LUTAR PARA SER BOM PARA SER
SELECIONADO POR DEUS NO FIM DA HISTÓRIA
Quinta-Feira da XVII Semana Comum
31 de Julho de 2014
Evangelho: Mt 13, 47-53
Naquele
tempo, disse Jesus à multidão: 47 “O Reino dos Céus é ainda
como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48
Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e
recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. 49
Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus
dos que são justos, 50 e lançarão os maus na fornalha de
fogo. E aí, haverá choro e ranger de dentes. 51 Compreendestes
tudo isso?” Eles responderam: “Sim”. 52 Então
Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo mestre da Lei, que se torna discípulo do
Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e
velhas”. 53 Quando Jesus terminou de contar essas parábolas,
partiu dali.
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Estamos ainda no discurso de Jesus
sobre o Reino de Deus em parábolas (Mt 13). Desta vez Jesus conta uma parábola
sobre a rede na pescaria em que no fim haverá a seleção entre os peixes bons e
os peixes que não prestam: “Quando está cheia, os pescadores
puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e
jogam fora os que não prestam”.
Na vida cotidiana sempre
selecionamos e escolhemos o que é bom ou o que é melhor. Selecionamos boas amizades. Selecionamos algo
de bom ou de melhor para comprar, para comer, para morar, selecionamos roupa
melhor, e assim por diante. Vivemos selecionando o que é bom ou o que é melhor.
O bom ou o melhor é sempre o objeto do apetite ou do desejo do homem, qualquer
que seja esse objeto. O ruim é, ao contrário, o objeto de ódio ou de aversão do
homem. Mas nem tudo o que desejamos é bom, mas tudo o que é bom sempre
desejamos. A bondade atrai, pois ela agrada e edifica. A bondade é a própria
perfeição possuída por um ser. Por possuir a bondade, um ser que a tem é capaz
de dar a outro a perfeição que lhe falta.
Quando Jesus compara o Reino de Deus
a uma rede que é lançada sobre todos, mas que só os peixes bons são
selecionados, ele está dizendo que se trata de uma coisa seletiva, em que a
bondade é que tem valor e permanece para sempre. A bondade é sinal de
amabilidade. Quem ama porque é bom. Quem é bom, ama. A bondade é algo que em si tem algo divino,
pois Deus é a Bondade por excelência. Por isso, a bondade tem uma marca de
eternidade.
Os maus, ao contrário, vão fazer
parte de outro reino, onde as pessoas somente vão odiar-se, segundo Jesus. A
expressão: “Chorar e ranger os dentes” mostra bem como é a pessoa que odeia:
vive como que rangendo os dentes. Eternamente infeliz. A frustração definitiva
do homem (pranto e ranger de dentes) é perder a vida para sempre. A grande
frustração do homem é sua incapacidade de viver na bondade, no bem, na
compaixão, na simplicidade, na solidariedade. A bondade atrai. A simplicidade
atrai. A arrogância, a prepotência, o orgulho, o complexo de superioridade
afasta as pessoas e mata a caridade e a igualdade, elimina a comunhão fraterna
e afasta os demais. Qualquer arrogante, prepotente, orgulhoso, ambicioso vive
na tremenda solidão. Viver é conviver. Através da convivência saudável é que
podemos crescer como seres humanos. Até a própria vulnerabilidade da
convivência nos ajuda a crescermos como pessoas saudáveis.
A parábola da rede lida neste dia se
refere ao julgamento final. A imagem da pesca ilustra a dinâmica do Reino de
Deus feita de perdas e ganhos. Uma vez a rede lançada ao mar, a pescaria já não
depende da vontade do pescador. Cada lançada de rede é uma surpresa. A seleção
será feita somente no final da pescaria, quando os peixes bons são colocados em
cestas, enquanto os maus são jogados fora.
A parábola propõe a todos nós a
sorte final, para orientar-nos na decisão presente. Quando soubermos para onde
vamos, saberemos também escolher por onde devemos caminhar (saber escolher o
caminho). Os únicos que chegam à vida em plenitude, pela misericórdia de Deus,
são os que produzem fruto bom nesta vida; são os que em si tem a marca de
eternidade como a bondade, o amor, a compaixão, a solidariedade e assim por
diante. Tudo que tem algo divino em mim e na minha
vivência será reconhecido por Deus (cf. Mt 25,31-46). A sabedoria cristã
consiste no discernimento dos verdadeiros valores do Evangelho como amor,
partilha, solidariedade, compaixão, perdão, honestidade, justiça, paz etc., e
em sua aplicação para as circunstâncias atuais. Há que estabelecer uma escala
de valores para que cada cristão possa orientar sua maneira de viver no
presente. Os outros valores devem estar subordinados em função dos valores
superiores do Reino de Deus.
Mas ao mesmo tempo, esta parábola
quer nos recordar que somente Deus tem a competência na seleção entre os bons e
os maus no fim de cada história. Cristão nenhum tem condições para classificar
quem vai para o céu e quem não vai para lá, pois sua própria salvação ainda não
está garantida, pois ele continua sendo pessoa capaz de pecar em qualquer
momento. É preciso olharmos para cada ser humano como filho(a) de Deus e nosso
irmão. Como dizia Santo Agostinho: “Amando ao próximo tu limpas os olhos
para ver a Deus” (In Joan. 17,8). Quanto mais santo for o homem,
mais se reconhecerá como pecador. A conversão não é uma carreira acabada. A
conversão é diária, pois somos capazes de optar por outros valores em nome de
algum interesse não-cristão. Deixemos Deus determinar a qualidade de cada um e
não nos arroguemos pelas qualidades que temos, pois tudo de bom em nós tem sua
origem no Supremo Bem que é Deus. Tudo de bom em nós deve ser partilhado para
com os outros. Fazemos tudo de bom, porque Deus da bondade faz isso. “Faze o
que deves fazer. E faze-o bem. Esta é a única norma para alcançar a perfeição”,
dizia Santo Agostinho (In ps. 34,2,16). Somos prolongamento da
generosidade do Deus-Criador que criou tudo para o bem da humanidade
gratuitamente. Temos apenas o direito de usufruto. Esse direito cessará neste
mundo cessará quando terminar nossa caminhada na história.
Deus tem paciência para esperar os
frutos bons de cada um de nós. a história é o tempo para crescermos no bem e na
bondade e para nos amadurecermos como filhos e filhas de Deus. Primordialmente, somos bons porque tudo o que
Deus criou era bom (cf. Gn 1,1ss). Deus aguarda a colheita, não diminuída por
prematuras intervenções de escolha. Só então, no fim, haverá a colheita, com
base na realidade de ser grão ou joio/cizânia, peixe bom ou mau, de ser
caridoso ou egoísta. É uma advertência eficaz, embora tácita: Deus é paciente
com todos e deixa aos pecadores, cada um de nós, tempo para amadurecer sua
conversão; Deus sabe esperar a livre decisão do homem, cabe a cada um escolher
ser bom grão e bom peixe e não peixe imprestável.
Portanto, é prudente premunir-se,
pensar enquanto é tempo, decidir-se a fazer o bem, ser útil aos outros, ser
peixe bom, ser selecionado por Deus no fim de nossa história.
P. Vitus Gustama, SVD
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