Quinta-Feira da XV Semana Comum
17 de Julho de 2014
Evangelho: Mt 11,28-30
Naquele tempo, tomou Jesus a palavra
e disse: 28 “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso
dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. 29 Tomai sobre vós o meu jugo e
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis
descanso. 30 Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
_______________
“Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos
vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo... Pois o
meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
“Vinde a mim!”. Jesus nos convida a
sairmos de nosso canto para o espaço maior, a sairmos de nosso pequeno
horizonte para o horizonte maior. “Vinde a mim!”. É preciso caminharmos ao
encontro de Jesus para aprender dele como devemos viver. A vida é uma
caminhada. Caminhando criamos o caminho e aprendemos a ver mais coisas no
caminho. “Vinde a mim!”. A vida é uma saída ao encontro do Senhor e ao encontro
do irmão. “Vinde a mim!” é um convite do Senhor para sairmos de nosso
isolamento para a comunhão de vida com Jesus juntamente aos nossos irmãos da
mesma jornada: ”Quando a vida
interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros,
já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce
alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco,
certo e permanente, que correm também os crentes” (Papa Francisco: Carta Encíclica
Evangelii Gaudium no.2) .
“Vinde a mim” é o convite de Jesus
para nos encontrarmos com ele a fim de vivermos na alegria da Boa Nova: “A
alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram
com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da
tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem
cessar a alegria” (Papa Francisco: Carta Encíclica Evangelii Gaudium
no.1).
De que fardo Jesus fala neste
texto? Quem são os “cansados e fatigados” neste texto? Trata-se aqui da
opressão moral e religiosa, provocada pelo formalismo de uma religião estéril e
de um moralismo legalista. Os “cansados e fatigados sob o peso dos vossos
fardos” aqui são os pobres e famintos, ignorantes e pequeninos, os míseros e os
doentes. O legalismo é sufocante, é uma moral sem alegria. Assim, a religião
fica longe de ser motivo de liberdade e alegria, pois ela é reduzida a uma
carga pesada. O ser humano se torna animal, pois a quem se impõe “jugo” e
“carga”, se não aos animais?
Pelo contrário, o cristianismo e a
moral cristã não são uma imposição. A lei de Cristo é amor (Jo
13,34-35;15,12), libertação; é lei de liberdade,
lei do Espírito que dá vida, lei de relação filial com Deus, nosso e amigo da
vida. Ao lado de Cristo, todas as fadigas se tornam amáveis e tudo o que
poderia ser mais custoso no cumprimento da vontade de Deus se suaviza. Quem se
aproxima de Jesus, encontrará repouso para suas aflições. Jesus veio,
certamente, para libertar o ser humano de todo tipo de escravidão, mostrando-se
manso e humilde de coração e recusando-se a multiplicar normas religiosas.
Jesus reduziu tudo ao essencial: amor e misericórdia. A religião torna-se,
assim, prazerosa por respeitar a liberdade e por ser humanizadora. “Onde só
o amor serve e não a necessidade, a escravidão se torna liberdade”, dizia
Santo Agostinho (In ps. 99,8).
Para tudo isso se tornar possível,
há uma chave principal: o amor, tanto como um dom recebido de Deus, pois ele
nos amou primeiro (1Jo 4,19), como uma responsabilidade, como Cristo que se dá
a si mesmo a Deus e aos irmãos. Quem ama não sente a lei de Cristo como uma
obrigação pesada. Pela experiência sabemos que quando se ama de verdade muitas
coisas se tornam fáceis e suportáveis que seriam difíceis e até insuportáveis
sem o amor. Ir para Jesus é descarregar o fardo aos seus pés, olhá-lo nos
olhos, renunciando às nossas pequenas idéias sobre a questão e preferindo seu
pensamento ao nosso.
“... aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração...”(v.29). Quem é humilde? Quem é manso?
Jesus se fez pequeno entre os
pequenos e é afável, pobre, humilde e simples em seu comportamento. Põe-se
junto aos pequenos, aos que ele sente como sua família e assim, quer caminhar
vivendo de toda Palavra que sai da boca de Deus. A simplicidade aproxima as
pessoas e as pessoas se aproximam dos simples e humildes sem dificuldade. "Ser humilde com os superiores é uma obrigação,
com os colegas uma cortesia, com os inferiores é uma nobreza”, dizia Benjamin
Franklin.
Ser humilde não é ser tímido; não é
aquele que fica no cantinho por medo de se comunicar com os outros ou por medo
da multidão e assim por diante. Muito menos é aquele que simula a humildade,
pois “Simular humildade é a maior das soberbas”, dizia Santo Agostinho (De
sanc. virg. 43,44). O orgulho é como o mau hálito, todos percebem, exceto quem
dele padece.
O humilde é aquele que tem noção da própria capacidade e da própria fraqueza e
limitações e está aberto totalmente a Deus e para qualquer crescimento no bem.
"Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da
grandeza", dizia Rabindranath Tagore.
A palavra “humildade” deriva do
latim: “humilis”, que por sua vez, deriva de “humus” que significa “chão”,
“terra”. Humildade é aquele que se acha bem consubstanciado com a terra. É
aquele que tem os pés bem firmes no chão. É aquele que pisa firme, com
segurança e confiança em si mesmo. A partir da humildade não se despreza, nem
se teme ninguém. O “húmus” é a parte nutritiva da terra que possibilita o
crescimento de uma planta. Da mesma maneira, a humildade é refúgio e alimento
do ser. A humildade possibilita crescimento para quem a tem. É na humildade e
da humildade que germinam nossos autênticos valores. Só a partir da humildade é
possível trilhar a infinita e misteriosa caminhada do conhecimento de si mesmo
e de se crescimento. O humilde reverencia o sagrado, pois ele se reconhece “terra”,
“pó”, mas é “pó” vivente por causa do hálito que é soprado nele pelo Criador
(cf. Gn 2,7; Jo 20,22).
“Aprendei de mim por que sou manso de
coração”, convida-nos o Senhor. O manso é a pessoa boa nas relações com os
outros. Jesus se proclama o Mestre “manso e humilde de coração”, pois ele é
totalmente aberto a Deus e bom com os outros a ponto de compartilhar de sua
existência. A “mansidão” é fruto do Espírito (Gl 5,23) e é sinal da presença da
sabedoria do alto (Tg 3,13.17). A mansidão é a virtude a ser invocada e
conquistada por quem pretende seguir fielmente a Jesus manso.
Todos nós sabemos como é fácil combater a ira
com a ira, a cólera com a cólera, a raiva com a raiva. A mansidão, pelo
contrário, rompe esse círculo vicioso, cumprindo aquilo que é justo diante de
Deus. A mansidão é a força que resiste e domina a ira. A mansidão é a virtude
que modera a ira e conserva a caridade. Quem a possui é amável, prestativo e
paciente. Até os pecadores e os ateus mais endurecidos não resistem diante de
quem tem a virtude de mansidão. A um coração manso e humilde como o de Cristo,
os homens se abrem. Por isso, a mansidão não é característica dos fracos; pelo
contrário, ela exige uma grande fortaleza de espírito. Aquele que é dócil a
Deus, é manso para com os outros. A mansidão é a arma dos fortes. A mansidão
sabe esperar o momento oportuno e matiza os juízos e impede que falemos ou
comentemos precipitadamente os acontecimentos e as pessoas e impede que usemos
palavras ferinas. Da falta dessa virtude provêm as explosões de mau humor,
irritação, frieza, impaciência, violência e ódio entre as pessoas que vão
corroendo gradativamente amor. Não há vida que seja tão vazia do que uma vida
sem amor, pois “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16).“Não basta o trabalho sem a
piedade; não basta a ciência sem a caridade; não basta a inteligência sem a
humildade; não basta o estudo sem a graça”, dizia São Boaventura.
O problema grave que temos não é o
cansaço produzido pela fatiga e sim o desgaste ocasionado pela falta de
motivações na vida. A grande enfermidade de nosso tempo é este “cansaço
existencial” que muitas vezes conduz a pessoa à depressão. Mas não podemos nos
esquecer que temos um amigo: Jesus Cristo, que nos convida a irmos ao seu
encontro para que tenhamos novamente uma vida cheia de força, amor e ânimo para
seguir adiante.
Jesus nos convida a assumirmos uma
nova forma de viver a vida, longe de legalismo inútil e sufocante. A ética de
Jesus se resume em um incondicional amor ao próximo como fruto de uma
experiência de Deus como Pai. Quem ama não sente a lei de Cristo como uma
obrigação pesada. Quem ama, a oração se torna prazerosa.
“...
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis
descanso”
(Mt 11,29). O modo de viver de Jesus e o de tratar ao povo com compaixão e
misericórdia nos indica claramente que Jesus é a revelação suprema da mansidão
de Deus (cf. Is 42,1-4). Por isso, Jesus é a fonte da nossa mansidão: “... aprendei
de mim, porque sou manso e humilde de coração...” (v.29).
Imitar Jesus na sua mansidão é o
remédio contra as nossas irritações, impaciências e falta de cordialidade e de
compreensão. Esse espírito sereno e acolhedor somente alcançaremos, se
procurarmos permanecer em Jesus, revelação e fonte da mansidão, como ele sempre
está com o Pai.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário