto, é prudente premunir-se, pensar enquanto é tempo, decidir-se a fazer o bem, ser útil aos outros, ser peixe bom, ser selecionado por Deus no fim de nossa história.

P. Vitus Gustama, SVD

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