TRABALHAR EM FUNÇÃO DA
DIGNIDADE DO SER HUMANO E SUA SALVAÇÃO
Sexta-Feira da XV Semana Comum
18 de Julho de 2014
Evangelho:
Mt 12,1-8
1 Naquele tempo, Jesus passou no
meio de uma plantação num dia de sábado. Seus discípulos tinham fome e
começaram a apanhar espigas para comer. 2 Vendo isso, os fariseus disseram-lhe:
“Olha, os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido fazer em dia de
sábado!” 3 Jesus respondeu-lhes: “Nunca lestes o que fez Davi, quando ele e
seus companheiros sentiram fome? 4 Como entrou na casa de Deus e todos comeram
os pães da oferenda que nem a ele nem aos seus companheiros era permitido
comer, mas unicamente aos sacerdotes? 5 Ou nunca lestes na Lei, que em dia de
sábado, no Templo, os sacerdotes violam o sábado sem contrair culpa alguma? 6
Ora, eu vos digo: aqui está quem é maior do que o Templo. 7 Se tivésseis
compreendido o que significa: ‘Quero a misericórdia e não o sacrifício’, não
teríeis condenado os inocentes. 8 De fato, o Filho do Homem é senhor do
sábado”.
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Com este capitulo (Mt 12) começam
as controvérsias entre Jesus e os fariseus. Desta vez a controvérsia gira em
torno da observância do Sábado.
A observância do Sábado era entre
os principais mandamentos. Era tão importante como todos os mandamentos juntos.
Todo trabalho era proibido (cf. Dt 5,14). Tinha uma lista de 39 trabalhos
proibidos no Sábado. E cada um desses 39 trabalhos proibidos se desdobrava em
mais seis, ao todo 234 atividades proibidas. Transgredir o Sábado podia levar o
acusado à condenação. A punição prevista chegava à pena de morte (cf. Ex
31,12-17; 35,1-3). Durante o exílio na Babilônia observar o Sábado era um sinal
da identidade israelita entre os gentios.
Na verdade inicialmente observar o
Sábado tinha como finalidade o descanso humano, para celebrar a libertação
humana (interpretação da tradição deuteronomista. Cf. Dt 5,12-15). Mais tarde na
tradição sacerdotal (cf. Ex 20,8-11), o descanso sabático tinha como finalidade
imitar o repouso de Deus ao findar-se a obra da Criação. Com essa interpretação
o Sábado passou a ser considerado como dia a ser “santificado”, dedicado a Deus
e ao culto.
Na verdade, ao comentar Ex 31,13-14
os rabinos permitiam realizar trabalho em Sábado, se fosse em função de
socorrer alguém em extremo perigo de vida. Eles diziam: “O homem não foi feito
para o mundo, mas o mundo para o homem”. Ou: “O Sábado foi entregue a vós, não
vós ao Sábado” (Simeão ben Menaxa, em 180 a.C, na época dos Macabeus). Na mesma
linha está o Segundo Livro dos Macabeus: “Não foi por causa do Lugar que o
Senhor escolheu o povo e sim por causa do povo, o Lugar” (2Mc 5,19).
Na interpretação dos fariseus sobre
a observância do Sábado o que conta é a Lei. Os fariseus julgam o atuar humano
a partir da lei e o julgam sob o aspecto que afeta a um preceito determinado,
não a lei em seu conjunto. Os fariseus sabem que no Sábado pode-se comer, mas
não se pode “colher”. Para eles cortar as espigas é colher. Logo este ato é
considerado como trabalho e por isso, é proibido. Daí a pergunta deles: “Olha,
os teus discípulos estão fazendo o que não é permitido fazer em dia de sábado!”.
Ama menos quem se preocupa apenas com a lei e não com a dignidade do ser
humano.
Jesus, na sua interpretação sobre a
observância do Sábado, destaca a importância máxima do ser humano. Toda a
atividade de Jesus tem como centro o ser humano e sua salvação. Para Jesus o
que conta é o homem. Em nome da importância máxima do homem Jesus cita o
profeta Oseías: “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Os 6,6). Com
esta citação Jesus destaca a dignidade do homem diante de Deus. Em nome de um
ser humano necessitado de libertação e de salvação Jesus é capaz de
“transgredir” uma lei por mais sagrada que ela pareça ser, como o Sábado. Em nome
do ser humano por amor Deus Pai enviou Seu Filho unigênito a fim de salvar a
humanidade (cf. Jo 3,16). Em nome do ser humano e sua salvação, Jesus aceita
ser perseguido, crucificado e morto. O preço de nossa salvação é o sangue de
Jesus derramado na Cruz. Ao olhar para a Cruz de Jesus sabemos logo o quanto
Jesus nos amou. E o mesmo Jesus continua se oferecendo como alimento para todos
os seus seguidores, pois Ele continua nos amando. Por isso, ao participar da
Eucaristia sabemos o quanto Jesus nos ama, pois Ele nos alimenta com seu
próprio Corpo para podermos fazer nossa caminhada rumo à comunhão plena com
nosso Deus e para que sejamos vida para os outros. A Eucaristia é nosso
“Viático”, isto é, nosso alimento para nossa viagem nesse mundo rumo ao
encontro derradeiro com Deus.
Por causa da grandeza do homem e de
sua dignidade entre outras criaturas o Salmista fez a seguinte oração: “Quando
contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá
fixastes: Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos
de Adão, para que vos ocupeis com eles? Entretanto, vós o fizestes quase igual
aos anjos, de glória e honra o coroastes. Destes-lhe poder sobre as obras de
vossas mãos, vós lhe submetestes todo o universo” (Sl 8,4-7).
“Que é o homem de quem cuidas Tu,
Senhor? Um ponto de poeira num cosmos de luz. (...) Sorrio em reconhecimento
quando vejo que fizeste de mim o rei da tua criação, inferior, tão-somente, a
Ti mesmo. Conheço a minha pequenez e a minha grandeza, a minha dignidade e a
minha insignificância... Grande é o Teu Nome, ó Senhor, por toda a terra” (Carlos G. Valles. Busco Tua Face, Senhor: Salmos para contemplação.
Ed.Loyola).
Sao Boaventura colocou na boca de
Deus as seguintes palavras sobre o ser humano: "Quando te criei, pus
sobre tua fronte a imagem da minha divindade, adaptei-me à imagem da tua
humanidade quando te quis redimir; tu, pois, que cancelaste a imagem da minha
divindade, impressa na tua fronte quando foste criado, retém ao menos na mente
a imagem da tua humanidade, impressa em mim quando quis redimir-te; se não
soubeste ficar qual tal te criei, sabe ao menos reter-me como eu fiz quando de
novo te criei".
“Quero a misericórdia e não o sacrifício”,
diz-nos Jesus hoje. O culto e a vida, a oração e a convivência fraterna devem
andar de mãos dadas. Trazemos nossa vida para nossa oração e levamos para a
vida nossa oração na convivência fraterna.
Toda a atividade na Igreja do
Senhor está em torno das pessoas e não em torno do trabalho. Na Igreja do
Senhor, jamais pode ser colocada a pessoa de lado em função do trabalho. Trabalhamos
na Igreja em função das pessoas e sua salvação e não em função do próprio
trabalho. As pastorais e os movimentos existem para alcançar esse objetivo. Por
isso, a seguinte pergunta permanece como um alerta: Se Jesus coloca o ser
humano como o centro de sua atividade, qual é o lugar do homem, das pessoas nas
nossas atividades pastorais e profissionais? “Quero a misericórdia e não o
sacrifício”.
P.Vitus Gustama, SVD
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